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FREADA
Com queda maior que o esperado no 3º trimestre, presidente pede defesa da política econômica e teme reação de Alencar
Lula pede união diante de recuo do PIB
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
Diante do resultado negativo da
economia no terceiro trimestre,
que deverá ser divulgado hoje pelo IBGE, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva pediu aos ministros
que defendam a política econômica e o governo. A determinação
do Palácio do Planalto é que o desempenho do PIB (Produto Interno Bruto), índice que mede a produção nacional, nesse período, seja tratado como "um ponto fora
da curva".
O número repassado antecipadamente ao presidente foi recebido com muita preocupação. As
indicações são que o valor negativo deverá ser pior do que as projeções do mercado financeiro e podem até mesmo ter ficado abaixo
de -0,5%. Com isso, a política econômica do ministro da Fazenda,
Antonio Palocci Filho, enfrentará
hoje um dos testes mais difíceis
dos últimos meses.
Na expressão de um membro
da equipe econômica, o dado negativo é "bastante duro" e provocou "um susto". Assim que soube,
Lula conversou com seus principais assessores para definir uma
estratégia que se contraponha aos
discursos contra a política econômica que farão coro não só entre a
oposição mas também entre autoridades do próprio governo.
Na avaliação de integrantes do
governo, o mais difícil de controlar nessa situação deverá ser o vice
José Alencar. Crítico contumaz da
política comandada pelo ministro
Palocci, Alencar alega que os juros altos sacrificam a economia
desnecessariamente.
O receio é que o dado do terceiro trimestre infle ainda mais as
pressões para o Banco Central
acelerar a queda na taxa de juros.
Apesar de os analistas de mercado
insistirem em que há espaço para
o BC cortar a taxa básica de juros
num ritmo maior, entre 0,75 ponto percentual e um ponto percentual, os diretores do BC mantêm o
gradualismo, com cortes de 0,5
ponto percentual.
Nas últimas semanas, a inflação
teve uma ligeira alta por causa, especialmente, do preço dos alimentos. Inflação em alta e queda
do nível de atividade são tidas como o pior dos mundos para o governo e combustível certo para
ataques contra Palocci, que já anda fragilizado devido a denúncias
de corrupção durante sua gestão
na Prefeitura de Ribeirão Preto.
Até agora, as críticas contra a
combinação de controle rígido
dos gastos públicos e taxa de juros
elevada acabavam sendo parcialmente minimizadas pelo desempenho da economia. O destaque
ficava sempre para o controle da
inflação e a retomada do crescimento econômico por oito trimestres consecutivos.
Esse discurso será adaptado depois do número que será divulgado hoje. Por isso, o presidente Lula quer enfatizar que a situação do
terceiro trimestre deste ano não
reflete uma reversão na tendência
de crescimento econômico do
país, mas, sim, "um fato isolado".
Entre os argumentos que serão
usados para reforçar essa tese, está o crescimento do nível de emprego e o levantamento da Pnad
(Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios), que apontou que
a política econômica adotada desde o início do governo Lula conseguiu gerar crescimento da economia com inclusão social.
De acordo com dados do Ministério do Trabalho, foi criado 1,5
milhão de vagas no mercado formal até o mês passado. Pelo levantamento do IBGE, a população ocupada cresceu 3,4% ao longo de 2005.
Já Pnad mostrou ainda que, pela
primeira vez desde 1997, a renda
média real dos trabalhadores brasileiros parou de cair, em 2004.
Além disso, houve também aumento da quantidade de domicílios que têm esgoto, água encanada, eletricidade e coleta de lixo.
Os integrantes da equipe econômica insistem ainda no argumento de que a crise política tem uma
forte contribuição para o PIB negativo no terceiro trimestre. A
avaliação é que ela reduziu a confiança dos consumidores, afetando diretamente o setor de bens de
consumo duráveis, como eletrodomésticos, que é muito sensível
à demanda por crédito.
Outro fator que será destacado é
que a indústria estava com um nível de estoque elevado. Como o
consumidor se retraiu, os empresários também colocaram o pé no
freio para desovar a mercadoria
estocada. A agricultura, que vive
um dos seus piores momentos,
também teve um papel importante e há ainda o efeito defasado da
política monetária. Os juros estão
em queda, mas a economia sofre
o efeito das altas registradas até
setembro.
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