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Queda nos depósitos
motivou alta das taxas
CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM
A queda no ritmo de crescimento dos depósitos bancários desde
o início do ano esteve entre as razões que levaram o Banco Central
da China a subir os juros desde
ontem, no primeiro aumento da
taxa desde 1995.
Com a inflação próxima de 5% e
a remuneração de depósitos de
um ano em 1,98%, a taxa de juros
estava negativa e aqueles que optavam por deixar recursos no sistema financeiro estavam perdendo dinheiro.
O aumento em 0,27 ponto percentual vai elevar os juros sobre
os depósitos de um ano para
2,25%, o que ainda manterá a taxa
em um nível inferior ao da inflação. Mas analistas acreditam que
o movimento da autoridade monetária foi um alerta para os que
estão retirando recursos dos bancos e aplicando principalmente
no setor imobiliário.
"A taxa de juros na China vinha
caindo há nove anos e a inflação
está mais alta do que os juros dos
financiamentos imobiliários", diz
Andy Xie, economista-chefe do
Morgan Stanley na China. "O aumento da taxa vai lembrar as pessoas que suas dívidas imobiliárias
também podem subir, o que vai
ajudar a reduzir a especulação
imobiliária", acrescenta.
A taxa de crescimento dos depósitos bancários caiu por sete
meses consecutivos, de 20,5% em
janeiro para 15,3% em agosto deste ano. Isso significa que cerca de
US$ 17 bilhões deixaram de ser
poupados pelos chineses e se
transformaram em investimentos, o que ajudou a manter as altas
taxas de expansão do PIB.
O destino preferido desses recursos é o setor imobiliário, que
muitos analistas acreditam estar
envolto em uma "bolha especulativa" cujo estouro poderá ter conseqüências imprevisíveis sobre a
economia chinesa.
A grande aposta agora é saber se
o Banco Central adotará novas altas na taxa de juros no curto prazo. Jonathan Anderson, economista-chefe do UBS na China, não
acredita que a decisão anunciada
anteontem é o início de uma série
de ajustes nos juros, mas não descarta novo aumento de até 0,50
ponto percentual se a inflação
continuar em alta. De julho a setembro, o Índice de Preços ao
Consumidor foi de cerca de 5%,
acima das expectativas oficiais.
Outros aumentos virão
Xie acredita que a alta é a primeira de "muitas que virão". Para
ele, a China vai seguir os passos
do Federal Reserve (o BC norte-americano) no que diz respeito à
elevação dos juros nos próximos
meses. "Esse caminho oferece a
melhor chance para a China conseguir um "soft-landing'", afirma
Xie, em referência à redução sem
traumas da atividade econômica
desejada pelo governo.
O economista Michael Pettis,
professor de Finanças Internacionais da Universidade de Pequim,
afirma que é difícil prever o impacto que a alta dos juros terá sobre a economia, pela falta de referências históricas.
"Não temos antecedentes para
fazer essa análise. É a primeira vez
que eles aumentam a taxa de juros
em nove anos e nove anos atrás a
China era um país totalmente diferente", ressalta Pettis.
Na sua opinião, a alta dos juros
levanta dúvidas sobre a confiabilidade dos números que o governo
vem apresentando para demonstrar o sucesso de sua estratégia na
busca de um "soft-landing". Afinal, se a política estava funcionando, como repetia o discurso oficial, por que subir a taxa de juros?,
indaga o economista.
Reduzir a evasão de recursos do
sistema financeiro pode ser uma
das razões, afirma. Porém Michael acrescenta que a elevação
dos juros poderá ter o efeito de
atrair mais capital estrangeiro especulativo para a China, já que investir no sistema financeiro do
país ficará mais lucrativo.
Esse movimento aumentaria a
quantidade de dinheiro em circulação na economia e colocaria
pressão sobre a atividade econômica, exatamente o oposto do desejado pelo governo, diz.
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