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OPINIÃO ECONÔMICA
Valeu, Lula!
BENJAMIM STEINBRUCH
Lá se vai 2003, um ano de sufoco. Todos queríamos que o
Banco Central tivesse reduzido
muito mais a taxa de juros e que
a economia tivesse retomado um
ritmo forte de crescimento de produção e emprego. Queríamos
também que o real tivesse mantido uma taxa maior de desvalorização em relação ao dólar, para
abrir perspectivas de sustentabilidade às exportações.
Mas, às vésperas do Réveillon
de 2004, é preciso reconhecer que
o Brasil e os brasileiros fizeram
um esforço válido em 2003. Valeu
o sacrifício porque o país readquiriu a condição de voltar a ter crescimento econômico. Cansamos de
ver, em passado recente, esforços
que exigem privações e que não
levam a nada.
Queiram ou não os críticos leais
e desleais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostrou competência em seu primeiro ano de governo. Pelo que vimos, ficou claro
que não se governa com diploma
universitário, e sim com honestidade, estabilidade emocional,
persistência, paciência, tolerância
e diálogo.
Lula foi exemplar e disciplinado
para cumprir sua estratégia. Ao
assumir, sua primeira tarefa era
convencer a comunidade internacional que o Brasil não estava
passando às mãos de um grupo
inexperiente e irresponsável. A segunda tarefa era estabilizar a
economia, que atravessava uma
convulsão agravada pelo próprio
processo eleitoral: inflação ascendente, risco Brasil nas alturas e
falta de crédito externo.
Para cumprir essas duas tarefas, adotou condução conservadora nas políticas fiscal e monetária. Apresentou logo os projetos
de reforma tributária e da Previdência, elevou o superávit primário e manteve alta a taxa básica
de juros.
Antes de Lula assumir, a inflação (IGP-DI) havia atingido 5,8%
em um único mês (novembro de
2002), taxa que indicava um ritmo anual de quase 100%. Se isso
continuasse, o país voltaria a conviver com a mais grave doença
que afetou a economia brasileira
na segunda metade do século passado. Um ano depois, a inflação
está hoje sob controle e não representa preocupação.
Quando Lula assumiu, o Brasil
praticamente não tinha disponibilidade de crédito no mercado
internacional. O risco país estava
acima de 2.000 pontos, o que significa que empresas e governo pagavam uma taxa adicional de 20
pontos percentuais para captar
recursos no exterior. Com a volta
da credibilidade internacional,
essa taxa caiu para 5 pontos, ainda que a situação externa não esteja totalmente resolvida.
Na área do comércio exterior, os
mais otimistas previam um superávit de US$ 17 bilhões. O ano está
terminando com um saldo positivo superior a US$ 24 bilhões.
O governo Lula também se deu
bem nas negociações da Alca.
Num primeiro momento, externou posições pouco estratégicas,
que denotavam antiamericanismo gratuito. Mas, depois, acabou
encontrando um caminho de entendimento diplomático inteligente com os Estados Unidos.
A aprovação das duas reformas
-tributária e da Previdência-
foi uma demonstração de esperteza política. Mas esse ponto não
merece aplauso. Lula descumpriu
claramente suas promessas de
campanha ao promover um novo
aumento da carga tributária. Alterou a legislação da Cofins sob a
justificativa de atender a uma velha reivindicação empresarial e
aproveitou a mudança para elevar de forma brutal a incidência
do imposto para alguns setores,
principalmente o de serviços. A
Cofins, mesmo com alterações feitas no Congresso para excluir alguns setores da nova tributação,
deve render R$ 10 bilhões adicionais aos cofres públicos, um sacrifício a mais para o setor privado,
com efeitos danosos para a atividade econômica.
Em 2004, Lula terá a chance de
mostrar ao país que sacrifícios como esse não foram em vão. Feito
o esforço do ajuste e retomado o
equilíbrio da economia, precisamos passar à fase do crescimento.
A meta de 3,5% para o próximo
ano é tímida, e não podemos nos
contentar com ela. Temos de pensar em pelo menos 4,5% ou 5%,
porque gerar emprego é fundamental para a estabilidade da sociedade brasileira.
Que 2003, o ano do sufoco, tenha nos levado ao ponto de partida para um novo ciclo. Essa é a
esperança.
Benjamin Steinbruch, 50, empresário,
é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e presidente do conselho de administração da empresa.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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