São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2004

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Bebida substitui vinho em pub inglês para acompanhar prato

DO "INDEPENDENT"

É hora do almoço no White Horse, em Parsons Green, zona oeste de Londres, e os polidos freqüentadores dominicais atacam seus filés servidos com polenta. Nos copos de cristal alemão posicionados ao lado dos pratos, brilha um líquido encorpado que combina perfeitamente com o sabor enevoado, crestado, da carne.
Os fregueses seguiram a recomendação do cardápio e optaram por uma garrafa de Fuller's 1845, uma cerveja de malte, de um tom âmbar, produzida em Chiswick, uma cidade vizinha. A bebida tem teor alcoólico de 6,3%. A multidão de aparência satisfeita que lota o pub no almoço é parte do crescente grupo de devotos da boa comida que optam por cerveja, em lugar de vinho, como acompanhamento das refeições.
Ao propor combinações sensatas entre pratos e a bebida, os pubs e os fabricantes de cerveja britânicos estão ajudando a aumentar o mercado de cervejas de qualidade, que no ano passado registrou alta de 20% em suas vendas, maior em quase três vezes o crescimento nas vendas de vinho.
Neil Dorber é gerente do pub White Horse. Ele diz que acompanhar alimentos com cerveja é uma idéia cuja hora enfim chegou, em meio ao florescimento da cultura gastronômica britânica.
"No Reino Unido, discutimos cervejas lager e bitter como se fossem os dois pólos do produto e não existissem variantes entre elas. Mas isso é tolice. Os sabores não têm equivalente no mundo do vinho, e funcionam espetacularmente bem com certas variedades de alimentos. Quando o vinho é colocado na parada, não consegue competir."
Com zelo, a equipe do bar orienta os clientes a escolher uma cerveja que combine bem com sua refeição. Cada consumidor conquistado para a idéia é comemorado com um adesivo de garrafa de cerveja colado ao bar. São centenas de casos de sucesso.
Uma rápida pesquisa no cardápio revela que existe uma cerveja para quase todas as opções de comida concebíveis, do salmão defumado aos ovos mexidos experimente uma garrafa de 500 ml de Schneider Weisse, cerveja de trigo da Baviera, passando por um litro de Harvey's Sussex Bitter como acompanhamento ideal para o bacalhau, temperado com cerveja e frito em óleo de amendoim.

Cerveja e comida
Para cimentar esse desempenho fenomenal, a "Campanha para a Real Ale" (Camra) escolheu 2004 como ano oficial da união cerveja e comida. Na opinião de Louise Ashworth, gerente de marketing do projeto, há uma surpreendente disposição de substituir a garrafa de vinho por uma garrafa de cerveja à mesa. A campanha tem 73 mil membros, e a ela é atribuído o crédito de salvar os produtores independentes de cerveja, desde que foi criada, em 1971, para combater o avanço da cerveja "bitter" em barril.
Uma marca de seu sucesso é que nos 50 anos anteriores à criação da Camra, nenhuma cervejaria foi criada no país. Hoje, existem mais de 300 empresas novas no setor.
Ashworth diz que "a cerveja real é uma resposta ao fenômeno da clonagem sob o qual todos os pubs se tornam parecidos e servem a mesma cerveja sem gosto. É uma resposta das pessoas que querem produtos regionais".
As grandes cervejarias demoraram a perceber o potencial de promoção da cerveja como acompanhamento para a comida. Preferiram promover as lagers, mais fáceis de produzir e dependentes de técnicas de produção rápida.

Supermercados
Os supermercados vêm treinando funcionários para recomendar cervejas que complementem as compras dos clientes. Na rede Tesco, a cerveja mais vendida é a Greene King's Beer to Dine For, que tipicamente acompanha alimentos apimentados e camarões. Mas resta um longo caminho a percorrer, admite Neil Dorber. No momento, apenas 7% das cervejas vendidas podem ser descritas como "marcas de qualidade".
Fontes no setor de cervejas acreditam que o mercado de cerveja em barril esteja sendo subestimado, em talvez até 17%.
Os fãs admitem que talvez demore até 15 anos para a cerveja desafiar o vinho como bebida para acompanhar jantares.
Dorber acredita que os atrativos da cerveja sejam claros. "O elemento comum é o fermento, e as cervejarias vêm desenvolvendo a técnica há séculos. Mas a melhor coisa quanto à cerveja é que, por ser mais fraca que o vinho, permite que o consumidor beba mais."


Tradução de Paulo Migliacci


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