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GESNER OLIVEIRA
Lições de 2006
Quando se considera o que o país poderia ter crescido em
2006 em razão do ambiente externo, o resultado desanima
AS PREVISÕES falharam em
2006. Até aí não tem novidade. Não há modelo de previsão infalível. Resta a tarefa de
aprender com os erros.
A maior decepção foi de longe a
Copa do Mundo. A bolsa de apostas
era favorável ao Brasil. Mas um time apagado, repleto de estrelas e
carente de raça deixou escapar um
dos campeonatos mundiais mais
medíocres do ponto de vista técnico.
Assim como o futebol, a política
desmentiu a maioria das previsões
em 2006. Primeiro, a sucessão de
escândalos levou a maioria dos analistas a acreditar que a reeleição estaria comprometida. Segundo, a recuperação do governo nas pesquisas levou a crer que as eleições presidenciais seriam decididas no primeiro turno. Em seguida, insistiu-se na tecla de que o segundo turno
seria um novo jogo no qual a oposição teria mais chance; contudo, o
candidato da situação acabou ampliando sua vantagem relativamente ao primeiro turno.
Na economia, não poderia ser diferente. Os desvios em relação às
previsões foram generalizados. Assim como em 2003, em 2006 a inflação medida pelo IPCA foi inferior
à prevista pelo mercado: 3,11%, contra 4,5%. Apesar da lenta queda dos
juros, o nível previsto em dezembro
de 2006 acabou sendo menor do
que aquele projetado no final de
2005: 13,25%, contra 15%.
Tais diferenças estão associadas
ao comportamento do câmbio. O
mercado projetava um dólar de R$
2,4, contra R$ 2,13 no fim do ano.
Tal fato reduziu o custo dos bens comerciáveis em geral e ajudou a diminuir o ritmo de crescimento dos
preços. Puniu, por sua vez, a expansão dos segmentos que competem
com produtos estrangeiros, concorrendo para diminuir a taxa de crescimento da indústria. A expansão
do conjunto da economia deverá ser
de 2,8%, contra uma taxa projetada
há um ano de 3,5%.
Embora compreensível, o erro de
previsão tem sempre um sabor de
derrota para o analista. Mas tome-se a lição do divertido filme "Um
Bom Ano", de Ridley Scott. Após
uma partida de tênis, o astuto tio
Henry (Albert Finney) ensina ao
pequeno Max (Freddie Highmore):
"O homem não aprende nada com a
vitória. A derrota, contudo, pode
trazer grande sabedoria. Pelo menos para aprender a saborear a vitória".
2006 foi um bom ano? Em comparação com o passado, a resposta é
afirmativa. O crescimento da economia foi pífio, mas ainda ligeiramente superior à média dos últimos
25 anos. Além disso, esta coluna
acertou em dezembro de 2005 ao
prever que 2006 não seria 2002.
Traduzindo, 2006 não seria um ano
marcado por forte incerteza quanto
ao futuro da política econômica, como foi 2002. E, aliás, como foram os
anos pré-eleitorais do recente período de democracia no Brasil, especialmente 1989 e 1998.
No entanto, quando se considera
o que o país poderia ter crescido em
virtude do ambiente externo favorável dos últimos anos, o resultado é
desanimador. A combinação de forte demanda externa e alta liquidez
internacional é rara na história econômica mundial. O período recente
tem representado janela de oportunidade para as economias emergentes. Na média, o aproveitamento
tem sido positivo, com taxas de expansão três a quatro vezes superiores à brasileira. Mais grave ainda, a
taxa de investimento da economia
continua baixa, a infra-estrutura,
em frangalhos, e o investimento em
capital humano, insuficiente.
O pequeno Max se tornou adulto
(Russell Crowe) e acabou herdando
a vinícola do tio. A primeira impressão foi a de uma herança maldita. O
vinho era péssimo. Mas talvez descubra a fórmula secreta de fabricar
um vinho excepcional com o mesmo
terreno, mas com muito mais arte e
dedicação. Não há razão para supor
que o Brasil seja incapaz de descobrir a fórmula mágica do crescimento. Comparativamente à China e à
Índia, este país continua sendo uma
boa aposta de longo prazo.
Antes que isso aconteça, haverá
inevitavelmente decepções e erros
de previsão. Em 1974, o Brasil também perdeu a Copa na Alemanha.
Embora não tenha sido tão frustrante quanto em 2006, foi dolorido.
Mas, como tio Henry, Carlos Drummond já ensinava: "Perder é uma
forma de aprender. E ganhar, uma
forma de esquecer o que se aprendeu". Feliz aprendizado em 2007 e
nos anos que seguem!
GESNER OLIVEIRA , 50, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), professor da FGV-EAESP,
presidente do Instituto Tendências de Direito e Economia e
ex-presidente do Cade.
Internet: www.gesneroliveira.com.br
gesner@fgvsp.br
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