São Paulo, domingo, 30 de outubro de 2005

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Pecuarista quer união continental contra a aftosa

Antônio Gaudério/Folha Imagem
O empresário Luiz Meneghel Neto, que defende a integração de países no combate à febre aftosa


JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA (PR)

O empresário Luiz Meneghel Neto, 49, um dos maiores pecuaristas do Sul do país, defendeu a integração de países da América dos Sul no combate à febre aftosa.
"Não dá para um país continental como o Brasil, com fronteira seca com vários outros países, pensar na erradicação da febre aftosa sem uma ação conjunta com nossos vizinhos", disse Meneghel.
Ele comanda um grupo familiar com 40 mil hectares em lavouras e pecuária nos Estados do Paraná, de Santa Catarina e de Mato Grosso do Sul. Criador de limousin (gado europeu), nelore de elite e gado comercial, Meneghel possui um plantel de 30 mil cabeças nos três Estados.
Só com um pequeno plantel de 15 cabeças de nelore de elite, colocados em quarentena em Toledo (oeste do PR) após a confirmação do foco de aftosa no país, Meneghel tem retido R$ 1,2 milhão.
"Esses animais foram retidos porque a feira de Toledo tinha gado de Mato Grosso do Sul. O prejuízo financeiro será pequeno comprado à perda genética, caso os animais tenham de ser sacrificados." Meneghel também expôs 15 animais da raça limousin na Eurozebu, de Londrina (norte do PR), realizada de 1º a 9 deste mês, no mesmo período em que ocorreu o leilão Dez Marcas, suspeito de disseminar a doença de Mato Grosso do Sul para o Paraná.
"Os prejuízos financeiros deste ou daquele produtor com a aftosa são importantes. Mas o prejuízo maior, e isso é imensurável, é com a imagem da carne brasileira no mercado internacional e com as perdas genéticas com o sacrifício dos animais. Precisamos mobilizar os países vizinhos em um planejamento integrado para a erradicação da febre aftosa."
Meneghel cobrou do governo federal mais flexibilidade para a compra de vacinas. "Hoje, a venda de vacinas é autorizada só em épocas de campanha. O governo deveria ser inflexível na exigência da vacinação, mas deveria flexibilizar a compra de vacinas fora das épocas de campanha", disse.
"Eu mesmo poderia planejar vacinas a cada quatro meses em minhas propriedades, imunizando os animais jovens que nascem fora dos períodos de campanha. Na maioria dos Estados brasileiros, as vacinações ocorrem nos meses de maio e novembro. Em Mato Grosso do Sul, existe uma campanha extra no mês de fevereiro", completou.
Meneghel disse ser uma "ilusão" imaginar que um país da dimensão do Brasil, com diferenças sociais entre produtores e com a existência de animais silvestres vetores da doença (como cervos e capivaras), consiga chegar ao estágio de estar livre da necessidade de vacinação.
"Vamos ter de vacinar. E é preciso menos burocracia e mais agilidade dos governos estaduais e federal para que o Brasil vacine sempre e bem o seu rebanho", afirmou o empresário.

Demora
O produtor criticou ainda a demora da Secretaria de Defesa Agropecuária, órgão do Ministério da Agricultura, em alertar sobre a existência do foco de febre aftosa em Eldorado (MS).
"O governo tinha a informação de foco em 26 de setembro. Não dá para admitir que tenha demorado tanto para fazer o alerta", disse Meneghel.
A Folha apurou que setores ligados à Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne) tinham informação da ocorrência de aftosa na região de Eldorado já no final de agosto. A comunicação oficial da ocorrência só ocorreu no dia 10 deste mês.


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