São Paulo, sábado, 31 de janeiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Amorim pede a Obama coragem para veto

DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

O chanceler Celso Amorim parafraseou um dos pontos mais emblemáticos do discurso de posse de Barack Obama ("a esperança venceu o medo", aliás frase usada antes por Luiz Inácio Lula da Silva após a vitória eleitoral de 2002) para se referir à introdução, pela Câmara de Representantes, de medidas protecionistas no pacote de estímulo à economia:
"Se a esperança venceu o medo, que a coragem vença o medo de vetar" o que, no governo brasileiro, se considera um contrabando introduzido pelos congressistas.
O "contrabando" proíbe a compra de ferro e aço estrangeiros para projetos de infraestrutura financiados com dinheiro público no bojo do pacote de US$ 819 bilhões aprovado pela Câmara e que ainda passará pelo Senado.
Amorim evitar ver na medida "um sinal do próprio governo Obama". Seria um sinal muito negativo para as negociações de liberalização do comércio no marco da Rodada Doha.
Otimista de ofício, Amorim prefere acreditar em outro sinal, contido no telefonema que Obama deu ao presidente Lula e, no qual, sem que Lula tivesse provocado, enfatizou a necessidade de concluir Doha o quanto antes.
Amorim teme que se espalhe o protecionismo, "a mais contagiosa de todas as doenças".
Cita, por exemplo, o fato de países europeus estarem sugerindo que seus cidadãos vendam o carro velho estrangeiro para comprar um novo nacional, com o que se estimularia a atividade econômica justamente em um dos setores mais abalados pela crise.
Amorim está em Davos para uma série de reuniões e debates justamente em torno da liberalização comercial. Mas lamenta que o encontro deste ano do Fórum Econômico Mundial tenha deixado algo à margem o comércio, como se fosse uma questão a mais.
"Não é", diz o chanceler, "é um elemento essencial para combater a crise financeira".
Amorim não está isolado no seu temor de uma onda protecionista. Kamal Nath, o ministro do Comércio da Índia, disse ontem que o protecionismo "seria uma resposta de puro pânico", que machucaria países desenvolvidos e em desenvolvimento da mesma maneira.
Nath também citou o exemplo da indústria automobilística, para dizer que não adianta tentar salvar empregos nela, quando "podem facilmente deslocar sua produção para países de baixo custo de mão-de-obra, como a Índia e a China". (CLÓVIS ROSSI)

Texto Anterior: Foco: Protestos se alastram no Reino Unido após refinaria contratar estrangeiros
Próximo Texto: Memória: Ex-presidente do Citi, Alcides Amaral morre aos 72 em SP
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.