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VINICIUS TORRES FREIRE
Um rótulo à procura de uma idéia
Economia vive as benesses do "social-desenvolvimentismo", diz Mantega, mas novo rótulo só superfatura idéias prontas
A NOMEAÇÃO de economistas
de esquerda para cargos da
periferia do poder do governo
Lula tem parecido uma tentativa de
arejar a retórica econômica oficial,
de ares tucano-liberais faz pelos 15
anos. É Luciano Coutinho no
BNDES, Marcio Pochmann (Unicamp) e João Sicsú (UFRJ) no Ipea,
além da inefável "alternativa transformadora" de Mangabeira Unger,
da Secretaria de Planejamento de
Longo Prazo, que tocou as mudanças no Ipea. No "longo prazo" talvez
as idéias do governo Lula mudem.
No curto prazo, vale para manter a
"honra da casa" esquerdista.
Mas hoje soubemos pelo ministro
Guido Mantega que um novo modelo econômico já formata a atividade
produtiva nacional: é o social-desenvolvimentismo, novidade anunciada na reunião da cúpula do governo. Segundo o ministro da Fazenda,
o social-desenvolvimentismo se traduz no atual ciclo de "crescimento
sustentado" (de dois anos e pico, na
verdade), combinado com redistribuição de renda e redução da pobreza. Os novos economistas do governo então seriam apenas coadjuvantes tardios na elaboração desse novo
modelo, burilado aos trancos e barrancos no governo Lula?
O que seria o social-desenvolvimentismo na prática, visto que seus
pressupostos teóricos ainda não foram explicitados por Mantega?
Na base da máquina do modelo está um Banco Central mais conservador que o dos tucanos, BC que baixou a inflação a 3% e pouco, acumulou reservas e estabilizou as finanças
do país (apesar do preço salgado).
Mas o BC é quase uma satrapia ou
ducado autônomo, conduzido por
um duque tucano e antigo desafeto
do Ministério da Fazenda.
A máquina do social-desenvolvimentismo é azeitada por dois canais. Um é o brutal aumento de consumo do complexo China e cia., que
lubrifica com dólares o nosso comércio exterior e as nossas reservas.
O outro lubrificante é obtido nas
moendas de imposto, que trituram
as rendas de famílias e empresas.
Ou seja, a máquina do crescimento de Mantega foi montada num
desmanche de idéias e instituições
dos últimos 15 anos. A política monetária e de abertura financeira veio
do tucanato fernandino. O aumento
do superávit primário é uma peça
tucana recondicionada pelo paloccismo. O baixo nível de investimento público foi achado no lixão tucano
e pouco mudou, mesmo com as injeções cada vez maiores de arrecadação de imposto no caixa do governo.
O Bolsa Família era um motorzinho
tucano que foi turbinado pelo governo Lula, é verdade. Parte da redistribuição de renda foi um resultado
não-intencional da abertura comercial, que fez as empresas se espalharem pelo país, à procura de trabalho
mais barato que o das metrópoles.
Para não se alongar sobre o desmanche lulo-fernandino, o mais importante é perguntar: quais as mudanças institucionais implementadas pelo lulismo, mudanças que alteraram de modo estrutural a distribuição de capital, renda e empregos
pelo país e entre as classes sociais?
Aumentar o salário mínimo, o benefício das aposentadorias e as Bolsas pode ser meritório, mas tem um
limite fiscal e não altera a estrutura
econômica. Enfim, por ora, o social-desenvolvimentismo é um rótulo à
procura de uma idéia.
vinit@uol.com.br
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