São Paulo, quarta-feira, 30 de novembro de 2005

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FREADA

Com queda maior que o esperado no 3º trimestre, presidente pede defesa da política econômica e teme reação de Alencar

Lula pede união diante de recuo do PIB

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

Diante do resultado negativo da economia no terceiro trimestre, que deverá ser divulgado hoje pelo IBGE, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu aos ministros que defendam a política econômica e o governo. A determinação do Palácio do Planalto é que o desempenho do PIB (Produto Interno Bruto), índice que mede a produção nacional, nesse período, seja tratado como "um ponto fora da curva".
O número repassado antecipadamente ao presidente foi recebido com muita preocupação. As indicações são que o valor negativo deverá ser pior do que as projeções do mercado financeiro e podem até mesmo ter ficado abaixo de -0,5%. Com isso, a política econômica do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, enfrentará hoje um dos testes mais difíceis dos últimos meses.
Na expressão de um membro da equipe econômica, o dado negativo é "bastante duro" e provocou "um susto". Assim que soube, Lula conversou com seus principais assessores para definir uma estratégia que se contraponha aos discursos contra a política econômica que farão coro não só entre a oposição mas também entre autoridades do próprio governo.
Na avaliação de integrantes do governo, o mais difícil de controlar nessa situação deverá ser o vice José Alencar. Crítico contumaz da política comandada pelo ministro Palocci, Alencar alega que os juros altos sacrificam a economia desnecessariamente.
O receio é que o dado do terceiro trimestre infle ainda mais as pressões para o Banco Central acelerar a queda na taxa de juros. Apesar de os analistas de mercado insistirem em que há espaço para o BC cortar a taxa básica de juros num ritmo maior, entre 0,75 ponto percentual e um ponto percentual, os diretores do BC mantêm o gradualismo, com cortes de 0,5 ponto percentual.
Nas últimas semanas, a inflação teve uma ligeira alta por causa, especialmente, do preço dos alimentos. Inflação em alta e queda do nível de atividade são tidas como o pior dos mundos para o governo e combustível certo para ataques contra Palocci, que já anda fragilizado devido a denúncias de corrupção durante sua gestão na Prefeitura de Ribeirão Preto.
Até agora, as críticas contra a combinação de controle rígido dos gastos públicos e taxa de juros elevada acabavam sendo parcialmente minimizadas pelo desempenho da economia. O destaque ficava sempre para o controle da inflação e a retomada do crescimento econômico por oito trimestres consecutivos.
Esse discurso será adaptado depois do número que será divulgado hoje. Por isso, o presidente Lula quer enfatizar que a situação do terceiro trimestre deste ano não reflete uma reversão na tendência de crescimento econômico do país, mas, sim, "um fato isolado".
Entre os argumentos que serão usados para reforçar essa tese, está o crescimento do nível de emprego e o levantamento da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), que apontou que a política econômica adotada desde o início do governo Lula conseguiu gerar crescimento da economia com inclusão social.
De acordo com dados do Ministério do Trabalho, foi criado 1,5 milhão de vagas no mercado formal até o mês passado. Pelo levantamento do IBGE, a população ocupada cresceu 3,4% ao longo de 2005.
Já Pnad mostrou ainda que, pela primeira vez desde 1997, a renda média real dos trabalhadores brasileiros parou de cair, em 2004. Além disso, houve também aumento da quantidade de domicílios que têm esgoto, água encanada, eletricidade e coleta de lixo.
Os integrantes da equipe econômica insistem ainda no argumento de que a crise política tem uma forte contribuição para o PIB negativo no terceiro trimestre. A avaliação é que ela reduziu a confiança dos consumidores, afetando diretamente o setor de bens de consumo duráveis, como eletrodomésticos, que é muito sensível à demanda por crédito.
Outro fator que será destacado é que a indústria estava com um nível de estoque elevado. Como o consumidor se retraiu, os empresários também colocaram o pé no freio para desovar a mercadoria estocada. A agricultura, que vive um dos seus piores momentos, também teve um papel importante e há ainda o efeito defasado da política monetária. Os juros estão em queda, mas a economia sofre o efeito das altas registradas até setembro.


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