São Paulo, quarta-feira, 31 de março de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VIZINHO NO ESCURO

Apoio permite que argentinos retomem a tensão normal

Brasil fornece energia à Argentina

DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil forneceu desde a madrugada de ontem, de forma emergencial, energia para a Argentina. Segundo a ministra Dilma Rousseff (Minas e Energia), o auxílio, no total de 500 MW (megawatts), deve terminar hoje.
O governo brasileiro já estava se preparando para enviar energia para a Argentina a partir de maio. "Fomos pegos de surpresa", disse Dilma. Ela explicou que esse envio emergencial não é cobrado. No futuro, quando for necessário, o Brasil poderá receber 500 MW da Argentina para compensar.
O apoio emergencial do Brasil permitiu que o sistema elétrico argentino retomasse a tensão padrão, de 220 volts.
Anteontem, o governo argentino decidiu baixar a voltagem da energia fornecida aos usuários em 5%, para 209 volts, com objetivo de obter uma economia de 3% no consumo e minimizar os efeitos da crise de energia. Além do recebimento da energia brasileira, o governo Kirchner fechou um acordo para que três companhias produtoras de gás natural injetassem na rede de gasodutos do país um adicional de três milhões de metros cúbicos diários do produto a serem enviados às geradoras.
A crise energética na Argentina se agravou nos últimos meses, com o aumento da demanda, motivada pela recuperação econômica do país, depois de uma forte retração.
No centro da crise, está uma disputa entre o governo e as concessionárias, principalmente as produtoras de gás. Pelo menos 45% da energia consumida na Argentina é produzida por termelétricas.
De um lado, o governo acusa as empresas de não terem investido nos últimos anos no aumento da produção de gás -e em hidrelétricas- para atender a demanda.
As concessionárias afirmam que, além de estarem com as tarifas congeladas desde a pesificação (conversação das dívidas e tarifas de dólares para pesos), o valor pago às geradoras de energia representa um terço da média mundial.
O setor elétrico no país foi privatizado nos anos 90. Por conta da eficiência das empresas e do sistema regulatório, a energia produzida custava em média US$ 24 por megawatt, quando o preço mundial oscilava entre US$ 30 e US$ 35.
Mas na pesificação, após a derrocada do regime de câmbio fixo, as tarifas foram convertidas na paridade de um por um. Ou seja, geradores recebem hoje o equivalente a US$ 8 por megawatt.
De acordo com analistas argentino, o país enfrenta um déficit de cinco milhões de metros cúbicos diários de gás. Para contornar o problema, o governo decidiu racionar a venda de gás para o Chile.
A Argentina negocia com a Bolívia a importação de gás. Mas o governo boliviano teme que parte do produto seja, na verdade, reexportado para o Chile, país com o qual mantém divergências políticas históricas. (JOSÉ ALAN DIAS)


Com a Sucursal de Brasília


Texto Anterior: Panorâmica - Saúde: Indústria farmacêutica nega repasse automático de reajuste no preço de remédio
Próximo Texto: Memória: No racionamento de 2001, ajuda veio dos vizinhos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.