São Paulo, quarta-feira, 31 de julho de 2002

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ARTIGO

A queda do Brasil

DO "FINANCIAL TIMES"

O declínio continuado dos mercados financeiros brasileiros está se transformando em pânico, e a moeda do país, o real, já debilitada, perdeu quase 10% de seu valor nesta semana.
O problema imediato do Brasil é que o país está perdendo o acesso aos mercados internacionais de capitais, com o corte de suas linhas de crédito e financiamento comercial pelos bancos.
As empresas brasileiras, que precisam rolar US$ 2 bilhões por mês em obrigações denominadas em dólar, vêm adquirindo dólares a fim de amortizar suas dívidas. Isso vem forçando a desvalorização do real e tornando mais pesado o serviço da dívida externa brasileira.
A queda do candidato do governo às eleições presidenciais de outubro, José Serra, nas pesquisas de opinião pública deste mês é parte da razão para o nervosismo dos mercados.
Mas a aversão dos investidores aos riscos vem crescendo por outros motivos, igualmente, como a moratória da dívida argentina e as dificuldades econômicas que continuam a pesar sobre o país vizinho.
Os fundamentos macroeconômicos e financeiros do Brasil são muito melhores do que os da Argentina -o país tem cumprido as metas de seus acordos com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e há alguns anos registra superávit primário em seu orçamento fiscal. Mas o país não foi ajudado por sugestões equivocadas de que enfrenta dificuldades semelhantes às de seu vizinho.
Recentes declarações do secretário norte-americano do Tesouro, Paul O'Neill, dando a entender que a Argentina e o Brasil estão no mesmo barco, foram particularmente prejudiciais.
O que poderia ser feito? As opções não são muito amplas, dadas as restrições políticas vigentes, porque o acordo brasileiro com o FMI termina em dezembro, três meses após as eleições.
Mesmo assim, existe espaço para manobra. O FMI deveria permitir que o Brasil usasse parcela maior de suas reservas (o país atualmente é obrigado a manter reservas cambiais mínimas de US$ 15 bilhões) a fim de defender sua moeda.
Além disso, os principais candidatos oposicionistas brasileiros -Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, de esquerda, e Ciro Gomes, apoiado por uma coalizão de partidos de centro-esquerda e de direita- deveriam considerar seriamente um novo acordo que sustente a estabilidade do país durante o período de transição política. Ainda que um acordo como esse com o FMI possa ter custos em termos eleitorais, o caos financeiro não seria vantajoso para ninguém.
Além disso, no entanto, as dificuldades brasileiras tornam cada vez mais urgente que o governo dos Estados Unidos e os das demais nações do G-7 (os sete países mais industrializados) reexaminem a abordagem empregada para as crises de dívida.
A política que estava em vigor tinha seus defeitos, é certo, mas ela foi abandonada sem que haja acordo em torno de uma substituta. Ajudaria, também, que líderes como Paul O'Neill tomassem mais cuidado com o que dizem.


Tradução de Paulo Migliacci


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