São Paulo, Domingo, 31 de Outubro de 1999
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CONJUNTURA
Crescimento previsto para o ano 2000 não deve gerar empregos suficientes para derrubar as taxas
Expansão volta, mas com desemprego

RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local

A economia deve crescer no ano que vem, mas a boa notícia não será suficiente para melhorar a vida de boa parte dos brasileiros. Segundo projeções de bancos e de consultorias, o país crescerá entre 2,4% e 3,5% no ano que vem, mas o desemprego permanecerá acima de 7%, índice médio de 1999, medido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Os economistas estão fechando neste mês as previsões que serão usadas como base do orçamento do ano 2000 de bancos e de empresas. Em geral, o retrato é parecido. Depois de dois anos de estagnação, sem crescimento, a economia voltará a se mover.
A recuperação será puxada principalmente pelas indústrias. Com a queda nos juros, os consumidores voltarão a comprar a prazo bens como eletrodomésticos e carros. Além disso, as empresas foram beneficiadas pela desvalorização do real e poderão exportar mais.
As fábricas deverão contratar mais pessoal para atender às novas encomendas. É uma boa notícia, mas, de acordo com os especialistas, só será suficiente para evitar a alta ou provocar uma pequena diminuição na fila de desempregados.
Segundo o IBGE, existe cerca de 1,3 milhão de pessoas sem trabalho nas seis maiores capitais. Nas contas do Dieese, que inclui em seu cálculo as pessoas que vivem de "bico", o número chega a 3 milhões de desempregados.
Os economistas acreditam que a taxa de desemprego ficará no ano que vem entre 7,0% e 8,3% da População Economicamente Ativa, segundo o método do IBGE. Seria um resultado parecido ou até maior do que o mais recente índice divulgado pelo IBGE, de 7,4%, em setembro.
"A indústria vai se recuperar, mas a atividade esteve tão fraca nos dois últimos anos que voltaremos ao nível de produção de 97", diz o economista-chefe Santander, Dany Rappaport.
Existem duas explicações para a repetição da taxa de desemprego no ano que vem. A primeira delas é de ordem tecnológica, uma vez que o trabalho manual tem sido cada vez mais substituído por máquinas e equipamentos.
Até os anos 80, cada ponto percentual de aumento do PIB (Produto Interno Bruto) correspondia a um ponto de crescimento na oferta de empregos. Agora, quando a economia cresce 1%, o número de vagas só aumenta 0,5%.
"As empresas estão trabalhando com cada vez menos gente e os processos de redução de pessoal para ganhar produtividade devem continuar no ano que vem", diz o ex-ministro da Fazenda, Mailson da Nóbrega.
Outro motivo é que 1,8 milhão de pessoas entra no mercado de trabalho a cada ano. Mesmo que a economia cresça os 4% imaginados pelo governo, a criação de novas vagas não seria suficiente para atender aos novos profissionais e ainda reduzir a velha fila de desempregados.
Nas contas do economista Antonio Prado, do Dieese, o Brasil precisa crescer 4%, todo ano, durante uma década, para que o índice recorde de desemprego caia pela metade e volte ao nível de 1990.
"A economia teria de crescer entre 5% e 6% ao ano para atender à chegada de mais gente ao mercado de trabalho e ainda reduzir a taxa de desemprego", diz Prado.
A recuperação econômica terá impacto muito diferente em cada ramo produtivo. Em 1999, a agricultura apresentou o melhor resultado e foi a responsável por evitar que o PIB brasileiro sofresse uma forte queda depois da desvalorização do real.
No ano que vem, a agricultura deverá crescer bem menos, principalmente porque a base de comparação é alta. Mas também porque os custos de produção subiram (a maioria dos fertilizantes é importada) e a estiagem está afetando a produção de grãos, especialmente café.
"O ano que vem será o das cidades", diz José Antonio Pena, economista-chefe do BankBoston. "As atividades tipicamente urbanas ficaram estagnadas ou caíram em 1999 e devem crescer por volta de 3% no ano que vem."
Os economistas estão apostando no crescimento de indústrias exportadoras, produtoras de bens duráveis (móveis, eletrodomésticos, automóveis) e prestadoras de serviços, como empresas de telecomunicações.
"Nesses setores, será mais fácil para os trabalhadores conseguir emprego e renegociar salário", diz o economista-chefe do Lloyds, Odair Abate. "Mas, em geral, será difícil obter ganhos salariais porque o índice de desemprego permanecerá alto."
Em 1999, a renda dos trabalhadores caiu cerca de 4%, de acordo com o Dieese. A perda é atribuída principalmente à corrosão dos salários pela inflação.
Para o ano que vem, os economistas estão prevendo inflação entre 4% e 8% ao ano. "Como a renda está em queda, as pessoas terão de remanejar gastos e comprar a prazo se quiserem aumentar seu consumo", diz Rappaport. "Por isso, não dá para ser muito otimista com a retomada do crescimento econômico."


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