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DÉBITOS
Levantamento da Folha mostra que perdão de tributos federais supera valor da renúncia fiscal prevista para este ano
Governo anistia devedores em R$ 25 bi
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma medida do governo oferece uma anistia de R$ 25,1 bilhões
para empresas e fundos de pensão
devedores de tributos federais.
A anistia engloba multas e juros
sobre débitos tributários e foi
concedida pela União por meio
da Medida Provisória nš 38, do último dia 15.
Os dados foram levantados pela
Folha no Ministério da Previdência, na Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN) e no Banco Central (BC).
O perdão supera o total de benefícios fiscais previstos em lei, a
chamada renúncia fiscal, que segundo dados do BC é de R$ 23,2
bilhões neste ano.
A Receita Federal, segundo sua
assessoria, não revela o total da
renúncia fiscal decorrente da MP
38. Também não divulga previsão
de arrecadação com a medida
que, além da anistia, permite o
parcelamento de débitos tributários em até 96 vezes. O principal
alvo da MP são os devedores que
contestam na Justiça a cobrança
de diversos tributos.
Segundo o levantamento feito
pela Folha, a arrecadação poderá
chegar a R$ 32,6 bilhões. A estimativa baseia-se no valor dos débitos tributários contestados na
Justiça no âmbito da Previdência,
os que estão ajuizados na PGFN e
os débitos de Estados, municípios, Distrito Federal e suas autarquias com INSS, Pasep e FGTS registrados pelo BC até dezembro
do ano passado.
No cálculo, também está incluído o débito da Previ (fundo de
pensão dos funcionários do Banco do Brasil) com o Imposto de
Renda que ela deixou de pagar
mediante liminar. A Previ deve
recolher ao fisco R$ 2,8 bilhões
que, descontada a anistia de juros
e multas, resultará numa arrecadação de R$ 1,7 bilhão aos cofres
do governo.
Não estão incluídas no cálculo
as dívidas das empresas que contestam a cobrança de tributos na
Justiça. "É impossível calcular esse valor, são muitas ações em andamento e o objetivo do governo
é fazer com que as empresas que
já ganharam em primeira instância desistam do processo", diz o
advogado Marcos Ferraz de Paiva, do escritório Choaib, Paiva,
Monteiro da Silva e Justo Advogados Associados.
INSS
Segundo o ministro da Previdência e Assistência Social, José
Cechin, a dívida dos setores público e privado com a Previdência
totaliza R$ 126 bilhões (dados de
dezembro/2001). Esse valor, diz
Cechin, é fruto de 50 anos de sonegação e inclui juros e multas.
Desse total, apenas uma parcela,
de R$ 48 bilhões, referente às dívidas que estão sendo questionadas
na Justiça pelos devedores, é afetada pela MP 38, segundo o ministro. Ele diz que metade desse
valor (R$ 24 bilhões) corresponde
a juros e multas. Essa seria a renúncia fiscal da Previdência.
Segundo o advogado tributarista Sidney Stahl, se todos os devedores do INSS já ajuizados aderirem, a renúncia fiscal chegaria a
R$ 24 bilhões, o que confirma a
estimativa do ministro.
Mas Cechin pondera que "há
uma série de condicionantes à
isenção" e, por isso, a renúncia fiscal do INSS deverá ser pequena.
Segundo ele, no ano passado, tentou-se medida semelhante e não
houve grande repercussão entre
os devedores. Ou seja, mesmo
com desconto e parcelamento dos
débitos a perder de vista, quem
deve não paga.
Justiça
Apenas uma parcela ínfima da
dívida ativa da União, que inclui
débitos de todos os tributos federais menos INSS e FGTS será afetada pela MP 38. Segundo o procurador Agostinho Netto, coordenador geral da dívida ativa da
União, da PGFN, só a parcela da
dívida ativa já ajuizada, no valor
de R$ 550 milhões é atingida pela
MP. Esse valor é referente a dívidas tributárias de Estados, municípios e Distrito Federal.
Essa dívida não terá isenção de
juros e multas, mas foi beneficiada com um parcelamento em 96
meses. O prazo convencional de
pagamento é de 30 meses.
Segundo Netto, o estoque total
da dívida ativa acumulado até dezembro do ano passado era de R$
150,828 bilhões. Para entender o
impacto dos juros e multas que
incidem sobre os débitos, o valor
originário dessa pendura é de R$
62,832 bilhões. "A diferença é juro
-calculado pela taxa Selic, a taxa
básica da economia- , multas,
além de correção monetária que
incidiu até 1995", diz.
A maior parte da dívida ativa,
afirma Netto, é proveniente da
Receita Federal. São débitos não
recebidos por meio de cobrança
administrativa e que vão para a
Procuradoria para serem cobrados judicialmente.
Segundo ele, o governo desconhece quanto dos R$ 150,828 bilhões podem realmente ser recebidos na prática.
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