São Paulo, domingo, 31 de janeiro de 1999

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Exportadores fogem da taxação das aplicações e retêm dólares

FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília

Os exportadores brasileiros têm evitado o fechamento das operações de ACC (Antecipação de Contrato de Câmbio). Uma das principais razões é a inexistência de aplicações que garantam que os reais recebidos fiquem imunes a novas eventuais valorizações do dólar.
Quando um exportador fecha um ACC, recebe antecipadamente em reais o valor de uma venda futura para o exterior. O banco que faz a operação se apropria dos dólares imediatamente, pois já adquiriu linha de crédito no exterior.
A entrada de dólares das exportações aumenta a oferta da moeda norte-americana -isso fará, segundo tem dito a equipe econômica, que a cotação do dólar recue.
Por causa da atual crise, os exportadores estão quase imóveis. Poucos contratos de câmbio estão sendo fechados, apesar do maior movimento nos últimos dias da semana. Falta dólar no mercado e o real perde valor.
Exportadores que não têm urgência para obter o dinheiro esperam um melhor momento. Deixam para receber apenas quando a venda for concluída.
A dúvida principal é se o real vai se desvalorizar mais em relação ao dólar. Os exportadores temem antecipar a receita de uma venda e perder dinheiro no curto prazo.
Os exportadores que estão fechando contratos de ACC, mas que não precisam usar o dinheiro imediatamente, poderiam, em tese, entrar no mercado financeiro brasileiro e se proteger de eventuais quedas do real -como se diz no jargão, fazendo operações de "hedge" (palavra inglesa que significa garantia).
Se um exportador receber, digamos, o equivalente em reais a US$ 100 milhões, poderá aplicar esse dinheiro em fundos cambiais. Assim, se o real se desvalorizar, a receita da exportação estaria protegida dessa flutuação.
Ocorre que as aplicações financeiras são fortemente taxadas no Brasil. O Imposto de Renda sobre o lucro da operação é de 20%.
Dessa forma, o exportador que internar US$ 100 milhões e lucrar 10% com uma eventual desvalorização do real não terá garantido proteção integral ao seu dinheiro.
Os 10% de lucro -no exemplo acima equivaleriam a US$ 10 milhões- que seriam pagos pelo fundo cambial emagreceriam em 20% (US$ 2 milhões) antes de passarem para a mão do investidor.
Há também a taxação de 0,38% sobre operações financeiras.
Além disso, as empresas estão sujeitas a pagar uma alíquota de 8% a título de Contribuição Social sobre Lucro Líquido. Isso reduz ainda mais a lucratividade das operações de "hedge" que exportadores poderiam fazer para se proteger de uma eventual desvalorização do real.
A desvantagem que os exportadores têm nessas operações é uma das principais razões para o país estar sem receber o volume de dólares esperado pelo governo.
Como não há prazo para a crise terminar, ninguém sabe quando serão desovados os dólares referentes às exportações. Para os exportadores, a melhor opção financeira é esperar o máximo possível.
O mercado de câmbio está sendo operado apenas pelo bancos privados, que têm pouco dólar. Como a demanda é alta, a cotação sobe continua subindo.



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