São Paulo, quarta-feira, 31 de outubro de 2007

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Perdigão compra Eleva por até R$ 1,7 bi

Negócio cria maior empresa brasileira de alimentos, à frente da Sadia e com valor de mercado de R$ 9,4 bi; Cade precisará aprovar

Companhia também será líder na produção de frangos e a segunda maior do setor de leites, atrás apenas da Nestlé

CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Perdigão anuncia hoje, com a compra da Eleva, antiga Avipal, a criação da maior empresa brasileira de alimentos. A Perdigão pagará até R$ 1,7 bilhão pela empresa.
De acordo com o fato relevante distribuído na noite de ontem, a Perdigão comprará 35,74% das ações de controle da Eleva por R$ 598 milhões. Também haverá troca de ações entre as duas empresas, e a Eleva se tornará uma subsidiária da Perdigão, que passará a deter 41,57% do capital votante.
Para financiar a compra dos papéis da Eleva que serão pagos em dinheiro, a Perdigão fará uma oferta primária de ações, já aprovada por seu conselho de administração. O controlador da Eleva é Shan Ban Chun, que ocupa o cargo de presidente do conselho e detém 61,54% dos papéis da empresa.
Após o pagamento das ações dos controladores, a Perdigão fará uma oferta pública pelos papéis dos acionistas minoritários da Eleva, pelo mesmo preço desembolsado para os majoritários, de R$ 25,81. Ontem, as ações da Eleva fecharam em queda de 0,04% na Bolsa, cotadas a R$ 22,99.
Segundo as empresas, a operação permitirá sinergias financeiras, operacionais e comerciais. Também gerará benefícios fiscais, gerados pela amortização do ágio da aquisição. "As companhias têm similaridades de negócios, diluirão custos fixos e ganharão escala", afirmou o analista Renato Prado, do Banco Fator.
O negócio, entretanto, será submetido ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Isso porque, com a aquisição, será formada uma empresa com valor de mercado aproximado de R$ 9,4 bilhões. Ontem, a Sadia, que até então era a maior empresa de alimentos nacional, valia R$ 7,7 bilhões na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo).
Somados, os faturamentos de Perdigão e Eleva atingiram R$ 7,1 bilhões em 2006. Já a Sadia teve receita de R$ 6,8 bilhões no ano passado.
A empresa também nasce líder na produção de frangos e torna-se a segunda maior do setor de leites, atrás apenas da Nestlé. Em seu portfólio estão as marcas Batavo, Elegê e Santa Rosa, líder no mercado de queijos prato e mussarela.
A arrancada da Perdigão foi uma resposta à Sadia, que, em julho do ano passado, tentou comprá-la por meio de uma oferta hostil: ofereceu R$ 3,7 bilhões pelo controle, valor 35% superior ao que as ações da Perdigão valiam em Bolsa.
Após a proposta recusada pelos fundos de pensão que a controlam, a Perdigão capitalizou-se com R$ 800 milhões e foi às compras. Arrematou as fabricantes de lácteos Batávia e Fruitier, a processadora de carnes holandesa Plusfood, o frigorífico Unifrigo e as margarinas da Unilever.
A perda da liderança incomodou a Sadia, dizem pessoas próximas à empresa. Na última divulgação do balanço, entretanto, a empresa procurou não demonstrar preocupação.
"A estratégia da Sadia não é comprar faturamento", afirmou Gilberto Tomazoni, presidente da Sadia. "Isso não quer dizer que não faremos aquisições: vamos fazê-las quando elas tiverem a ver com nosso negócio principal. Os ativos que temos olhado estão muito valorizados."
A valorização é real. Se a Sadia fosse fazer uma oferta pela Perdigão hoje, não desembolsaria menos de R$ 8 bilhões.
Segundo Tomazoni, a estratégia da Sadia é crescer por meio de investimentos. Em 2008, as fábricas na Rússia, em Pernambuco e em Mato Grosso aumentarão as receitas da empresa em mais de R$ 1,5 bilhão. O plano anunciado da Sadia é dobrar de tamanho, beirando os R$ 8 bilhões em cinco anos.

Aves
Com a Eleva, a Perdigão ultrapassa a concorrência na produção de aves. Segundo ranking da UBA (União Brasileira de Avicultura), a Perdigão abateu, em 2006, 530 milhões de aves. A Eleva, quinta maior do setor, 174 milhões. Juntas, elas produziram 704 milhões de aves, 9% a mais do que a Sadia.
Com relação às exportações, no entanto, a Perdigão continuará atrás da Sadia, já que o volume em toneladas da Perdigão/Eleva vendido ao exterior, em 2006, foi de 24% das exportações brasileiras de aves, enquanto os embarques da Sadia representaram 26% do total.
Apesar de as duas produzirem mais de 25% dos 5,2 milhões de toneladas de frango consumidas no país, pouco mais de 1,5% leva a marca Perdigão, e 0,5%, a da Sadia. As empresas têm preferido vender alimentos processados, mais caros e menos perecíveis.


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