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São Paulo, domingo, 31 de agosto de 2003

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MORATÓRIA PLATINA

Economistas calculam necessidade de expansão de 3% ao ano por dez anos para honrar vencimentos

Argentina só paga dívida se crescer muito

ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES

A Argentina precisa crescer a uma taxa média de 3% ao ano nos próximos dez anos para ter condições de honrar os vencimentos de sua dívida, incluindo a que está em moratória. A estimativa foi calculada para a Folha por economistas e analistas financeiros.
O país também teria de se comprometer com um superávit primário (receitas menos despesas, excluindo o pagamento de juros) de, no mínimo, 3,5% do PIB (Produto Interno Bruto). Ou seja, uma taxa superior a que o país está disposto a aceitar como meta no novo acordo que negocia com o FMI (Fundo Monetário Internacional). O governo não pretende economizar mais do que 3% do PIB. O FMI exige um superávit entre 3,5% e 4%.
A título de comparação, o Brasil se comprometeu a realizar economia de 4,25% do PIB neste ano para pagar juros e, assim, amortizar sua dívida.
Até o dia 31 de março, último dado que o Ministério da Economia divulgou, a dívida externa argentina era de US$ 145,5 bilhões, dos quais US$ 76 bilhões estão em moratória desde dezembro de 2001. Até o final deste ano, a estimativa do ministério é que esse valor supere os US$ 180 bilhões, resultado do acúmulo de juros sobre a dívida que não está sendo paga há quase dois anos.
"O crescimento é uma variável central, mas não é a única. O esforço fiscal também pesa", afirma Guillermo Mondino, economista da consultoria Macro Vision.
Segundo Mondino, o ideal seria o governo concordar com um maior aperto fiscal nos anos de crescimento para ter uma "reserva" de recursos nos anos de expansão mais "tímida".
O governo argentino estima que, neste ano, a economia irá cresce entre 5% e 5,5%. Para o FMI, a expansão será de 4,8% em 2003 e de 4% em 2004, menos que os 4,5% previstos anteriormente. "É bom lembrar que a forte expansão deste ano acontece porque a base de comparação é muito ruim. Dificilmente o país terá condições de manter esse ritmo nos próximos anos", afirma o economista.
Entre 1998 e 2002, o PIB argentino sofreu uma retração de quase 20%.

Reestruturação
A intenção do governo é lançar até o final de setembro a proposta de reestruturação da dívida que está em moratória. Essa data, no entanto, não é considerada "viável" para a maioria dos analistas.
"É uma reestruturação muito complexa e o governo não terá tempo suficiente. Além disso, antes de analisar qualquer oferta, os credores querem ver como será o acordo que se negocia com o FMI", afirma Ricardo Amorim, analista para América Latina da consultoria Idea Global.
Pelo menos 152 tipos diferentes de bônus estão em moratória.
O secretário de Finanças, Guillermo Nielsen, responsável pelas negociações com os credores internacionais, já adiantou algumas das propostas que devem ser apresentadas pelo governo.
Uma delas seria trocar os bônus que estão em moratória por outros que teriam rendimento atrelado ao crescimento da economia. Ou seja, quando a expansão for maior, paga-se mais e vice-versa.
O governo estuda ainda reduzir o valor nominal da dívida (ou seja, abater o preço do título) entre 50% e 70% ou combinar redução do valor de face dos papéis com menor taxa de juros. Neste caso, o corte no preço de face seria menor, entre 20% e 30%.
Outra alternativa seria manter o valor nominal da dívida, desde que o investidor concorde em alongar os vencimentos para prazos de 10 e 12 anos.
"O governo teria de negociar uma taxa de juros média de 8%. Essa seria a condição para que a dívida não volte a ser explosiva no futuro", disse Amorim.
O analista considera ainda que o governo poderá contar com o chamado "período de graça". Ou seja, ficaria isento de pagamentos de juros e amortizações por um período de dois ou três anos para ajustar as finanças.


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