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CURTO-CIRCUITO
Banco estatal e elétrica fecham acordo para renegociação de débito de US$ 1,2 bi e criam nova companhia
BNDES perdoa US$ 193,7 mi em juros da dívida da AES
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
O contrato de renegociação da
dívida da AES com o BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), divulgado ontem, inclui o perdão
pelo banco de US$ 193,7 milhões
(cerca de R$ 554 milhões).
Esse valor representa os juros de
mora devidos pela empresa norte-americana por atraso no pagamento da sua dívida de US$ 1,2 bilhão (cerca de R$ 3,43 bilhões).
O valor perdoado é R$ 60 milhões maior que o empréstimo de
R$ 494 milhões que o banco acaba
de fazer à Prefeitura de São Paulo
para investimentos no sistema de
transporte coletivo. O perdão está
condicionado a que a AES não
volte a ficar inadimplente.
"Não fizemos nada diferente do
que se faz em outras operações.
Quando faz reestruturações, o
BNDES age exatamente assim",
disse o diretor da Área Financeira,
Roberto Timótheo da Costa.
O contrato faz do BNDES sócio,
em condições praticamente iguais
às da AES, da Brasiliana Energia
S.A., cabeça de um emaranhado
de 18 empresas, 5 delas com sede
nas Ilhas Cayman (paraíso fiscal).
Os ativos mais importantes da
Brasiliana são a Eletropaulo (distribuidora de energia), a AES Tietê e AES Uruguaiana (geradoras).
O banco investiu US$ 601,7 milhões para ser dono de 50% menos uma ação ordinária (com direito a voto) e mais 50 milhões de
ações preferenciais (sem direito a
voto). O BNDES terá 53,85% do
capital da Brasiliana, mas apenas
dois assentos no Conselho de Administração, contra três da AES.
Dos US$ 600 milhões restantes
da dívida, US$ 90 milhões serão
pagos à vista e US$ 510 milhões
em 11 anos, com três de carência.
Os US$ 510 milhões serão convertidos em debêntures (títulos)
para resgates progressivos pelo
banco até 2014. Se houver inadimplência, elas serão convertidas em
ações e a Brasiliana, estatizada.
A AES Tietê, considerada a jóia
dos bens da AES no Brasil, entrou
na Brasiliana sob risco de sair.
Suas ações foram dadas como garantia de empréstimo que a controlada da AES tomou de bancos
americanos. Se o empréstimo não
for pago, os bancos têm o direito
de assumir o controle da Tietê.
Em setembro, quando foi assinado o acordo para renegociar
sua dívida com o BNDES, a AES
prometeu desembaraçar a Tietê
da caução, mas não conseguiu.
O BNDES dizia que essa era
uma condição essencial, mas aceitou que a Tietê entrasse no acordo
mesmo sem solucionar o problema por considerar que ela vai gerar caixa para pagar os US$ 300
milhões do empréstimo e ainda
ser lucrativa. Para aceitar a Tietê
nessas condições, o BNDES recebeu algumas compensações: a
primeira foi pagar mais barato
sua parte no capital de Brasiliana,
uma diferença de R$ 251 milhões;
a segunda foi o direito a ter US$ 50
milhões em ações preferenciais da
holding, o que dá ao banco maior
participação nos dividendos.
A terceira foi consequência de
uma descoberta feita no levantamento das contas do grupo AES
no Brasil. O BNDES constatou
que a AES Uruguaiana tinha patrimônio líquido negativo porque
devia US$ 336,7 milhões a uma
subsidiária da AES nas Ilhas Cayman, a Uruguaiana INC.
O banco exigiu que a Uruguaiana INC passasse a ser também
controlada da Brasiliana. Com isso, metade dos créditos que essa
subsidiária tinha com a AES Uruguaiana passam a ser do próprio
BNDES e a AES Uruguaiana deixa
de correr risco de insolvência.
Tanto os juros quanto o principal da dívida remanescente da
AES serão pagos em progressão
crescente. Os juros começam com
apenas 10% do devido em 2004 e
só chegam a 100% em 2007, quando a dívida propriamente dita
(sem os juros) começará a ser paga em oito parcelas anuais. A primeira é de US$ 20 milhões e a segunda é de US$ 45 milhões.
Costa disse que o BNDES não
deseja a estatização da Brasiliana
e que, se isso ocorrer, elas serão
reprivatizadas. Ele acrescentou
que o acordo não servirá de modelo para renegociações com outras empresas do setor elétrico.
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