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LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
A inflação está de volta?
O preço dos produtos e serviços que não são afetados pela importação subiu acima da média pela 1ª vez em meses
OS ÍNDICES que medem a inflação têm surpreendido o mercado nestas últimas semanas. O último deles, o IGP-M (Índice
Geral de Preços - Mercado) de agosto, chegou próximo de 1%, muito
acima do esperado. Os números recentes da inflação no atacado estão
fortemente influenciados pelo comportamento dos preços agrícolas. A
variação dos preços desses produtos
está próxima de 13% ao ano, afetando também os alimentos industrializados e, de forma incipiente, o segmento de refeições fora do domicílio.
Já a inflação de outros produtos
industriais está bem comportada,
em torno de 2% ao ano nos 12 meses
até agosto. Essa situação caracteriza
o que os economistas chamam de
crescimento de preços por choque
de oferta -mesmo que esse choque
se dê fora do Brasil-, e não por descompasso de demanda.
Isso pode ser visto de maneira
mais clara quando acompanhamos
os chamados núcleos da inflação,
que retiram do cálculo dos índices os
preços mais voláteis, como os de origem agrícola. Tenho escrito com freqüência nesta coluna que as importações crescentes têm funcionado
como uma válvula reguladora entre
o consumo que avança a taxas vigorosas -mais de 6% ao ano- e a oferta de produtos como automóveis e
outros bens duráveis.
Mas a última medida dos preços
ao consumidor, realizada em agosto
-o chamado IPCA-15 (Índice de
Preços ao Consumidor Amplo -15)-
, trouxe uma novidade em relação
aos meses anteriores. Os preços dos
produtos e serviços que não são afetados pelas importações tiveram
crescimento acima da média pela
primeira vez em vários meses. Esses
itens -chamados de não-comercializáveis pelos economistas- dependem basicamente do equilíbrio entre oferta e procura no mercado interno. As importações não podem
compensar, como ocorre com os
bens comercializáveis, eventuais desequilíbrios entre oferta e demanda.
Nesse caso, o grau de utilização de
recursos na economia -incluindo o
mercado de trabalho- e a produtividade é que definem a dinâmica da
inflação.
Se o resultado do último IPCA-15
persistir nos próximos meses -e
aqui é importante salientar que o último dado pode ser simplesmente
uma compensação de meses de
crescimento abaixo da média desses
preços-, a inflação terá mudado de
dinâmica, passando a ser uma questão a ser enfrentada pelo Banco
Central.
Sabemos que o consumo do brasileiro tem crescido a taxas próximas
de 6% ao ano, ritmo que só pode ser
mantido com a contribuição das importações e do aumento da capacidade produtiva interna. Esses dois
fenômenos vêm ocorrendo nos últimos trimestres, limitando a inflação
nos bens duráveis. Mas o último IPCA-15 é um alerta de que o consumo
acelerado pode estar chegando a setores menos atingidos por esses dois
fatores. Confirmando esse comportamento, poderemos estar diante de
uma necessária redução do ritmo de
crescimento do consumo dos brasileiros.
Estudo realizado pela economista
Marina Santos, da Quest Investimentos, mostra que o fator mais importante por trás do consumo das
famílias tem sido o crescimento do
crédito às pessoas físicas. Entre
meados de 2005 e julho de 2007, o
volume de crédito para o consumo
dobrou, ao passar de 5,5% para mais
de 11% do PIB (Produto Interno
Bruto). A continuidade desse crescimento do crédito pode se tornar
problemática para a política monetária, caso se confirme uma dinâmica menos benigna para a inflação.
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 64, engenheiro e
economista, é economista-chefe da Quest Investimentos.
Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações
(governo FHC).
lcmb2@terra.com.br
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