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CONJUNTURA
Crescimento previsto para o ano 2000 não deve gerar empregos suficientes para derrubar as taxas
Expansão volta, mas com desemprego
RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local
A economia deve crescer no ano
que vem, mas a boa notícia não
será suficiente para melhorar a vida de boa parte dos brasileiros.
Segundo projeções de bancos e de
consultorias, o país crescerá entre
2,4% e 3,5% no ano que vem, mas
o desemprego permanecerá acima de 7%, índice médio de 1999,
medido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Os economistas estão fechando
neste mês as previsões que serão
usadas como base do orçamento
do ano 2000 de bancos e de empresas. Em geral, o retrato é parecido. Depois de dois anos de estagnação, sem crescimento, a economia voltará a se mover.
A recuperação será puxada
principalmente pelas indústrias.
Com a queda nos juros, os consumidores voltarão a comprar a
prazo bens como eletrodomésticos e carros. Além disso, as empresas foram beneficiadas pela
desvalorização do real e poderão
exportar mais.
As fábricas deverão contratar
mais pessoal para atender às novas encomendas. É uma boa notícia, mas, de acordo com os especialistas, só será suficiente para
evitar a alta ou provocar uma pequena diminuição na fila de desempregados.
Segundo o IBGE, existe cerca de
1,3 milhão de pessoas sem trabalho nas seis maiores capitais. Nas
contas do Dieese, que inclui em
seu cálculo as pessoas que vivem
de "bico", o número chega a 3 milhões de desempregados.
Os economistas acreditam que a
taxa de desemprego ficará no ano
que vem entre 7,0% e 8,3% da População Economicamente Ativa,
segundo o método do IBGE. Seria
um resultado parecido ou até
maior do que o mais recente índice divulgado pelo IBGE, de 7,4%,
em setembro.
"A indústria vai se recuperar,
mas a atividade esteve tão fraca
nos dois últimos anos que voltaremos ao nível de produção de
97", diz o economista-chefe Santander, Dany Rappaport.
Existem duas explicações para a
repetição da taxa de desemprego
no ano que vem. A primeira delas
é de ordem tecnológica, uma vez
que o trabalho manual tem sido
cada vez mais substituído por
máquinas e equipamentos.
Até os anos 80, cada ponto percentual de aumento do PIB (Produto Interno Bruto) correspondia
a um ponto de crescimento na
oferta de empregos. Agora, quando a economia cresce 1%, o número de vagas só aumenta 0,5%.
"As empresas estão trabalhando com cada vez menos gente e os
processos de redução de pessoal
para ganhar produtividade devem continuar no ano que vem",
diz o ex-ministro da Fazenda,
Mailson da Nóbrega.
Outro motivo é que 1,8 milhão
de pessoas entra no mercado de
trabalho a cada ano. Mesmo que a
economia cresça os 4% imaginados pelo governo, a criação de novas vagas não seria suficiente para
atender aos novos profissionais e
ainda reduzir a velha fila de desempregados.
Nas contas do economista Antonio Prado, do Dieese, o Brasil
precisa crescer 4%, todo ano, durante uma década, para que o índice recorde de desemprego caia
pela metade e volte ao nível de
1990.
"A economia teria de crescer
entre 5% e 6% ao ano para atender à chegada de mais gente ao
mercado de trabalho e ainda reduzir a taxa de desemprego", diz
Prado.
A recuperação econômica terá
impacto muito diferente em cada
ramo produtivo. Em 1999, a agricultura apresentou o melhor resultado e foi a responsável por
evitar que o PIB brasileiro sofresse uma forte queda depois da desvalorização do real.
No ano que vem, a agricultura
deverá crescer bem menos, principalmente porque a base de comparação é alta. Mas também porque os custos de produção subiram (a maioria dos fertilizantes é
importada) e a estiagem está afetando a produção de grãos, especialmente café.
"O ano que vem será o das cidades", diz José Antonio Pena, economista-chefe do BankBoston.
"As atividades tipicamente urbanas ficaram estagnadas ou caíram
em 1999 e devem crescer por volta
de 3% no ano que vem."
Os economistas estão apostando no crescimento de indústrias
exportadoras, produtoras de bens
duráveis (móveis, eletrodomésticos, automóveis) e prestadoras de
serviços, como empresas de telecomunicações.
"Nesses setores, será mais fácil
para os trabalhadores conseguir
emprego e renegociar salário", diz
o economista-chefe do Lloyds,
Odair Abate. "Mas, em geral, será
difícil obter ganhos salariais porque o índice de desemprego permanecerá alto."
Em 1999, a renda dos trabalhadores caiu cerca de 4%, de acordo
com o Dieese. A perda é atribuída
principalmente à corrosão dos salários pela inflação.
Para o ano que vem, os economistas estão prevendo inflação
entre 4% e 8% ao ano. "Como a
renda está em queda, as pessoas
terão de remanejar gastos e comprar a prazo se quiserem aumentar seu consumo", diz Rappaport.
"Por isso, não dá para ser muito
otimista com a retomada do crescimento econômico."
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