São Paulo, Domingo, 31 de Outubro de 1999
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"No futuro vai haver uma só companhia"

da Sucursal de Brasília

O presidente da Vasp, Wagner Canhedo, alvoroçou o mercado e assustou as demais companhias aéreas, ao lançar a idéia de uma "holding" para o setor, a Air Latina. Ele, entretanto, mantém: "É preciso fazer efetivamente a fusão, para ganhar em escala".

Folha - Por que a fusão?
Wagner Canhedo
- É uma necessidade da indústria do transporte aéreo. Ou nós vamos botar os pés no chão e cair na realidade, ou as quatro companhias aéreas acabam se prejudicando.

Folha - Em quanto tempo?
Canhedo
- Talvez agora já saia alguma fusão entre companhias, ficando duas ou três. No futuro vai haver uma só companhia. Em dois a três anos, no máximo.

Folha - Qual o modelo?
Canhedo
- Haveria uma "holding" e ela seria a proprietária da Varig, da TAM, da Vasp, da Transbrasil. Cada uma com seu percentual, de acordo com o seu patrimônio real. Não há necessidade de botar dinheiro para lá ou para cá, é só colocar o patrimônio das empresas na "holding".

Folha - É fundamental para a fusão apoio oficial, via BNDES?
Canhedo
- O dinheiro do governo na indústria será bem-vindo, lógico, mas é necessário que a gente faça uma reformulação para fazer economia acentuada, capaz de viabilizar as companhias.

Folha - Como o sr. vê a proposta de "céus abertos"?
Canhedo
- Não tem fundamento nenhum, absolutamente. Os EUA querem "céus abertos" para todo mundo, menos para eles.
O que precisa é, aí sim, haver "céus abertos" para as companhias brasileiras, com uma ampla desregulamentação do setor. Cada um voa para onde pode, com o equipamento que tem. E precisa ser o mais rapidamente possível.

Folha - Que tal a idéia de "aviação de cabotagem"?
Canhedo
- Se isso viesse a ocorrer, seria o fim da aviação comercial no Brasil. Precisamos de empresas que cuidem do mercado como um todo. Não empresas que dão uma bicada nos melhores horários e vão embora, deixando o passageiro ao relento.

Folha - E as tarifas?
Canhedo
- O governo tem que desregulamentar já. Temos que ter liberdade para flexibilizar a tarifa para cima e para baixo. Os executivos têm necessidade de voar nos horários de pico, e as suas empresas vão ter que pagar uma tarifa real. Nos demais horários, nós temos que dar oportunidade ao turista, ao aposentado, à família, de voar mais barato.

Folha - O sr. é a favor do aumento do limite de participação do capital estrangeiro nas companhias aéreas?
Canhedo
- Sinceramente, acho que não deveria existir limitação nenhuma. Para quê?

Folha - Dizem no mercado que a Vasp tem a pior situação financeira entre as quatro. É verdade?
Canhedo
- É exatamente o contrário. Nós temos um imobilizado em torno de US$ 1,5 bilhão, o dobro do que tem a maior companhia brasileira, a Varig.


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