São Paulo, sábado, 30 de dezembro de 2006

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Para economista, maior vilã é a Constituição, que engessa gastos

DA REPORTAGEM LOCAL

Quem é o maior responsável pelos sucessivos recordes de carga tributária registrados no país, especialmente a partir dos anos 1990?
Na visão do economista Mailson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda no governo Sarney (1985/90) e sócio da Tendências Consultoria, a culpa não é de nenhum governante, mas da Constituição de 1988.
"A irresponsabilidade fiscal dos constituintes de 1988 impôs rigidez aos gastos federais e hoje mais de 90% das receitas têm destinação obrigatória."
Mailson não isenta o governo Lula pela elevação da carga fiscal, mas também não diz que a culpa está toda na atual gestão. "Diante do que tem acontecido no Brasil desde o desastre fiscal da Constituição de 1988, não se pode dizer que foi excessiva a elevação da carga tributária no governo Lula."
Para o ex-ministro, o grande problema são os benefícios sociais criados pela Constituição. Ele diz que a evolução da carga tributária sob Lula seguiu um padrão conhecido desde o Plano Real, de julho de 1994.
No primeiro mandato de FHC, a carga fiscal subiu para atender basicamente ao aumento de gastos resultante da implementação final dos benefícios sociais criados pela Constituição de 1988.
"No segundo mandato, foi preciso reverter a situação fiscal do país -de déficit para superávit primário. Após a crise russa, em agosto de 1998, o país passou a ser visto como o emergente de maior risco fiscal", diz.
Quando assumiu o governo em 2003, Lula não fugiu muito do padrão adotado por FHC, diz o economista. "Como FHC, Lula concedeu aumentos reais expressivos ao salário mínimo, acentuando o crescimento dos gastos correntes."
Mas, mais do que FHC, Lula precisou manter superávits elevados, pois era preciso emitir fortes sinais de responsabilidade fiscal. "A combinação do aumento do mínimo com superávits maiores gerou, sob Lula, efeitos perversos piores do que no governo FHC", diz Mailson.
Pelos cálculos do ex-ministro, Lula concedeu, em valores atualizados, cerca de R$ 15 bilhões aos aposentados do INSS acima do que seria razoável, ou seja, da correção dos benefícios somente pela inflação. (MC)


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