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MERCADO TENSO
Discurso de secretário dos EUA em Davos se aplica ao caso brasileiro
Para EUA, falta "vontade política" a países em crise
CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Davos
O secretário
norte-americano do Tesouro,
Robert Rubin,
cobrou ontem
"vontade política" dos governantes de países
em crise ou que tentam evitá-la,
chegando a considerá-la o "fator
crítico".
Rubin não citou país algum ao
qual faltaria "vontade política",
mas o discurso parece encaixar-se
no caso brasileiro, se se considerar
que, dois dias antes, um alto funcionário norte-americano havia
criticado exatamente a falta de liderança e de coerência nas políticas do governo Fernando Henrique Cardoso.
Rubin dirigiu mensagem especial ao 29º encontro anual do Fórum Econômico Mundial, que, na
parte referente à crise financeira
global, coincide quase literalmente
com muitas das críticas internas ao
governo brasileiro.
Exemplos:
1 - "Só nações que se tornam donas de boas políticas e as seguem
consistentemente serão capazes de
manter sua credibilidade e a confiança dos mercados".
O governo FHC tem sido acusado de fazer súbitas mudanças de
rota, como a adoção de três diferentes políticas cambiais somente
este mês (da banda adotada até o
dia 13 à livre flutuação, a partir do
dia 15, passando pela efêmera mudança de banda).
2 - Rubin chegou a dizer que "a
chave decisiva" não é nem econômica nem financeira, mas política,
definida como "a arte de desenvolver respaldo para uma política forte, especialmente para as duras decisões que envolvem sacrifícios no
presente para benefícios no futuro".
A acusação, de um ponto de vista
liberal, ao governo FHC é de ter
adiado uma "política forte" na
área fiscal.
3 - Rubin citou seu chefe, o presidente Bill Clinton, para quem é
fundamental não apenas convencer as pessoas dos futuros benefícios de um ajuste econômico doloroso, mas "assegurar que o programa de recuperação permita -e seja
percebido assim- uma partilha
ampla dos benefícios econômicos".
A crítica a FHC, pela esquerda e
pelos sindicatos, é exatamente a de
beneficiar poucos, ao preço de ter
elevar o desemprego a níveis recordes desde o ano passado.
Mas o secretário do Tesouro não
avançou uma única proposta nova
para lidar com a crise global. Sobre
o Brasil, especificamente, limitou-se a dizer que estava acompanhando a situação "cuidadosamente", o
que, de resto, é óbvio.
Nem mesmo a respeito da política cambial, objeto de intenso debate no Brasil e também nos países
desenvolvidos, Rubin apresentou
alguma idéia.
Limitou-se a defender, para os
países desenvolvidos, a manutenção do regime atual, em que as
moedas flutuam livremente.
Rejeitou, em conseqüência, a
idéia dos governos francês e japonês de estabelecimento de bandas
de flutuação entre o dólar, o marco
alemão e o iene japonês.
Mas, para os países em desenvolvimento, disse que "regimes de
câmbio fixo e de câmbio flexível tiveram êxitos e fracassos em diferentes países". Emendou: "Imagino que haverá muito debate e, talvez, até pensamentos inovadores
nessas matérias nos próximos
anos".
Rubin admitiu o temor de que a
crise econômica, que voltou a qualificar de "a mais séria crise financeira em 50 anos", fez crescer "as
vozes de oposição a uma economia
baseada no mercado e à integração
global".
Acrescentou que "a pressão para
reduzir a abertura dos mercados
ao comércio é ainda maior e mais
perigosa para o bem-estar econômico da economia global".
Como é óbvio, sua receita é manter o curso de abertura e liberalização.
Ou, mais elaboradamente: "A
resposta não é abandonar o sistema baseado no mercado, mas seguir políticas que ajudem a adaptar-se às mudanças dinâmicas em
andamento e, ao mesmo tempo,
dar passos que reduzam os riscos
do sistema".
Para reduzir os riscos, a proposta
é o que já virou jargão: "reformar a
arquitetura do sistema financeiro
internacional".
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