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análise
Melhor ano para as contas públicas já passou
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo Lula não havia
visto e dificilmente verá de
novo um ano tão favorável
para as contas públicas
quanto 2007. A rara combinação de crescimento acelerado, juros em queda e arrecadação recorde sem aumento de impostos, porém, produziu mais conforto político
que resultados econômicos.
Diante de tal cenário, teria
sido possível promover forte
redução da dívida pública -a
opção conservadora- ou
uma forte expansão dos investimentos -a opção anunciada no lançamento do PAC.
Preferiu-se, no entanto,
combinar as duas alternativas em doses bem modestas.
Além de pacificar a união
de conveniência entre ortodoxos e desenvolvimentistas, Henrique Meirelles e
Dilma Rousseff, a folga no
caixa permitiu manter em alta as despesas com aposentados, funcionários públicos e
beneficiários da assistência
social, ganha-pão eleitoral do
presidente.
O esforço fiscal foi o menor da era Lula. A parcela da
receita economizada para o
abatimento da dívida pública, que beirou os 15% no primeiro mandato, caiu para
pouco mais de 11%.
A prática exemplifica uma
das críticas da cartilha ortodoxa às políticas econômicas
da América Latina: os momentos de bonança estimulam o afrouxamento do controle de gastos, que acaba
tendo de ser endurecido nas
horas de crise, com custos
econômicos e sociais mais
elevados.
Não por acaso, a dívida federal teve queda quase imperceptível, de 30,8% para
30,4% do PIB. Em 2004,
quando o crescimento econômico foi semelhante ao do
ano passado, a dívida caiu de
33,2% para 29,5% do PIB
-mesmo com arrecadação
inferior e juros mais altos.
Mas, como nem os balanços oficiais negam, a sobra de
dinheiro não serviu para executar o conjunto de obras de
infra-estrutura listadas no
PAC. Na metodologia mais
favorável, os investimentos,
suposta prioridade, tiveram
acréscimo de R$ 4,6 bilhões,
enquanto os benefícios previdenciários cresceram em
praticamente R$ 20 bilhões.
Embora prometam-se resultados mais palpáveis a
partir deste ano, o melhor,
para as contas públicas, já
passou. A piora do cenário
internacional torna menos
provável a preservação do
crescimento econômico de
5% desejado pelo governo
-e, desde o Plano Real, não
houve dois anos seguidos de
crescimento acima de 4%.
A crise externa também
alimenta as projeções de alta
dos juros do Banco Central, o
que significa mais despesas
com a dívida pública e menos
margem para expandir outros gastos. E, com a derrubada da CPMF, a carga tributária tende a experimentar
uma queda inédita na história recente.
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