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Brasil passa de vidraça a estilingue para os países ricos
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
José Sergio Gabrielli, o presidente da Petrobras, foi escolhido por seus pares das empresas
do ramo para presidir a "Cúpula da Energia", que faz anualmente seu encontro em Davos.
Passará, pois, a coordenar as
reuniões do grupo, que conta
com as grandes petrolíferas do
planeta, estatais ou privadas.
A escolha de Gabrielli é uma
óbvia homenagem à empresa
que preside, especialmente em
foco depois das descobertas no
pré-sal. Mas é também um homenagem ao Brasil, que, neste
ano, no encontro do Fórum
Econômico Mundial, passou
nitidamente da velha condição
de vidraça para a de estilingue.
Tanto é assim que Ricardo
Villela Marino, executivo-chefe
para a América Latina do banco
Itaú e eleito um dos jovens líderes globais deste ano pelo Fórum, estufou o peito para dizer
que "o Brasil e os bancos brasileiros não são parte do problema, são parte da solução", sendo o mal, como é óbvio, a crise.
Marino lembrou os "bilhões"
despejados pelo mundo rico
para evitar a quebra de seus
bancos e emendou: "Nada disso
aconteceu no Brasil".
Logo depois, Gabrielli tomou
a palavra para fazer outra comparação representativa da troca de vidraça por estilingue.
Afirmou que não era só no setor bancário que o Brasil tinha
algo a ensinar ao mundo rico.
"Também em matéria de política fiscal sadia estamos melhor
que os Estados Unidos" [cujo
déficit cresce a cada hora].
O bordão "política fiscal sadia" foi usado pelo mundo rico
anos a fio para passar sermões
em empresários e autoridades
brasileiros. Que Gabrielli o use
agora tem sabor de vingança.
Na sua vez, o chanceler Celso
Amorim lembrou, por exemplo, dos US$ 20 bilhões que as
empresas brasileiras investiram no exterior, quando, em
anos anteriores, empresários e
autoridades brasileiras usavam
Davos para uma espécie de passada de chapéu, implorando
por investimentos externos.
O próprio tema do almoço já
era uma homenagem ao Brasil,
ao tratá-lo como "new power
broker", um mediador internacional de peso, em tradução livre. Claro que é preciso alguma
ginástica para evitar pessimismo ou números negativos.
Pouco antes do almoço, o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, havia clamado pela
retomada dos créditos por parte do sistema financeiro, "no
mundo todo".
Villela Marino, do Itaú, preferiu desconversar. Afirmou
que "o crédito não desapareceu; apenas ficou mais focado e
mais seletivo". À Folha, depois
da sobremesa, contou que continua havendo aumento dos
empréstimos no Brasil, mas
que a curva é bem inferior à anterior à crise, até setembro.
"O crédito tornou-se mais
escasso e mais caro, mas continua crescendo", afirmou.
O moderador do almoço, David Schlesinger, editor-chefe
da agência Thomson-Reuters,
introduziu uma provocação, ao
perguntar a Amorim se o fato
de o presidente Lula ter preferido ir ao Fórum Social Mundial, em Belém, em vez de Davos, era um "manifesto".
Amorim, como é óbvio, disse
que não, lembrando que Lula,
em seus seis anos de mandato,
esteve já três vezes em Davos.
Brincou: "O problema é que a
demanda por Lula é maior que
a oferta de Lulas".
(CR)
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