São Paulo, quinta-feira, 31 de outubro de 2002

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TRANSE

Desde março instituição não conseguia renovação integral; moeda dos EUA recua 2,6% para R$ 3,72, e risco cai 5,8%

BC surpreende e rola dívida; dólar desaba

João Paulo/Futura Press
Operadores no pregão da BM&F, em SP; mercado vê em rolagem sinal de trégua do investidor ao PT


ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Banco Central completou ontem a rolagem integral de US$ 2 bilhões de dívida pública atrelada ao câmbio que vencem amanhã.
A conclusão da operação animou os mercados e foi interpretada como um sinal de trégua dado pelos investidores ao PT.
As primeiras sinalizações e nomes do futuro governo do partido estão agradando aos investidores. Desde março o BC não conseguia renovar a totalidade de papéis nos dias de vencimento dos contratos.
O dólar caiu 2,6%, para R$ 3,72, menor valor desde 4 de outubro. A Bovespa subiu 4,87% e voltou aos 10 mil pontos. O risco-país, calculado pelo JP Morgan, caiu 5,8%, para os 1.797 pontos.
O vencimento de amanhã foi resultado de dificuldades do BC em rolar grandes vencimentos de dívida pública atrelada ao dólar neste mês -cerca de US$ 6 bilhões.
Com o mercado nervoso e pedindo taxas muito altas, devido à indefinição do cenário político, o BC só conseguiu colocar "swaps" cambiais de curtíssimo prazo.
Houve três dias de vencimento, 1º, 16 e 23, e as rolagens concluídas foram para 1º de novembro. Como o mercado pediu taxas superiores a 50%, o BC acreditava que, definido o novo presidente, conseguiria recolocar as operações a juros menores. A autoridade monetária não divulgou as taxas por classificá-las como distorcidas, devido ao curto prazo. Mas, segundo operadores, elas teriam sido menores, ontem e anteontem - a rolagem do vencimento de amanhã começou terça-feira.
Em inglês, "swap" significa troca. Na prática, o BC, de um lado, se compromete a pagar ao investidor toda a variação do câmbio ocorrida em determinado período. Do outro lado, o investidor paga ao BC os juros acumulados neste mesmo período.
O BC não concluía uma rolagem integral desde março, seja por falta de demanda ou pelos altos juros pedidos pelo mercado.
Como havia muitas incertezas sobre quem venceria a eleição e sobre como seria um governo petista, os investidores dispensavam o "swap", que é uma forma de proteção cambial. Preferiam ter os dólares em mãos a fazer operações para se proteger de possíveis mudanças bruscas na cotação, até então incalculáveis. A procura por dólares superou tanto a oferta que a moeda chegou a R$ 3,99, em 10 de outubro.
A pressão sobre o dólar também vinha da proximidade dos vencimentos das dívidas. Como o BC não as renovava integralmente, os detentores dos papéis tentavam influenciar o dólar, numa tentativa de elevar seus ganhos.
A maior parte da rolagem de ontem foi concluída para o curto prazo -dezembro: "Até lá, já teremos, provavelmente, os nomes de quem dirigirá o BC e a Fazenda", diz Wilson Ramião, do Lloyds TSB. "Se agradarem ao mercado, bem como o andamento desse período de transição, as condições de renovação dos papéis podem ser mais favoráveis."


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