São Paulo, quarta-feira, 31 de julho de 2002

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ANÁLISE

Fim de governo limita opções para acerto

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Excluindo os apertos fiscal e monetário de sempre, as grandes incógnitas das conversas que começam hoje em Washington entre o FMI e o Brasil são a duração e o cronograma de desembolsos que um novo programa de ajuste poderia ter.
Até os porteiros do FMI sabem que a missão negociadora encabeçada por Amaury Bier representa uma administração em final de governo. Sua legitimidade para projetar e aceitar metas de inflação e de superávit primário para 2003 é altamente frágil. O presidente do BC, Armínio Fraga, fez o que pôde para obter uma espécie de "procuração" dos candidatos para conduzir uma negociação substancial em Washington. Conseguiu apenas palavras distantes de apoio.
Dado esse quadro, restam opções limitadas. Uma delas seria fechar um novo acordo de até 12 meses que, assinado agora, reservaria parte substancial de seus desembolsos para o ano que vem, sob a condição de que o presidente eleito o referende entre as eleições e a posse. Seu próprio texto traria uma espécie de "cláusula de condição eleitoral".
Segundo um funcionário qualificado do Fundo, o FMI está preparado para dar dinheiro ao Brasil, mas dinheiro não seria a única necessidade do país. Segundo ele, as negociações teriam um pé no presente - a pressão cambial e a dificuldade de as empresas obterem linhas comerciais - e outro no futuro- combater a desconfiança com relação a 2003.
Com relação ao primeiro, uma das opções, relatada ontem pelo jornal "Valor", seria reservar parte da ajuda do FMI às reservas brasileiras para estender linhas de crédito comercial às empresas. Seria uma medida determinando leilões de dólares aos bancos locais, talvez com uma espécie de deságio, com o compromisso de que canalizassem os recursos para os exportadores. "Não acho que funcione", disse à Folha Paulo Leme, analista da Goldman Sachs. "Dinheiro não tem carimbo." Isto é: uma empresa pode obter uma linha do BC mesmo já tendo recursos para financiar exportações de um de seus clientes.
É provável que o FMI e o governo brasileiro reduzam mais uma vez o piso das reservas, para US$ 10 bilhões, e determinem um aperto monetário por meio do aumento do compulsório exigido dos bancos. Seria mais uma contração da oferta de crédito e um aperto da política monetária para encarecer o custo de especular contra o real.
O piso das reservas brasileiras, que excluem os recursos emprestados pelo FMI, está hoje em US$ 15 bilhões. As reservas internacionais estão em cerca de US$ 27 bilhões atualmente.



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