São Paulo, domingo, 31 de janeiro de 1999

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"Velhinha de Taubaté" previu crise

da Reportagem Local

Dois personagens do imaginário popular, a mitológica "velhinha de Taubaté" e Mané Garrincha, a "Alegria do Povo", campeão nas Copas de 58 e 62, figuraram nas análises de dois consultores que previram com tintas mais fortes a iminência do colapso da âncora cambial.
A Rosenberg e Associados, ao desejar "boas festas" a seus clientes e amigos em sua carta semanal de 25 de dezembro de 1998, fazia o seguinte alerta: "A velhinha de Taubaté acaba de contratar uma operação de "hedge' cambial".
Quem seguiu os conselhos da sábia velhinha -o "hedge", que quer dizer salvaguarda, é uma operação usada por compradores e vendedores para se resguardarem da flutuação de preços- pode ter evitado os prejuízos causados pelo "efeito samba".
A Rosenberg e Associados estimou, na última semana de 98, que o dólar valeria R$ 1,468, com uma desvalorização de 21,5%, no dia 31 de dezembro deste ano.
Antônio Corrêa de Lacerda, presidente do Cofecon (Conselho Federal de Economia), qualificou, no final do mês passado, de "inevitável" a desvalorização do real.
O que ele não esperava é que isso acontecesse tão cedo: "Após um ajuste fiscal, o Brasil não vai escapar de uma desvalorização cambial", disse.
Ressaltando que o Brasil, por ter aumentado excessivamente sua vulnerabilidade externa, já não podia mais conduzir autonomamente sua política cambial, Lacerda disse que, a exemplo de um episódio envolvendo o genial jogador de futebol Garrincha, morto em 83, a estratégia cambial brasileira tinha sido atropelada por fatores que a equipe econômica não tinha como controlar.
Antecedendo um importante jogo da Copa do Mundo de 58, o técnico da seleção, Vicente Feola, expôs um elaborado esquema tático capaz de fulminar o adversário no primeiro tempo. Terminada a exposição, Garrincha perguntou ao técnico se tudo já estava "combinado com os adversários".
Na questão do câmbio, afirma Lacerda, a condução da política de desvalorização gradual do real em relação ao dólar passou a depender de fatores incontroláveis, tais como a cotação do dólar em relação às demais moedas, a desvalorização das moedas dos demais países emergentes e o fluxo de capitais destinados aos países em desenvolvimento.
(ACS)



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