São Paulo, quarta-feira, 31 de julho de 2002

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ECONOMIA EM TRANSE

Bancos estrangeiros vendem ações de Bradesco e Itaú por medo de inadimplência; ações caem até 25,9%

Incerteza derruba ações de bancos nacionais

SANDRA BALBI
ÉRICA FRAGA

DA REPORTAGEM LOCAL

As ações dos maiores bancos privados do país despencaram ontem na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo). No mês, já acumulam perdas entre 16,1% e 25,9% (veja quadro). O que está puxando para baixo os preços dos papéis dos bancos é a fuga de investidores estrangeiros dos ativos brasileiros e a atuação de bancos estrangeiros.
Segundo analistas do mercado, os grandes vendedores de ações de bancos locais, nos últimos dias, foram os bancos Merrill Lynch, Morgan Stanley, JP Morgan Chase e UBS Brinson.
A Folha apurou que, desde terça-feira, dia 23, a Merrill Lynch, por exemplo, vendeu cerca de R$ 75 milhões em ações do Bradesco. Um dia antes, a mesma instituição havia recomendado a compra de papéis do Itaú e do próprio Bradesco. Também desde o último dia 23, o UBS já vendeu R$ 55 milhões de ações do Bradesco.
Os estrangeiros estão se desfazendo de ADRs (American Depositary Receipts) dos bancos brasileiros, os recibos de ações negociados na Bolsa de Nova York, além das ações negociadas na Bovespa. Os ADRs dos bancos já acumulam perdas entre 25,8% e 30,5% no mês.
"Os investidores estão diminuindo a exposição ao risco Brasil em suas carteiras. Isso inclui, agora, os papéis dos bancos", diz Jorge Simino, diretor da UAM (Unibanco Asset Management).
Para Fabiana Arana, analista de bancos da Schroder Brasil, além do aumento do risco-país, que atingiu ontem 2.390 pontos, os investidores estão preocupados com um possível calote na dívida pública. "E os bancos são os maiores detentores de títulos do governo", diz Arana.
Embora considere que todo o cenário atual é desfavorável ao setor, o consultor Walter Mundell diz que a queda das ações dos bancos é uma correção feita pelo mercado. "Elas estavam supervalorizadas em relação aos demais papéis", diz Mundell.
Segundo ele, as ações de bancos tinham uma gordura entre 15% e 20% em relação às que compõem o Ibovespa, excetuadas as de telecomunicações.
Na avaliação de Mundell, o ambiente é hostil para os resultados dos bancos nos próximos meses. "Eles estão reduzindo sua carteira de títulos públicos -que sempre lhes deu alta rentabilidade-, estão perdendo receitas com a fuga de clientes dos fundos de investimentos, e restringindo o crédito em razão da desaceleração da economia e do aumento da inadimplência."
Na opinião de Simino, da UAM, os bancos locais começam a sofrer os efeitos do temor generalizado dos investidores em relação aos bancos, que começou nos EUA com a quebra de empresas.
"Uma situação como essa impõe restrições muito fortes para a economia real no Brasil e aumenta o risco de sinistros de crédito [calotes"", diz Simino. Segundo o analista, as empresa brasileiras estão tendo dificuldades em pagar dívidas no exterior, com a disparada do câmbio, e o próximo passo poderá ser aparecerem dificuldades de honrar dívidas em reais.

Câmbio
Nesse cenário, a disparada do dólar é o menor dos males para os bancos. Segundo os balanços publicados no primeiro trimestre de 2002, os três maiores bancos privados cotados em Bolsa tinham uma exposição líquida (diferença entre captações no exterior e empréstimos e operações financeiras em dólar) bastante positiva.
O Itaú possuía em 30 de março um saldo líquido de cerca de US$ 2 bilhões, pois tem muitos ativos no exterior. Isso favorece o banco que, ao contabilizá-los no balanço em reais, tem ganhos extras com a variação cambial. O Bradesco e o Unibanco tinham uma exposição líquida entre US$ 500 milhões e US$ 800 milhões cada um. "Nos últimos meses, não aumentou muito a exposição dos bancos em dólar", diz Arana.
Segundo Arana, o único risco de algum banco ser afetado pela desvalorização do real é se tiver posições de curto prazo protegidas por operações de "hedge" que não cubram uma variação do dólar superior a R$ 3. "Isso é muito difícil de acontecer, pois os bancos fazem hedge, em geral, comprando títulos cambiais do governo", diz ela. Os bancos detêm a maior parte desses títulos.



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