São Paulo, sexta-feira, 31 de agosto de 2007

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Crise não reduz a confiança da indústria

Sondagem da Fundação Getulio Vargas aponta leve alta em índice de confiança do setor, que atinge um novo recorde

Uso da capacidade instalada também cresce, mas economista vê importações como saída caso aquecimento ameace oferta

YGOR SALLES
DA FOLHA ONLINE

O setor industrial não só está otimista -a ponto de relevar a crise do crédito de alto risco nos EUA-, como em alguns setores já há até possíveis sinais de superaquecimento. Essa foi uma das principais conclusões da Sondagem Conjuntural da Indústria da Transformação de agosto, organizado pela FGV (Fundação Getulio Vargas).
O ICI (Índice de Confiança da Indústria) em agosto, mês de turbulência financeira global, manteve-se em alta, batendo novo recorde. Calculado desde 1995, ele atingiu 121,8 no mês passado, uma leve alta de 0,1% sobre julho e de 14,6% sobre o mesmo mês de 2006. O Índice de Expectativas também bateu recorde, a 120,3 -alta de 0,2% sobre julho e de 11,9% sobre agosto de 2006.
"Esta foi a primeira sondagem após a crise e não percebemos nada de anormal. Seguiu o ritmo", disse Aloísio Campelo Júnior, coordenador do Núcleo de Pesquisas e Análises Econômicas do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia), da FGV. "O crescimento ainda segue concentrado em alguns setores, como metalurgia, material de transporte e alguns alimentícios. Mas alguns prejudicados pelo câmbio [têxtil, calçados] se aproveitaram da demanda interna. Não estão em uma fase de boom, mas já saíram do fundo do poço."
As previsões de produção e de contratação também subiram. Metade das empresas entrevistadas prevê alta na produção, enquanto só 4% esperam redução. Em agosto de 2006, eram 39% considerando produção em alta e 13% em baixa. O de emprego é um pouco menos otimista: 34% esperam contratar mais e 6%, demitir.
A indústria automotiva, por exemplo, vive o melhor ano de sua história, com perspectiva de vendas recordes no mercado interno de 2,3 milhões de veículos, superando o pico de 97.
"De 1997 para cá, a indústria automobilística investiu US$ 20 bilhões para atender à perspectiva de crescimento da demanda, que não ocorreu por causa das crises financeiras na Ásia e na Rússia. Hoje, o mercado nos pegou com capacidade de produção de 3,6 milhões de carros, incluindo o Mercosul", disse o vice-presidente da General Motors, José Carlos Pinheiro Neto.
Segundo ele, novos investimentos ainda podem ocorrer, sobretudo em tecnologia. "Hoje, não há nenhum indicativo de que o consumo diminua. A turbulência dos mercados não afetou o setor, nem lá fora, e as vendas continuam crescendo.
O mercado está absolutamente comprador", disse. Segundo a pesquisa da FGV, os índices de estoque e de uso da capacidade instalada -reflete a quantidade de produtos que é possível fabricar com as máquinas e unidades disponíveis- também se alteraram a ponto de sinalizar superaquecimento em alguns setores.
O uso da capacidade instalada em agosto ficou em 85,7%, a mais alta desde abril de 1995 (85,9%). Já as empresas que consideram seus estoques insuficientes (7%) passou a dos que consideram excesso (6%) também pela primeira vez desde abril de 1995.
Para Campelo, há sinais fortes de investimentos em curso. Segundo ele, isso garante que a capacidade instalada vai se manter no nível atual, sem risco de desabastecimento, e que a indústria seguirá aquecida.
Porém, há algumas exceções. Dos 21 setores pesquisados, quatro têm capacidade instalada mais alta que a média e estoque baixo, em situação mais crítica. São os de metalurgia, mecânica, material de transportes e alimentos. Mas Campelo não prevê problema de desabastecimento -o que pressionaria os preços para cima- por causa do aquecimento em alguns setores. O real valorizado, que barateia as importações, ajuda. "O esgotamento seria resolvido com importações", disse ele.


Colaborou DEISE DE OLIVEIRA, da Folha Online


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