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São Paulo, domingo, 31 de agosto de 2003

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CRÉDITO

Redução foi compensada por maior retorno com operações de financiamento ao governo, por meio da compra de títulos

Bancos têm receita menor com empréstimo

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

A contribuição dos ganhos com empréstimos à população e às empresas para os altos lucros dos bancos diminuiu no primeiro semestre de 2003 em relação ao mesmo período de 2002, atingindo seu menor nível dos últimos seis anos.
Essa queda, no entanto, foi compensada porque aumentou o peso das receitas dos bancos com operações de financiamento ao governo, por meio das compras de títulos públicos.
O movimento é resultado de uma retração real (descontada a inflação medida pelo IGP-M) de 15% na oferta de crédito privado no país, entre julho de 2002 e o mesmo mês neste ano.
Soa contraditório, porém, com o discurso do próprio governo petista que adotou a defesa da necessidade de aumento dos empréstimos ao setor privado como uma de suas principais bandeiras.
As conclusões são baseadas em levantamento da consultoria ABM Consulting com base nos balanços do primeiro semestre de 2003 de 27 bancos. Os dados mostram que o percentual dos retornos das instituições com operações de crédito sobre a receita financeira total (descontados o retorno com serviços) caiu de 51% em junho do ano passado para 46% no mesmo período de 2003. Isso representa o menor patamar para um primeiro semestre dos últimos seis anos.
Por outro lado, os ganhos com operações de títulos e valores mobiliários representaram 43% das receitas financeiras no primeiro semestre deste ano. Esse percentual cresceu em relação aos 39% atingidos no mesmo período de 2002 e -empatado com o resultado registrado em 2001- é o maior dos últimos seis anos também para um primeiro semestre.
Esse cenário é consequência, principalmente, das altas taxas de juros que se mantiveram em 26,5% entre fevereiro e junho deste ano, maior nível atingido no Brasil desde maio de 1999.
O arrocho monetário fez com que a oferta de crédito privado despencasse. Em tempos de juros elevados, bancos fogem de empréstimos ao setor privado, principalmente porque temem o aumento da inadimplência.
Por outro lado, os juros altos aumentaram os encargos do governo com o pagamento de sua volumosa dívida pós-fixada. Os grandes beneficiados por isso foram justamente os bancos, principais financiadores do governo federal.
"O primeiro semestre de 2003, em que os juros foram elevados para combater a alta inflação, acabou dando continuidade ao cenários dos últimos anos em que os bancos lucraram alto com operações de tesouraria", afirma João Augusto Salles, analista de bancos da consultoria Lopes Filho.
Crítico mordaz do governo FHC, cuja política econômica implicou quase sempre a manutenção de juros altos, o PT acabou seguindo o mesmo rumo nos seus primeiros seis meses de administração. A expectativa agora é que os juros continuem a recente trajetória de queda, o que tende a forçar um aumento na oferta crédito privado pelos bancos.


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