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LUÍS NASSIF
O contencioso com a Argentina
A vitória obtida pelo Brasil, no
contencioso comercial com a
Argentina, foi o primeiro episódio concreto, em muitos anos,
de ação articulada entre ministérios econômicos, Itamaraty e
setores empresariais, em defesa
de interesses comerciais brasileiros.
Desde o desastroso Acordo de
Ouro Preto -negociado por Ciro Gomes e Winston Fritsch em
1994- o governo aceitou passivamente todas as imposições
comerciais de parceiros, sem esboçar uma linha de defesa minimamente articulada, enquanto o desemprego ia grassando solto. Daí o corte representado por esse episódio.
Os ministros tomaram posse
na terça feira, dia 20. Na quarta, Clóvis Carvalho, novo ministro do Desenvolvimento, pediu
a Botafogo Gonçalves, da Câmara de Comércio Exterior
(Camex), que elaborasse uma
nota dura em relação às salvaguardas argentinas. Botafogo
preparou a minuta e combinaram acertar o jogo com o Itamaraty. Na conversa entre Clóvis e o ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia,
ficou acertado que a divulgação
da nota seria sexta-feira, dia 23.
Coube ao próprio Botafogo fazer a ponte com o Itamaraty,
por meio de Graça Lima, o embaixador que está acompanhando o contencioso.
Na quinta, Botafogo e Graça
Lima combinaram duas notas,
uma dura, outra mais diplomática. Na sexta, Clóvis e Lampreia almoçaram e aproveitaram para articular a ação conjunta.
Na própria sexta, FHC deu sinal verde para que os novos ministros da Agricultura, Pratini
de Moraes, e Integração Nacional, Fernando Bezerra, entrassem no assunto, com um decibel
acima do de Clóvis, para sinalizar para a indústria e agrobusiness que a disposição do governo era entrar firme na disputa.
Na segunda feira, 26, batedores do Itamaraty recolhiam sinais de que a Argentina tinha
acusado o golpe e seus diplomatas já estavam trabalhando em
uma saída. Na terça, dia 27,
Clóvis e Lampreia voltaram a
conversar por telefone, satisfeitos com os primeiros resultados
colhidos. "Meu pessoal me disse
que no fim-de-semana você
continuou soltando os cachorros", brincou Lampreia com
Clóvis. E Clóvis: "Imagina, eu
apenas soltei os poodles. Os rottweiller eu deixei guardados no
canil, por enquanto".
Enquanto Brasília e setores
empresariais emitiam sinais de
fumaça, convocando para a
guerra comercial, Graça Lima
mantinha os canais abertos
com o ministro da Fazenda argentino, Roque Fernández. Embora em tom mais diplomático,
o Itamaraty passou o recado
claro de que a manutenção das
salvaguardas argentinas dificultaria qualquer conversa.
Na terça, 27, FHC convocou a
reunião com os ministros para o
dia seguinte e aproveitou a posse do novo presidente da Federação das Indústrias do Rio
Grande do Sul (Fiergs), Renan
Proença, para orientar os ministros para que estimulassem
os empresários a sair maciçamente no mesmo diapasão do
governo.
Na quarta, 28, houve a reunião no Planalto, com todos os
ministros envolvidos -o chamado grupo desenvolvimentista, com Clóvis, Pratini e Bezerra, mais Lampreia e o ministro
da Fazenda, Pedro Malan.
Na quinta, Menem se propôs a
vir, sinalizando que o governo
argentino estava disposto a rever a posição. A impressão no
Planalto é que Menem pessoalmente avaliou a gravidade da
situação e resolveu trazer para
ele a solução do problema. No
encontro, foi combinada a reunião conjunta entre Clóvis, Malan, Botafogo e Graça Lima com
a equipe argentina. E decidiu-se
pela nota conjunta, entre FHC e
Menem, na qual se acertou a
posição divulgada.
Mappin
Analistas sem visão de mercado, que se movem exclusivamente em cima de posturas
ideológicas, sem nenhuma visão técnica de processos de reestruturação de empresas, determinaram o fim do Mappin.
A posição primária e inconsequente de confundir processo
de reestruturação com operação hospital intimidou gestores
públicos de pouca coragem, que
se recusaram a participar do
plano de aportar recursos para
o fornecimento de mercadorias
em consignação para a empresa -que daria tempo para preparar a sua venda para compradores externos.
Numa penada só, houve perda de R$ 500 milhões -a diferença entre o Mappin funcionando e o Mappin fechado-,
de toda uma organização, com
marca, know-how, rede de fornecedores e 9.000 postos de trabalho.
Esse é o "custo mídia" -um
dos componentes mais fortes e
menos analisados do "custo
Brasil".
E-mail: lnassif@uol.com.br
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