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OPINIÃO ECONÔMICA
O dia 30 de novembro e a
amizade Brasil e Argentina
CELSO AMORIM E RAFAEL BIELSA
A aliança estratégica entre
o Brasil e a Argentina não é
um imperativo do destino, mas
sim um projeto político de extraordinária importância para as
duas nações.
Na história das relações entre
nossos países, foi preciso percorrer um longo caminho para superar as rivalidades -mais artificiais que reais- e instalar definitivamente a amizade como princípio ordenador do vínculo bilateral. A Declaração de Iguaçu, firmada pelos presidentes Sarney e
Alfonsín no dia 30 de novembro
de 1985, constitui um marco nesse processo de aproximação e de
construção da amizade.
A construção de uma paz sólida
e duradoura, a afirmação dos laços de amizade e cooperação e a
consolidação, nos dois lados da
fronteira, das democracias recém-recuperadas são fruto daquele acontecimento histórico. A
conformação do Mercosul -o
mais promissor entre os projetos
de integração regional de que tenhamos participado- materializa o sentido daqueles acordos:
muito mais que um mero acordo
comercial, o bloco constitui um
projeto audacioso e efetivo,
orientado para o desenvolvimento de nossas economias e para o
fortalecimento da capacidade
dos dois Estados de conduzir um
processo de melhoria da qualidade de vida de nossos povos. O
Mercosul é, hoje, um fator de estabilidade democrática no âmbito regional e irradia poderosa
força de atração a toda a América
do Sul.
Neste dia 30 de novembro, 20
anos depois da Declaração de
Iguaçu, os presidentes Lula e
Kirchner voltam a reunir-se. Será
oportunidade para firmar novos
e ambiciosos acordos [ ] de complementação, nas mais diversas
áreas de interesse comum.
Essas duas décadas demonstraram que as diferenças, baseadas
em interesses legítimos, encontram solução em um marco de
diálogo e disposição mútua de
avançar, cada vez mais, na construção de uma integração plena,
uma maior articulação produtiva, uma sólida base institucional.
Ao comemorar a amizade entre
nossos países, celebramos o muito que já se avançou e olhamos
para o futuro, sem deixar de reconhecer a necessidade de seguir
trabalhando quotidianamente. A
base desse esforço é a convicção
de que nossa relação, mais do
que estratégica, é verdadeiramente imprescindível.
Haverá outras relações estratégicas, mas a associação Brasil-Argentina é o eixo central do processo de integração sul-americana, fator decisivo de coesão e
cooperação regional. Essa associação é, também, um instrumento-chave para alcançar o desenvolvimento econômico e social de nossas nações e melhorar
a vida de nossos povos.
O Brasil e a Argentina acumularam, nestes anos, um considerável capital de confiança mútua,
que permite uma coordenação
ativa de suas ações no plano internacional. A Cúpula das Américas, realizada recentemente na
cidade argentina de Mar del Plata, demonstrou os benefícios da
coordenação bilateral e no âmbito do Mercosul.
A relação entre o Brasil e a Argentina é imprescindível para
que, nesta parte do mundo, o sonho de um futuro economicamente próspero e socialmente
justo se torne realidade tangível
para todos. Se conseguirmos fortalecer ainda mais essa relação,
não apenas teremos alcançado
um propósito que corresponde a
nossos interesses nacionais mas
teremos, também, dado uma valiosa contribuição à consolidação
do Mercosul e à aceleração do
processo de integração sul-americana.
Celso Amorim é ministro das Relações
Exteriores do Brasil e Rafael Bielsa é
chanceler demissionário da Argentina.
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