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ARTIGO
A queda do Brasil
DO "FINANCIAL TIMES"
O declínio continuado dos mercados financeiros brasileiros está se transformando em pânico, e a moeda do país, o real, já debilitada, perdeu quase 10% de seu valor nesta semana.
O problema imediato do Brasil é
que o país está perdendo o acesso
aos mercados internacionais de
capitais, com o corte de suas linhas de crédito e financiamento
comercial pelos bancos.
As empresas brasileiras, que
precisam rolar US$ 2 bilhões por
mês em obrigações denominadas
em dólar, vêm adquirindo dólares
a fim de amortizar suas dívidas.
Isso vem forçando a desvalorização do real e tornando mais pesado o serviço da dívida externa
brasileira.
A queda do candidato do governo às eleições presidenciais de outubro, José Serra, nas pesquisas de
opinião pública deste mês é parte
da razão para o nervosismo dos
mercados.
Mas a aversão dos investidores
aos riscos vem crescendo por outros motivos, igualmente, como a
moratória da dívida argentina e as
dificuldades econômicas que continuam a pesar sobre o país vizinho.
Os fundamentos macroeconômicos e financeiros do Brasil são
muito melhores do que os da Argentina -o país tem cumprido as
metas de seus acordos com o FMI
(Fundo Monetário Internacional)
e há alguns anos registra superávit
primário em seu orçamento fiscal. Mas o país não foi ajudado
por sugestões equivocadas de que
enfrenta dificuldades semelhantes às de seu vizinho.
Recentes declarações do secretário norte-americano do Tesouro, Paul O'Neill, dando a entender
que a Argentina e o Brasil estão no
mesmo barco, foram particularmente prejudiciais.
O que poderia ser feito? As opções não são muito amplas, dadas
as restrições políticas vigentes,
porque o acordo brasileiro com o
FMI termina em dezembro, três
meses após as eleições.
Mesmo assim, existe espaço para manobra. O FMI deveria permitir que o Brasil usasse parcela
maior de suas reservas (o país
atualmente é obrigado a manter
reservas cambiais mínimas de
US$ 15 bilhões) a fim de defender
sua moeda.
Além disso, os principais candidatos oposicionistas brasileiros
-Luiz Inácio Lula da Silva, do
PT, de esquerda, e Ciro Gomes,
apoiado por uma coalizão de partidos de centro-esquerda e de direita- deveriam considerar seriamente um novo acordo que
sustente a estabilidade do país durante o período de transição política. Ainda que um acordo como
esse com o FMI possa ter custos
em termos eleitorais, o caos financeiro não seria vantajoso para
ninguém.
Além disso, no entanto, as dificuldades brasileiras tornam cada
vez mais urgente que o governo
dos Estados Unidos e os das demais nações do G-7 (os sete países
mais industrializados) reexaminem a abordagem empregada para as crises de dívida.
A política que estava em vigor tinha seus defeitos, é certo, mas ela foi abandonada sem que haja acordo em torno de uma substituta. Ajudaria, também, que líderes como Paul O'Neill tomassem mais cuidado com o que dizem.
Tradução de Paulo Migliacci
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