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Governo cede e corrige tabela do IR em 3%
Sob pressão de políticos e sindicalistas, argumento da equipe econômica de que alívio tributário não tem respaldo é ignorado
Medida, admitida ontem
por Mantega, deve gerar um
benefício de R$ 1 bilhão a
contribuintes, mas complica
ainda mais o equilíbrio fiscal
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo cedeu às pressões
de políticos e sindicalistas e
concordou em corrigir novamente a tabela do Imposto de
Renda das pessoas físicas. A
medida havia sido publicamente descartada pelo ministro
Guido Mantega (Fazenda) apenas duas semanas atrás.
Pelo que foi acertado ontem
com o relator do projeto de Orçamento para 2007, senador
Valdir Raupp (PMDB-RO), haverá reajustes de 3% em 2007 e
2008, o que elevará a faixa de
isenção dos atuais R$ 1.257,12
mensais para R$ 1.294,83 no
próximo ano e R$ 1.333,68 no
ano seguinte. No período, o benefício para os contribuintes é
estimado em R$ 1 bilhão.
O índice ainda precisará ser
aprovado pelo Congresso, mas,
se houver alteração, a tendência é de alta. No ano passado,
por exemplo, foi negociada
uma correção de 7% em 2006,
que acabou sendo de 8%.
Para a área econômica, o alívio do IR não tem justificativa
técnica. A prioridade, no momento, é promover desonerações tributárias que estimulem
os investimentos privados. A
Receita Federal, particularmente, é uma tradicional adversária das correções da tabela
-um dos argumentos é que a
medida só é vantajosa para a
parcela mais rica da população.
Ontem, porém, Mantega indicou nova disposição. "Depende de outras concessões, mas é possível que o mecanismo seja
aprovado", disse, após reunião
com empresários em São Paulo. "Eu tinha argumentado contra, mas houve negociações e deve haver uma acomodação."
Poucas horas depois, o secretário-executivo da Fazenda, Bernard Appy, e o secretário da Receita, Jorge Rachid, acertaram
a correção com Raupp.
O recuo foi necessário para
minimizar perdas. Enquanto o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva e sua equipe tentam, desde o início do mês, fechar um
pacote de estímulo à economia,
o Congresso tem decidido por
conta própria elevar gastos e
reduzir receitas no Orçamento.
Nos últimos dias, Raupp já
havia anunciado a intenção de
reduzir o superávit primário (a
economia destinada ao abatimento da dívida pública), de
conceder um reajuste para o salário mínimo superior ao defendido pelo governo e de corrigir a tabela do IR.
Com a abertura de negociações com o Executivo, Raupp
concordou em reduzir sua proposta inicial para a tabela
-10% divididos nos próximos
dois anos, com renúncia fiscal
total de R$ 1,5 bilhão.
O senador também aceitou
manter a previsão de superávit
primário no Orçamento em
4,25% do PIB, ao menos até que
o governo decida se reduzirá
essa proporção para 3,75% com
a finalidade de elevar os investimentos públicos.
Segundo Mantega, como
contrapartida, o governo sugeriu ainda ao relator incluir parte da desoneração de bens de
capital e a redução do tempo
que as empresas têm que
aguardar para utilizar créditos
do PIS/Cofins em investimentos produtivos. "A gente paga
uma conta [a correção do IR],
mas tem uma vantagem do outro lado [...] Se ele [Raupp] acomodar essas coisas [os pedidos], a gente fica satisfeito."
A área econômica não conseguiu, porém, convencer Raupp
e o Congresso a reduzir o valor
do salário mínimo a partir de
maio, dos R$ 375 propostos de
início para os R$ 367 defendidos hoje. "Os R$ 375 já estão
acomodados no Orçamento",
disse o senador.
No governo, o principal defensor da correção da tabela do
IR é o ministro Luiz Marinho
(Trabalho), ex-presidente da
CUT. O argumento é que,
quando os valores da tabela se
mantêm de um ano para outro,
aumenta a carga tributária sobre os assalariados.
É verdade. A tabela é progressiva -quanto maior a renda, maior a alíquota cobrada.
Com isso, qualquer aumento
salarial, mesmo os inferiores à
inflação acumulada, significa
uma tributação maior. Com a
correção, os contribuintes irão
pagar menos imposto.
Até 1995, a tabela era corrigida pela inflação do ano anterior. A partir daí, com a inflação
controlada e a intenção de desindexar a economia, a regra foi
extinta. O governo Fernando
Henrique Cardoso manteve a
tabela congelada até 2001 -no
ano seguinte, houve uma correção de 17,5%, abaixo da inflação
de 64% acumulada no período.
Colaboraram KAREN CAMACHO , da Folha
Online, e MARCELO SAKATE , da Redação
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