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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Bug explica a fase de calmaria nos mercados
GILSON SCHWARTZ
da Equipe de Articulistas
Faltam apenas dois meses para
o fim de 1999 e, a julgar pelas projeções mais comuns no final do
ano passado, esse foi um ano quase milagroso. Para os mercados
emergentes, a expectativa de catástrofe e novos ciclos de contágio
foi totalmente furada. Isso já não é
novidade. A surpresa está no relatório divulgado na semana passada pela OCDE (Financial Market
Trends).
Para os especialistas desse organismo, foram as expectativas com
os problemas relacionados ao
"bug" do ano 2000 que "influenciaram significativamente, e continuarão a influenciar", a formação de preços e a tomada de decisões dos investidores globais.
A OCDE lembra que o período
final de cada ano é geralmente caracterizado por movimentos cautelosos. Os investidores preferem
ficar mais "líquidos", ou seja, com
dinheiro em mãos ou ativos financeiros seguros e de fácil liquidação. A disposição a oferecer
empréstimos é menor. A grande
maioria das empresas mobiliza
seus especialistas em contabilidade e engenharia fiscal para "embelezar" os balanços no final do
ano.
Mas, para a OCDE, o medo de
problemas decorrentes do "bug"
tem exacerbado esses comportamentos, estreitando os mercados
e, assim, reduzindo também o espaço para grandes ondas especulativas.
O relatório chama a atenção para três fatores de risco que estariam afetando a formação de preços de ativos financeiros de duração mais longa. Esses fatores
atuam diretamente sobre as expectativas dos investidores.
O primeiro é o medo de que o
bug do milênio dê início a um novo ciclo de instabilidade macroeconômica. O segundo, mais localizado, é o medo de que alguns
mercados se mostrem despreparados para enfrentar o problema
dos computadores. Na era da globalização, engasgos localizados
podem provocar convulsões em
escala planetária. Finalmente, a
preferência dos investidores por
posições de alta liquidez pode deprimir o preço de vários ativos.
Até onde essa deflação de ativos
pode chegar é assunto para adivinhos.
Mas é óbvio que nem todo o risco financeiro atual decorre do
bug. A OCDE registra a maior
cautela dos investidores mesmo
nos EUA, onde em tese a expansão da economia dilui todos os temores. Na prática, no entanto, o
custo de captação de recursos para as empresas continua mais alto
do que era antes da crise russa. A
"incerteza percebida" está num
nível "relativamente alto".
O outro lado da expansão norte-americana é o excesso de oferta
de papéis de empresas (o volume,
recorde no terceiro trimestre,
chegou a US$ 250 bilhões). Há
uma "superabundância".
Para os que continuam animados com os ganhos em Bolsa, o relatório da OCDE vem ilustrado
por um gráfico que mostra o índice de volatilidade do mercado
acionário (ou seja, as margens de
variação das cotações, um indicador de sua instabilidade para cima e para baixo). Entre 1996 e
1999, o índice dobrou e continua
acima do nível médio registrado
no decorrer da crise asiática.
Outro indicador relevante, ignorado no dia-a-dia das manchetes sobre o Dow Jones, é o aumento do número de operações de recompra ("buy-backs"), fusões e
aquisições. Isso empurra os índices para cima, mas a oferta líquida
de ações encolheu US$ 185 bilhões em 1998 (os dados da OCDE
vão até o primeiro trimestre de
1999, quando o encolhimento foi
da ordem de 24%).
Se o bug explica a calmaria e outros indicadores revelam um
mercado efusivo, mas frágil, parece que o melhor a fazer é deixar as
barbas de molho no começo do
século 21.
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