UOL


São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

INFRA-ESTRUTURA

Objetivo é finalizar projetos paralisados, criar empregos e dar à sociedade a perspectiva de crescimento

Governo quer acelerar obras e conter tensão

FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI

DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer acelerar investimentos em projetos de infra-estrutura parados ou em fase de conclusão para tentar criar empregos mais rapidamente e dar a impressão de que o "espetáculo do crescimento" começa neste ano.
Em reunião realizada há duas semanas com todos os ministros, presidentes de estatais e representantes de fundos de pensão, foi apresentado, pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) um plano de investimentos que atingia R$ 400 bilhões em quatro anos. A partir dele, a ordem foi identificar e agilizar as obras prioritárias de cada setor. Mais: buscar recursos disponíveis para executar esses projetos, conforme a Folha adiantou.
A Folha apurou que as medidas emergenciais que o governo deve tomar têm como objetivo também diminuir a tensão social que o país vive nas últimas semanas. Ao anunciar a retomada dessas obras, na análise do governo, a sociedade se tranquilizaria com a perspectiva de crescimento. E os investidores, desestimulados com as medidas econômicas adotadas desde janeiro para conter a inflação, teriam mais incentivo para colocar dinheiro no país.
Técnicos envolvidos nessa ação já estudam deslanchar investimentos nas áreas de energia, habitação popular, saneamento básico e transportes -com recuperação de estradas, das ferrovias e renovação da frota mercante. Além das obras em infra-estrutura, a idéia é implementar políticas industriais -saem do papel as chamadas câmaras setoriais, que voltam com o nome de "fóruns de competitividade".
Os detalhes desses investimentos estão guardados nos ministérios e devem ser anunciados no dia 29 de agosto, quando o presidente Lula entrega ao Congresso Nacional o Plano Plurianual para o período de 2004 a 2007.
"Existem alguns projetos que devem ser realmente acelerados", afirma José Carlos Miranda, chefe da assessoria econômica do Ministério do Planejamento.
No setor de transportes, o governo vai acelerar a recuperação de estradas que hoje estão com 70% da obra em andamento. Uma das obras que deverá ser anunciada em cerca de 15 dias é o término da duplicação da rodovia Fernão Dias (BR-381), estrada que liga São Paulo a Minas Gerais e é considerada importante corredor para o Mercosul.
Técnicos do Ministério dos Transportes informaram que a não-conclusão dessa obra, iniciada em 1994, é considerada um "vexame" pelo governo federal.
Nos próximos 15 dias, a Secretaria de Transporte Aquaviários vai anunciar a construção de dois navios em parceria com a Petrobras. A previsão é criar cerca de 2.000 empregos diretos. "Esse projeto existia há três anos, e há dois estava para ser assinado. O que fizemos foi acelerar a contratação do estaleiro que será responsável pela construção dos dois navios", diz Alex Oliva, secretário.
Os recursos, explica, virão do Fundo da Marinha Mercante, formado a partir de adicional de frete pago pelas embarcações. Esse fundo, criado no final dos anos 50, tem hoje em caixa R$ 1,8 bilhão para investimentos no setor.
O projeto do governo, que consta no Plano Plurianual, é construir 20 navios -12 em parceria com a Petrobras, que a partir de 2005 deve contribuir com cerca de R$ 1 bilhão. Os oito restantes viriam de parcerias com a iniciativa privada. "O Brasil já foi o terceiro maior fabricante de navios. Hoje ocupamos o 25º lugar nesse ranking. Para cada emprego direto criado, outros cinco na cadeia produtiva são gerados. Daí a importância em estimular o setor."
No setor de energia, a expectativa é que o governo Lula libere recursos para a construção de usinas hidrelétricas -como a de Belo Monte, no Pará, que necessita US$ 11 bilhões para ser erguida.
Nesse caso, o governo teria de contar também com a participação da iniciativa privada. "O setor de energia está tão desarranjado que qualquer projeto que tenha participação de capital privado pode encontrar dificuldades. Faltam regras mais claras para o setor", afirma José Augusto Marques, presidente da Abdib (Associação Brasileira da Infra-estrutura e Indústrias de Base).
Além de investimentos em infra-estrutura, o governo pretende acelerar projetos em setores intensivos em mão-de-obra, com políticas industriais específicas.
No caso do setor automotivo, que terá seu fórum de competitividade lançado oficialmente amanhã, a meta é encontrar saídas para incentivar a venda de veículos, garantir empregos e criar vagas.
Um dos programas já está em discussão entre montadoras, autopeças, metalúrgicos e concessionárias. É o plano emergencial para renovação de frota de carros, com redução de impostos (IPI e ICMS) e financiamento facilitado para famílias de baixa renda.
No setor de caminhões, o Desenvolvimento já anunciou a liberação de R$ 2,5 bilhões de verbas do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) para o Modercarga -programa de financiamento de caminhões para autônomos e pequenos frotistas. A meta é criar 120 mil empregos em até quatro anos, com juros menores e financiamento de até 60 meses.


Texto Anterior: Crise no ar: Varig apura em 2002 prejuízo de R$ 2,8 bi
Próximo Texto: Empresariado vê apoio difícil
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.