São Paulo, segunda-feira, 30 de outubro de 2006

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Instalação e vídeo reduzem seguro na Bienal

Baixo custo e quantidade menor de obras diminuem gasto com apólice em mostra de artes de SP em relação à de 2004

Instalações criadas para o evento e que serão destruídas depois e cópias do original em vídeo ajudam a cortar valor do seguro

JOANA CUNHA
DA REPORTAGEM LOCAL

O valor cobrado pelo seguro das obras da 27ª Bienal Internacional de São Paulo foi mais baixo do que o da última mostra, de 2004. O valor total das obras expostas também foi menor. A diferença pode ser explicada pela maior quantidade de instalações apresentadas neste ano.
A AGF, que fez o seguro de cerca de 90% das obras desta exposição -o restante já possuía seguro-, não declara o valor da apólice. A redução chega a ser de 20%, segundo André Vidigal, corretor da consultoria de seguros KEF, que trabalhou no seguro desta Bienal e da última. Ele afirma que as causas da redução foram a maior quantidade de artistas novos e o baixo custo das obras, especialmente instalações.
Segundo ele, os vídeos também contribuem para a queda no valor do seguro, já que são expostas as cópias do trabalho original. Outra causa foi o menor número de pinturas, que, quando danificadas, exigem processos de restauração mais custosos para a seguradora.
A avaliação do risco a que as obras ficam submetidas em exposições dessa dimensão é feita "prego a prego", ou seja, a seguradora considera qualquer possibilidade de lesão desde que a peça deixa a parede do proprietário até o momento em que ela volta para sua origem. No caso das instalações, o risco de danos é menor, pois a maioria é construída no próprio espaço, e muitas serão destruídas quando terminar o evento.
Para chegar ao valor final do seguro, o consultor analisa o número de visitantes que o evento receberá, as condições de segurança, acondicionamento e transporte das obras, a especialização das companhias marítimas, se os caminhões são rastreados, a montagem e desmontagem da exposição e outros fatores. A seguradora recebe a análise do corretor e faz o cálculo atuarial do risco.
Para o presidente da Fundação Bienal, Manuel Francisco Pires da Costa, a redução do seguro é natural. "A opção da curadoria foi por obras contemporâneas, particularmente as instalações, que têm um valor inferior. Na 26ª havia mais telas. É a justificativa maior."
Neste ano, 32 artistas apresentam vídeo, 57 participam com instalação ou escultura e só 20 enviaram pintura ou desenho para a Bienal.
Para Ana Cristina Miranda, especialista em aspectos mercadológicos da arte, da USP, a própria arte contemporânea impõe dificuldade para a avaliação. "É uma Bienal indagadora, de idéias. Seguro de idéias é complicado, é intangível", diz.
Outro aspecto que explica o menor valor, segundo Elvira Vernaschi, presidente da ABCA (Associação Brasileira dos Críticos de Arte), é a "efemeridade" das obras. Muitas foram criadas especificamente para o espaço da 27ª Bienal e não serão usadas em outra ocasião.
Até agora, só houve um incidente para a seguradora da Bienal. No dia 12, quando a mostra recebeu 23.273 visitantes, uma das obras do artista mexicano Damian Ortega foi derrubada. Segundo André Vidigal, a recuperação deve custar cerca de US$ 5.800 para a seguradora.


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