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ECONOMIA EM TRANSE
Empresas pedem descontos para quitar débito externo antes do vencimento e ajudam a pressionar o dólar
Empresas antecipam pagamentos externos
FABRICIO VIEIRA
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Sem ter como arcar com todo o
peso de suas das dívidas em dólar,
empresas brasileiras criaram alternativas de emergência para o
pagamento das pendências que
vencem nos próximos meses.
Mas tais saídas estão fazendo com
que o preço do dólar aumente
ainda mais.
Uma das saídas é negociar com
os credores um desconto no valor
total do vencimento em troca do
pagamento imediato da dívida
-ou a antecipação de uma de
suas parcelas. A outra possibilidade é pagar um prêmio -que corresponde a uma porcentagem da
dívida- ao investidor externo.
Em troca, o credor aceita receber o montante total só no futuro.
Na prática, nos contratos assinados entre as partes, a negociação é
feita com base em duas datas.
Uma, anterior ao prazo final de
liquidação do empréstimo, data
essa que é definida entre as partes.
Exemplo: a dívida vence em 2006,
mas há chance de o investidor ou
a empresa decidirem pelo pagamento numa data "x", antes de
2006. E ainda há a data oficial do
pagamento. Agora, as empresas
estão "jogando" com essas datas
na tentativa de procurar uma solução de emergência para postergar o mico que elas têm nas mãos.
Algumas companhias têm pedido um desconto para pagar o débito antes da data oficial de pagamento. Com isso, desembolsam
menos dólares. Ou até mesmo
tentam negociar o pagamento,
mas só para o dia do vencimento
mesmo, daqui a alguns anos. E
para isso, oferecem um prêmio,
uma espécie de sinal.
Nesse barco estão companhias
menores, que não tinham dólares
no cofre e, portanto, têm que recorrer ao mercado à vista. Também caíram nessa armadilha empresas de grande porte, que acreditavam que os credores não exigiriam o pagamento de suas dívidas em data antecipada. Segundo
dados apurados pela Folha em
um banco nacional, todo o setor
privado deve acumular, apenas
em agosto, dívida externa de US$
1,5 bilhão a US$ 1,7 bilhão.
Sem saída
O sufoco das empresas começou a se agudizar a partir de maio.
As linhas de crédito no mercado
externo secaram e a alternativa de
rolagem das dívidas privadas que
vencem -comum até o ano passado- começou a se tornar muito mais difícil.
O percentual de dívidas roladas
pelas empresas despencou de cerca de 96,5% no ano passado para
58% entre janeiro e maio deste
ano. Em junho, o resultado foi
ainda mais desastroso, com a rolagem de apenas 22% dos vencimentos.
""Além de tentarem pagar parte
antecipada da dívida, uma alternativa interessante que surge para
as empresas nesses dias é recomprar títulos de sua dívida, como
eurobônus, que estão sendo negociados em níveis muito baixos.
Em muitos casos, com apenas
60% de seu valor de face", afirma
Fernando Ferreira, diretor da
consultoria Global Invest.
Esse movimento, que o mercado já detecta, tem colaborado para aumentar a pressão sobre o
câmbio. Em um mercado com
poucos investidores dispostos a
oferecer dólares, o aumento de
potenciais compradores levou a
moeda norte-americana aos níveis recordes dos últimos dias.
""O volume de pagamentos efetuados tem superado os programados. São dois os motivos principais: uma tentativa das empresas de se precaverem de um um
dólar em um nível ainda mais alto
quando chegarem os vencimentos, e o medo de que haja mudança nas regras no que se refere a remessas ao exterior quando o próximo governo assumir", afirma
Danny Rappaport, economista da
consultoria Tendências.
Nesse clima de incerteza, saídas
são criadas às pressas. "É nessas
horas de instabilidade que surgem possibilidades como a de pagar prêmios. As companhias vão
tentando achar saídas", disse Ernesto Meyer, diretor do banco
BNP Paribas.
Os analistas deixam claro que o
movimento de subida na cotação
da moeda estrangeira não quer
dizer, necessariamente, que só as
grandes empresas estão na busca
da moeda. Muitas delas já compraram dólares em março e abril,
para quitar débitos que vencem
agora. Portanto, quem tem pressionado muito o mercado são as
companhias menores (com débitos nem tão elevados) que não optaram por esse caminho, por considerar a operação cara. Agora,
pagam pela escolha.
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