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ANÁLISE
Fim de governo limita opções para acerto
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
Excluindo os apertos fiscal
e monetário de sempre, as
grandes incógnitas das conversas
que começam hoje em Washington entre o FMI e o Brasil são a
duração e o cronograma de desembolsos que um novo programa de ajuste poderia ter.
Até os porteiros do FMI sabem
que a missão negociadora encabeçada por Amaury Bier representa uma administração em final
de governo. Sua legitimidade para
projetar e aceitar metas de inflação e de superávit primário para
2003 é altamente frágil. O presidente do BC, Armínio Fraga, fez o
que pôde para obter uma espécie
de "procuração" dos candidatos
para conduzir uma negociação
substancial em Washington. Conseguiu apenas palavras distantes
de apoio.
Dado esse quadro, restam opções limitadas. Uma delas seria fechar um novo acordo de até 12
meses que, assinado agora, reservaria parte substancial de seus desembolsos para o ano que vem,
sob a condição de que o presidente eleito o referende entre as eleições e a posse. Seu próprio texto
traria uma espécie de "cláusula de
condição eleitoral".
Segundo um funcionário qualificado do Fundo, o FMI está preparado para dar dinheiro ao Brasil, mas dinheiro não seria a única
necessidade do país. Segundo ele,
as negociações teriam um pé no
presente - a pressão cambial e a
dificuldade de as empresas obterem linhas comerciais - e outro
no futuro- combater a desconfiança com relação a 2003.
Com relação ao primeiro, uma
das opções, relatada ontem pelo
jornal "Valor", seria reservar parte da ajuda do FMI às reservas
brasileiras para estender linhas de
crédito comercial às empresas.
Seria uma medida determinando
leilões de dólares aos bancos locais, talvez com uma espécie de
deságio, com o compromisso de
que canalizassem os recursos para os exportadores. "Não acho
que funcione", disse à Folha Paulo Leme, analista da Goldman
Sachs. "Dinheiro não tem carimbo." Isto é: uma empresa pode obter uma linha do BC mesmo já
tendo recursos para financiar exportações de um de seus clientes.
É provável que o FMI e o governo brasileiro reduzam mais uma
vez o piso das reservas, para
US$ 10 bilhões, e determinem um
aperto monetário por meio do aumento do compulsório exigido
dos bancos. Seria mais uma contração da oferta de crédito e um
aperto da política monetária para
encarecer o custo de especular
contra o real.
O piso das reservas brasileiras,
que excluem os recursos emprestados pelo FMI, está hoje em
US$ 15 bilhões. As reservas internacionais estão em cerca de US$
27 bilhões atualmente.
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