São Paulo, quarta-feira, 31 de julho de 2002

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ECONOMIA EM TRANSE

Cotação do dólar e fuga de capitais disparam; missão do país tem encontro com técnicos do FMI

Uruguai fecha bancos para deter corrida

France Presse
Mulher observa cotação do dólar em casa de câmbio do centro de Montevidéu, capital do Uruguai; feriado bancário começou ontem


JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

O governo uruguaio decretou ontem o primeiro feriado bancário em pelo menos 70 anos. O objetivo é tentar conter a crescente fuga de depósitos das instituições financeiras e ganhar tempo para negociar a liberação rápida de um empréstimo do FMI (Fundo Monetário Internacional).
Uma missão de economistas uruguaios esteve ontem em Washington, onde se reuniu com membros do Fundo. O país tenta adiantar a liberação de US$ 600 milhões para recuperar a confiança da população nos bancos,

Dois pacotes
Os recursos fazem parte de dois pacotes de ajuda ao país já aprovados pelo FMI, que envolvem a liberação de US$ 2,25 bilhões nos próximos 18 meses.
A decisão de fechar os bancos para conter o nervosismo do mercado foi tomada pelo Banco Central na manhã de ontem, quando centenas de correntistas se aglomeravam na frente das agências bancárias para sacar seus depósitos. Horas antes, o BC havia anunciado a suspensão do Banco de Montevidéu, o quarto maior do país, que não tinha condições de honrar os depósitos dos correntistas.
Até o fechamento dessa edição, o governo uruguaio ainda não havia decidido se reabriria os bancos hoje. Segundo a imprensa local, o sistema financeiro só voltaria a funcionar na segunda-feira, quando o FMI já teria liberado o novo empréstimo.

Fuga
A corrida bancária no Uruguai teve início em dezembro, quando a Argentina decretou as restrições para os saques de depósitos conhecidas como "corralito".
Com o temor de que o governo uruguaio decretasse restrições semelhantes, a população começou a tirar recursos dos bancos. No primeiro semestre deste ano, o sistema financeiro do país perdeu quase US$ 4,5 bilhões, ou 33% de todos os depósitos.
Parte dos recursos foi utilizada pela população para a compra de dólares, considerado um investimento seguro em momentos de crise. O preço da moeda norte-americana dobrou desde que o governo permitiu a livre flutuação do câmbio em junho, atingindo a cotação de 35 pesos ontem.
Outros depósitos foram transferidos para o exterior, o que derrubou as reservas internacionais do Banco Central em 76% neste ano, para US$ 750 milhões.
O enfraquecimento do sistema financeiro contribuiu para uma rápida deterioração de toda a economia uruguaia, anteriormente conhecida na região por ser um paraíso fiscal.



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