São Paulo, quarta-feira, 31 de janeiro de 2001

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LIVRE COMÉRCIO

Governo dos EUA recua e diz não ter cronograma para "fast track", cuja aprovação é fundamental para o bloco

Pressão de democratas pode atrasar Alca

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Pressionado por senadores democratas, o principal assessor de comércio do presidente dos EUA, George W. Bush, admitiu ontem não ter um cronograma para obter, do Congresso norte-americano, autorização para negociar a Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Durante sabatina no Senado, Robert Zoellick, indicado pelo presidente para o cargo de representante comercial dos EUA, reconheceu que Bush provavelmente não terá ainda obtido o chamado "fast track" quando comparecer, em abril, ao Encontro das Américas -reunião em Québec, no Canadá, na qual presidentes de países do continente definirão a agenda da Alca.
O "fast track" (via rápida) é um mecanismo pelo qual o Congresso dos EUA autoriza o presidente a negociar acordos comerciais que, depois, o Parlamento aprova ou rejeita, mas não emenda.
Durante a campanha, Bush prometeu, expressamente, que obteria o "fast track" em seus três primeiros meses de governo e o levaria à Québec como um sinal de que os EUA estão realmente empenhados em negociar.
Ontem, Zoellick, embora tenha reafirmado que a Alca é prioritária no governo Bush, recuou ao dizer que, para a reunião de Québec, o presidente dirá que o "fast track" está a caminho".
Em entrevista à Folha em novembro passado, Zoellick havia dito: "Bush afirmou que pretende obter o "fast track" antes do Encontro das Américas". Isso foi repetido em mais de cinco discursos de Bush sobre comércio exterior.
Sem o "fast track", os demais países americanos (entre os quais o Brasil) relutam em avançar nas negociações com os EUA, por temer que o Congresso desfigure, depois, acordos fechados pelo Executivo.
O recuo de Zoellick é produto dos conflitos eleitorais que tornaram mais tenso o relacionamento do presidente George W. Bush com o Congresso.
Ontem, senadores democratas disseram claramente que, se aprovado, o "fast track" não virá rapidamente. Os democratas pretendem forçar o presidente a negociar questões trabalhistas e ambientais nos acordos externos de comércio -algo rejeitado por Bush durante a campanha.
"Se for para desprezar preocupações ambientais e de relações de trabalho, eu voto contra o "fast track'", disse o senador Max Baucus, democrata de Montana.
Zoellick, que apesar das críticas democratas deverá ser confirmado pelo Senado, tentou reduzir o grau de oposição ao dizer que Bush está disposto a se sentar à mesa com entidades ambientais e trabalhistas e que não tem um cronograma fixo para obter o "fast track".


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