São Paulo, quarta-feira, 30 de novembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

OPINIÃO ECONÔMICA

O dia 30 de novembro e a amizade Brasil e Argentina

CELSO AMORIM E RAFAEL BIELSA

A aliança estratégica entre o Brasil e a Argentina não é um imperativo do destino, mas sim um projeto político de extraordinária importância para as duas nações.
Na história das relações entre nossos países, foi preciso percorrer um longo caminho para superar as rivalidades -mais artificiais que reais- e instalar definitivamente a amizade como princípio ordenador do vínculo bilateral. A Declaração de Iguaçu, firmada pelos presidentes Sarney e Alfonsín no dia 30 de novembro de 1985, constitui um marco nesse processo de aproximação e de construção da amizade.
A construção de uma paz sólida e duradoura, a afirmação dos laços de amizade e cooperação e a consolidação, nos dois lados da fronteira, das democracias recém-recuperadas são fruto daquele acontecimento histórico. A conformação do Mercosul -o mais promissor entre os projetos de integração regional de que tenhamos participado- materializa o sentido daqueles acordos: muito mais que um mero acordo comercial, o bloco constitui um projeto audacioso e efetivo, orientado para o desenvolvimento de nossas economias e para o fortalecimento da capacidade dos dois Estados de conduzir um processo de melhoria da qualidade de vida de nossos povos. O Mercosul é, hoje, um fator de estabilidade democrática no âmbito regional e irradia poderosa força de atração a toda a América do Sul.
Neste dia 30 de novembro, 20 anos depois da Declaração de Iguaçu, os presidentes Lula e Kirchner voltam a reunir-se. Será oportunidade para firmar novos e ambiciosos acordos [ ] de complementação, nas mais diversas áreas de interesse comum.
Essas duas décadas demonstraram que as diferenças, baseadas em interesses legítimos, encontram solução em um marco de diálogo e disposição mútua de avançar, cada vez mais, na construção de uma integração plena, uma maior articulação produtiva, uma sólida base institucional.
Ao comemorar a amizade entre nossos países, celebramos o muito que já se avançou e olhamos para o futuro, sem deixar de reconhecer a necessidade de seguir trabalhando quotidianamente. A base desse esforço é a convicção de que nossa relação, mais do que estratégica, é verdadeiramente imprescindível.
Haverá outras relações estratégicas, mas a associação Brasil-Argentina é o eixo central do processo de integração sul-americana, fator decisivo de coesão e cooperação regional. Essa associação é, também, um instrumento-chave para alcançar o desenvolvimento econômico e social de nossas nações e melhorar a vida de nossos povos.
O Brasil e a Argentina acumularam, nestes anos, um considerável capital de confiança mútua, que permite uma coordenação ativa de suas ações no plano internacional. A Cúpula das Américas, realizada recentemente na cidade argentina de Mar del Plata, demonstrou os benefícios da coordenação bilateral e no âmbito do Mercosul.
A relação entre o Brasil e a Argentina é imprescindível para que, nesta parte do mundo, o sonho de um futuro economicamente próspero e socialmente justo se torne realidade tangível para todos. Se conseguirmos fortalecer ainda mais essa relação, não apenas teremos alcançado um propósito que corresponde a nossos interesses nacionais mas teremos, também, dado uma valiosa contribuição à consolidação do Mercosul e à aceleração do processo de integração sul-americana.


Celso Amorim é ministro das Relações Exteriores do Brasil e Rafael Bielsa é chanceler demissionário da Argentina.


Texto Anterior: Lula pede união diante de recuo do PIB
Próximo Texto: Tendências internacionais - Comércio: OMC deixa país pobre quebrar patente
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.