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Competitividade cai, alerta conselheiro
DANIEL BRAMATTI
da Sucursal de Brasília
O conselheiro Ruy Santacruz foi
o único integrante do Cade a votar contra a fusão entre Brahma e
Antarctica.
Seu voto, no entanto, acabou
não tendo influência na decisão
final, já que os outros quatro conselheiros do Cade decidiram pela
criação da AmBev.
Para Santacruz, a operação é injustificável do ponto de vista técnico e trará prejuízos aos consumidores.
Consumidor da cerveja Skol, ele
diz que o mercado vai perder
competitividade com a nova fusão. A AmBev deve dominar cerca de 70% do mercado de cervejas
no Brasil.
Segundo ele, qualquer outro órgão internacional de defesa da
concorrência anularia a fusão.
Ele disse ter baseado seu voto
em análises técnicas e classificou
de uma "bobagem" o fato de a
Antarctica dizer que seu guaraná
(principal refrigerante da marca)
vai ser distribuído por todo o
mundo. Para ele, não haverá elevação da venda de cervejas ao exterior.
Leia, a seguir, os principais trechos de entrevista concedida ontem à Folha.
Folha - Em que o sr. baseou
seu voto contrário?
Ruy Santacruz - Nas análises
técnicas dos ministérios da Fazenda e da Justiça e da procuradoria do Cade. Elas mostraram que a
operação concentra brutalmente
o mercado de cervejas. Isso se reflete negativamente de várias maneiras, inclusive em perda de
competitividade.
É sabido que os grandes monopólios não têm estímulo para inovar, porque não há competição.
As barreiras à entrada (de outros
competidores) são elevadíssimas.
Pode-se ficar sentado em berço
esplêndido em cima deste quase
monopólio.
Folha - E como fica a situação
do consumidor?
Santacruz - O consumidor tem
dificuldades em deixar de comprar cervejas, mesmo com aumento de preços. E há uma grande fidelidade às marcas.
Eu, por exemplo, não deixo de
consumir Skol, que tem um preço
mais alto no Rio.
Como eles compraram todos os
concorrentes importantes, poderão jogar com o preço como quiserem. Tecnicamente, não vejo
como uma operação assim poderia ser aprovada.
Folha - E as vantagens alegadas pelas empresas?
Santacruz - Esse negócio de elevação das exportações é uma bobajada. Todo mundo sabe que
não se exporta cerveja.
Aquele negócio de que o guaraná Antarctica vai dominar o
mundo é outra bobagem.
Folha - E como se explica a decisão, se a análise técnica indicava problemas?
Santacruz - É preciso perguntar
aos outros conselheiros. Houve
convicção deles de que a operação
não era tão ruim.
Estou convencido de que, se a
operação fosse submetida a qualquer outro órgão internacional,
haveria determinação para desconstituir a fusão.
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