São Paulo, segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Recursos represados no BC chegam a R$ 1 bi

DA REPORTAGEM LOCAL

Criado com alarde pelo governo Lula em agosto de 2003, a Lei do Microcrédito não consegue fazer com que os bancos comerciais emprestem a metade de um dinheiro captado com taxa de juro simbólica para pessoas de baixa renda, geralmente pequenos empreendedores do mercado informal.
Hoje, os bancos preferem deixar R$ 1 bilhão parado no Banco Central, sem qualquer remuneração, a fazer empréstimos de pequenos valores, geralmente entre R$ 500 e R$ 2.000, para a população desbancarizada, que não consegue comprovar renda.
A Lei do Microcrédito direcionou 2% dos depósitos à vista para empréstimos de pequenos valores com juros tabelados entre 2% e 4% ao mês. No final de dezembro, esse direcionamento colocava R$ 2,098 bilhões disponíveis para o microcrédito, mas só foi emprestado R$ 1,098 bilhão. O R$ 1 bilhão que não virou microcrédito se somou aos R$ 47,205 bilhões dos 45% de depósito compulsório à vista -elevando o recolhimento para 46%. Uma das práticas mais condenadas no mundo financeiro, o compulsório é a parcela dos depósitos que os bancos são obrigados a recolher no BC para não estimular a inflação. Na maior parte do mundo, o depósito compulsório fica em cerca de 10%.
Os bancos afirmam que o microcrédito é uma operação complexa, com custos administrativos elevados e que envolve um alto risco de inadimplência.
A instituição financeira que não consegue destinar 2% dos seus depósitos para o microcrédito pode vendê-los a outros bancos. O maior comprador é o Banco do Nordeste, que não consegue absorver todo o dinheiro disponível.
Bem administrado, porém, o microcrédito tem potencial para se tornar um dos melhores negócios bancários do mundo: envolve a captação de dinheiro com custo de 0% a 4% ao ano para empréstimo com juros de 26,82% a 60,1% ao ano -2% a 4% ao mês. Ou seja, envolve o que os bancos chamam de "spread" (diferença entre taxa captada e repassada) de até 60 pontos percentuais, enquanto a média nacional para pessoa física é de 33 pontos -uma das maiores do mundo. O negócio é tão bom que atraiu o interesse de estrangeiros, como os mexicanos do Banco Azteca.
Para Gilson Bittencourt, assessor especial do Ministério da Fazenda, o microcrédito avança devagar, mas com sustentabilidade. "Não tenho a ilusão de que amanhã o microcrédito vai dobrar, mas abre-se um horizonte de crescimento sustentável. O microcrédito vai crescer com a maturidade do mercado", afirmou.


Texto Anterior: Folhainvest
Bancos resistem a adotar o microcrédito

Próximo Texto: Em favela, clientes só obtêm financiamento se for em grupo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.