São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 2000


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Competitividade cai, alerta conselheiro

DANIEL BRAMATTI
da Sucursal de Brasília

O conselheiro Ruy Santacruz foi o único integrante do Cade a votar contra a fusão entre Brahma e Antarctica.
Seu voto, no entanto, acabou não tendo influência na decisão final, já que os outros quatro conselheiros do Cade decidiram pela criação da AmBev.
Para Santacruz, a operação é injustificável do ponto de vista técnico e trará prejuízos aos consumidores.
Consumidor da cerveja Skol, ele diz que o mercado vai perder competitividade com a nova fusão. A AmBev deve dominar cerca de 70% do mercado de cervejas no Brasil.
Segundo ele, qualquer outro órgão internacional de defesa da concorrência anularia a fusão.
Ele disse ter baseado seu voto em análises técnicas e classificou de uma "bobagem" o fato de a Antarctica dizer que seu guaraná (principal refrigerante da marca) vai ser distribuído por todo o mundo. Para ele, não haverá elevação da venda de cervejas ao exterior.
Leia, a seguir, os principais trechos de entrevista concedida ontem à Folha.

Folha - Em que o sr. baseou seu voto contrário?
Ruy Santacruz -
Nas análises técnicas dos ministérios da Fazenda e da Justiça e da procuradoria do Cade. Elas mostraram que a operação concentra brutalmente o mercado de cervejas. Isso se reflete negativamente de várias maneiras, inclusive em perda de competitividade.
É sabido que os grandes monopólios não têm estímulo para inovar, porque não há competição. As barreiras à entrada (de outros competidores) são elevadíssimas. Pode-se ficar sentado em berço esplêndido em cima deste quase monopólio.

Folha - E como fica a situação do consumidor?
Santacruz -
O consumidor tem dificuldades em deixar de comprar cervejas, mesmo com aumento de preços. E há uma grande fidelidade às marcas.
Eu, por exemplo, não deixo de consumir Skol, que tem um preço mais alto no Rio.
Como eles compraram todos os concorrentes importantes, poderão jogar com o preço como quiserem. Tecnicamente, não vejo como uma operação assim poderia ser aprovada.

Folha - E as vantagens alegadas pelas empresas?
Santacruz -
Esse negócio de elevação das exportações é uma bobajada. Todo mundo sabe que não se exporta cerveja.
Aquele negócio de que o guaraná Antarctica vai dominar o mundo é outra bobagem.

Folha - E como se explica a decisão, se a análise técnica indicava problemas?
Santacruz -
É preciso perguntar aos outros conselheiros. Houve convicção deles de que a operação não era tão ruim.
Estou convencido de que, se a operação fosse submetida a qualquer outro órgão internacional, haveria determinação para desconstituir a fusão.



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