São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 2006

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Dividido, Copom corta juro para 13,25%

Queda na taxa em meio ponto percentual já era esperada, mas divisão dos votos no BC sinaliza redução mais lenta em 2007

Na última reunião do ano, cinco membros do comitê votaram por corte maior, mas três defenderam queda de só 0,25 ponto percentual

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na sua última reunião de 2006, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) reduziu os juros para 13,25% ao ano -queda de 0,5 ponto percentual-, mas já aproveitou para indicar que, a partir de 2007, a taxa Selic vai cair de forma mais lenta.
Ontem, a diretoria do BC se dividiu em relação à decisão a ser tomada: cinco membros do Copom votaram pelo corte de 0,5 ponto na Selic, enquanto os outros três defenderam uma redução de 0,25 ponto.
Das 44 reuniões que o Copom promoveu no governo Lula, 36 acabaram em unanimidade. Em geral, divergências entre os diretores do Banco Central sobre a Selic dão um sinal sobre o futuro dos juros.
Em nota divulgada após o encontro de ontem, o BC se limitou a informar que, "avaliando o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação, o Copom reduziu a taxa Selic para 13,25% ao ano", por cinco votos a três. O comitê só volta a se reunir em 23 e 24 de janeiro.
Mesmo antes de anunciado o corte, a expectativa do mercado financeiro já era que o BC passasse a reduzir a Selic de forma ainda mais lenta de agora em diante. Em média, a estimativa dos analistas do setor privado é que os juros caiam para 12% ao ano até o final de 2007.
Mesmo com os últimos 12 cortes sofridos pela Selic, a taxa brasileira continua sendo a mais alta do mundo. Os juros reais -descontada a inflação- giram em torno de 8,5% ao ano.
Do lado dos preços, há vários motivos que justificam alívio nos juros. As projeções do setor privado indicam que tanto a meta de inflação deste ano quanto a de 2007 devem ser cumpridas sem dificuldades.
Segundo pesquisa feita na semana passada pelo BC, a partir de consulta a cerca de cem analistas, a expectativa é que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) registre alta de 3,15% em 2006 e de 4,10% em 2007 -em ambos os anos, a meta do governo é de 4,5%.
O BC argumenta, porém, que os juros já caíram muito desde o final de 2005, e ainda não está claro qual será o efeito dessa queda na economia. O receio, no caso, é que a inflação apresente resposta à redução da taxa Selic que não é captada pelas projeções matemáticas. Daí a necessidade de maior cautela.
Explicação semelhante é usada para defender a idéia de que um corte mais pronunciado na taxa Selic não é necessário para favorecer a recuperação do nível de atividade.
Estudos mostram que o impacto de uma variação dos juros leva até nove meses para ser sentido por completo na economia, e os diretores do BC se baseiam nessa teoria para dizer que a redução na taxa Selic promovida ao longo de 2006 será suficiente para que, em 2007, o crescimento seja mais forte.
Hoje o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulga dados sobre o PIB (Produto Interno Bruto) no terceiro trimestre do ano. A expectativa é que, neste ano, o crescimento não passe de 3%. E, embora o presidente Lula fale em uma expansão de 5% no ano que vem, as projeções médias do mercado continuam próximas de 3,5%.
"O BC deverá sinalizar na ata que pretende aumentar o grau de parcimônia no próximo encontro", afirma Elson Teles, economista-chefe da Concórdia Corretora de Valores.
O Copom reduziu os juros nas suas 12 últimas reuniões. É a série mais longa de cortes na taxa Selic desde a criação do comitê, em 1996.


Colaborou a Reportagem Local


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