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Crise não reduz a confiança da indústria
Sondagem da Fundação Getulio Vargas aponta leve alta em índice de confiança do setor, que atinge um novo recorde
Uso da capacidade instalada também cresce, mas economista vê importações como saída caso aquecimento ameace oferta
YGOR SALLES
DA FOLHA ONLINE
O setor industrial não só está
otimista -a ponto de relevar a
crise do crédito de alto risco
nos EUA-, como em alguns setores já há até possíveis sinais
de superaquecimento. Essa foi
uma das principais conclusões
da Sondagem Conjuntural da
Indústria da Transformação de
agosto, organizado pela FGV
(Fundação Getulio Vargas).
O ICI (Índice de Confiança
da Indústria) em agosto, mês
de turbulência financeira global, manteve-se em alta, batendo novo recorde. Calculado
desde 1995, ele atingiu 121,8 no
mês passado, uma leve alta de
0,1% sobre julho e de 14,6% sobre o mesmo mês de 2006. O
Índice de Expectativas também bateu recorde, a 120,3 -alta de 0,2% sobre julho e de
11,9% sobre agosto de 2006.
"Esta foi a primeira sondagem após a crise e não percebemos nada de anormal. Seguiu o
ritmo", disse Aloísio Campelo
Júnior, coordenador do Núcleo
de Pesquisas e Análises Econômicas do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia), da FGV. "O
crescimento ainda segue concentrado em alguns setores, como metalurgia, material de
transporte e alguns alimentícios. Mas alguns prejudicados
pelo câmbio [têxtil, calçados] se
aproveitaram da demanda interna. Não estão em uma fase
de boom, mas já saíram do fundo do poço."
As previsões de produção e
de contratação também subiram. Metade das empresas entrevistadas prevê alta na produção, enquanto só 4% esperam redução. Em agosto de
2006, eram 39% considerando
produção em alta e 13% em baixa. O de emprego é um pouco
menos otimista: 34% esperam
contratar mais e 6%, demitir.
A indústria automotiva, por
exemplo, vive o melhor ano de
sua história, com perspectiva
de vendas recordes no mercado
interno de 2,3 milhões de veículos, superando o pico de 97.
"De 1997 para cá, a indústria
automobilística investiu US$
20 bilhões para atender à perspectiva de crescimento da demanda, que não ocorreu por
causa das crises financeiras na
Ásia e na Rússia. Hoje, o mercado nos pegou com capacidade
de produção de 3,6 milhões de
carros, incluindo o Mercosul",
disse o vice-presidente da General Motors, José Carlos Pinheiro Neto.
Segundo ele, novos investimentos ainda podem ocorrer,
sobretudo em tecnologia. "Hoje, não há nenhum indicativo
de que o consumo diminua. A
turbulência dos mercados não
afetou o setor, nem lá fora, e as
vendas continuam crescendo.
O mercado está absolutamente
comprador", disse.
Segundo a pesquisa da FGV,
os índices de estoque e de uso
da capacidade instalada -reflete a quantidade de produtos
que é possível fabricar com as
máquinas e unidades disponíveis- também se alteraram a
ponto de sinalizar superaquecimento em alguns setores.
O uso da capacidade instalada em agosto ficou em 85,7%, a
mais alta desde abril de 1995
(85,9%). Já as empresas que
consideram seus estoques insuficientes (7%) passou a dos
que consideram excesso (6%)
também pela primeira vez desde abril de 1995.
Para Campelo, há sinais fortes de investimentos em curso.
Segundo ele, isso garante que a
capacidade instalada vai se
manter no nível atual, sem risco de desabastecimento, e que a
indústria seguirá aquecida.
Porém, há algumas exceções.
Dos 21 setores pesquisados,
quatro têm capacidade instalada mais alta que a média e estoque baixo, em situação mais
crítica. São os de metalurgia,
mecânica, material de transportes e alimentos.
Mas Campelo não prevê problema de desabastecimento -o
que pressionaria os preços para
cima- por causa do aquecimento em alguns setores. O
real valorizado, que barateia as
importações, ajuda. "O esgotamento seria resolvido com importações", disse ele.
Colaborou DEISE DE OLIVEIRA, da Folha Online
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