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ECONOMIA EM TRANSE
Bancos estrangeiros vendem ações de Bradesco e Itaú por medo de inadimplência; ações caem até 25,9%
Incerteza derruba ações de bancos nacionais
SANDRA BALBI
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
As ações dos maiores bancos
privados do país despencaram
ontem na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo). No mês, já
acumulam perdas entre 16,1% e
25,9% (veja quadro). O que está
puxando para baixo os preços dos
papéis dos bancos é a fuga de investidores estrangeiros dos ativos
brasileiros e a atuação de bancos
estrangeiros.
Segundo analistas do mercado,
os grandes vendedores de ações
de bancos locais, nos últimos dias,
foram os bancos Merrill Lynch,
Morgan Stanley, JP Morgan Chase e UBS Brinson.
A Folha apurou que, desde terça-feira, dia 23, a Merrill Lynch,
por exemplo, vendeu cerca de R$
75 milhões em ações do Bradesco.
Um dia antes, a mesma instituição havia recomendado a compra
de papéis do Itaú e do próprio
Bradesco. Também desde o último dia 23, o UBS já vendeu R$ 55
milhões de ações do Bradesco.
Os estrangeiros estão se desfazendo de ADRs (American Depositary Receipts) dos bancos brasileiros, os recibos de ações negociados na Bolsa de Nova York,
além das ações negociadas na Bovespa. Os ADRs dos bancos já
acumulam perdas entre 25,8% e
30,5% no mês.
"Os investidores estão diminuindo a exposição ao risco Brasil
em suas carteiras. Isso inclui, agora, os papéis dos bancos", diz Jorge Simino, diretor da UAM (Unibanco Asset Management).
Para Fabiana Arana, analista de
bancos da Schroder Brasil, além
do aumento do risco-país, que
atingiu ontem 2.390 pontos, os investidores estão preocupados
com um possível calote na dívida
pública. "E os bancos são os
maiores detentores de títulos do
governo", diz Arana.
Embora considere que todo o
cenário atual é desfavorável ao setor, o consultor Walter Mundell
diz que a queda das ações dos
bancos é uma correção feita pelo
mercado. "Elas estavam supervalorizadas em relação aos demais
papéis", diz Mundell.
Segundo ele, as ações de bancos
tinham uma gordura entre 15% e
20% em relação às que compõem
o Ibovespa, excetuadas as de telecomunicações.
Na avaliação de Mundell, o ambiente é hostil para os resultados
dos bancos nos próximos meses.
"Eles estão reduzindo sua carteira
de títulos públicos -que sempre
lhes deu alta rentabilidade-, estão perdendo receitas com a fuga
de clientes dos fundos de investimentos, e restringindo o crédito
em razão da desaceleração da economia e do aumento da inadimplência."
Na opinião de Simino, da UAM,
os bancos locais começam a sofrer os efeitos do temor generalizado dos investidores em relação
aos bancos, que começou nos
EUA com a quebra de empresas.
"Uma situação como essa impõe restrições muito fortes para a
economia real no Brasil e aumenta o risco de sinistros de crédito
[calotes"", diz Simino. Segundo o
analista, as empresa brasileiras estão tendo dificuldades em pagar
dívidas no exterior, com a disparada do câmbio, e o próximo passo poderá ser aparecerem dificuldades de honrar dívidas em reais.
Câmbio
Nesse cenário, a disparada do
dólar é o menor dos males para os
bancos. Segundo os balanços publicados no primeiro trimestre de
2002, os três maiores bancos privados cotados em Bolsa tinham
uma exposição líquida (diferença
entre captações no exterior e empréstimos e operações financeiras
em dólar) bastante positiva.
O Itaú possuía em 30 de março
um saldo líquido de cerca de US$
2 bilhões, pois tem muitos ativos
no exterior. Isso favorece o banco
que, ao contabilizá-los no balanço
em reais, tem ganhos extras com a
variação cambial. O Bradesco e o
Unibanco tinham uma exposição
líquida entre US$ 500 milhões e
US$ 800 milhões cada um. "Nos
últimos meses, não aumentou
muito a exposição dos bancos em
dólar", diz Arana.
Segundo Arana, o único risco de
algum banco ser afetado pela desvalorização do real é se tiver posições de curto prazo protegidas
por operações de "hedge" que
não cubram uma variação do dólar superior a R$ 3. "Isso é muito
difícil de acontecer, pois os bancos fazem hedge, em geral, comprando títulos cambiais do governo", diz ela. Os bancos detêm a
maior parte desses títulos.
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