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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
2002 será marcado por mobilização social global
GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA
A sucessão de crises financeiras espetaculares que teve início no final do século 20 já
não é só um fenômeno de
"emergentes". Está em curso a
mais séria inversão cíclica desde
a crise de 29. Mais ou menos 70
anos depois, o fantasma de uma
grande depressão parece cada
vez mais real.
Mas, para alguns economistas,
a crise é mais uma prova da clarividência de Nicolai Kondratieff (1892-1938). Seguindo a sua
visão de "ciclos de longo prazo",
interpretam a crise atual não como o prenúncio de uma depressão, mas como transição a um
novo ciclo, cuja fase ascendente
marcaria as próximas décadas.
Historicamente, as grandes
crises econômicas, ou seja,
aquelas que afetam todo o sistema internacional, foram acompanhadas por transformações
políticas de grande vulto. O liberalismo nasceu com a crise do
sistema mercantilista colonial.
O socialismo nasceu com as crises do capitalismo industrial.
A crise atual já se dá no "interior" de um ciclo longo de transformação da economia industrial em economia da informação (a tal da "nova economia") e
de "cyberempreendimentos".
Haverá espaço, nesse contexto, para uma nova "ideologia de
longo prazo" (o que antigamente se chamava de "utopia")?
Qual seria o tom e o roteiro de
uma forma crítica de pensamento e ação social, ou seja, fomentada pela própria crise?
É cedo para dar palpites, mas
alguns indícios tornaram-se fortes, nos últimos anos, acentuados pelos efeitos degradantes da
"globalização neoliberal". Como vetor do processo surge uma
"sociedade civil internacional",
fruto maduro do onguismo.
Essa sociedade civil planetária
desenvolve indicadores, novos
modelos de política econômica
e social, novas formas de organização da sociedade, especialmente levando em conta a solidariedade com os excluídos do
mercado. Um exemplo é o Observatório da Cidadania, representado no Brasil pelo Ibase
(www.ibase.br).
Assim como o liberalismo, o
socialismo e até mesmo o neoliberalismo nunca foram sistemas de um só autor ou vertente,
essa nova utopia de uma sociedade civil mundial é uma sopa
de idéias e tendências políticas.
Meio geléia geral, esse vetor de
um novo tempo tem endereço:
Porto Alegre, Brasil. É o Fórum
Social Mundial, cuja segunda
edição acontece daqui a um mês
(informações no site www.forumsocialmundial.org.br/).
A agenda econômica do fórum é reveladora do front nas
atuais lutas pela reconfiguração
de tendências internacionais.
Lutas que, diante de catástrofes
como a da Argentina, recolocam
em primeiro plano antigas demandas do fórum, como a luta
pelo imposto sobre movimentações financeiras transnacionais
de curtíssimo prazo.
Outros temas econômicos do
Fórum Social Mundial: comércio internacional, corporações
multinacionais, controle de capitais financeiros, dívida externa, trabalho, economia solidária, propriedade intelectual, ambiente, segurança alimentar, cidades, democratização das comunicações e da mídia, migrações, educação, organismos internacionais e arquitetura do
poder mundial, soberania, nação e Estado, luta contra o complexo militar-industrial.
A piora da economia global
promete trazer para primeiro
plano as questões sociais. A mobilização social correspondente
já tem organização política embrionária, mas com visibilidade
e projetos. Aliás, se os adeptos
de Kondratieff estiverem certos,
a reorganização da sociedade
pode ser a condição crucial para
que o potencial da nova economia comece a se realizar.
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