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Recursos represados no BC chegam a R$ 1 bi
DA REPORTAGEM LOCAL
Criado com alarde pelo governo Lula em agosto de 2003,
a Lei do Microcrédito não consegue fazer com que os bancos
comerciais emprestem a metade de um dinheiro captado com
taxa de juro simbólica para pessoas de baixa renda, geralmente pequenos empreendedores
do mercado informal.
Hoje, os bancos preferem
deixar R$ 1 bilhão parado no
Banco Central, sem qualquer
remuneração, a fazer empréstimos de pequenos valores, geralmente entre R$ 500 e R$
2.000, para a população desbancarizada, que não consegue
comprovar renda.
A Lei do Microcrédito direcionou 2% dos depósitos à vista
para empréstimos de pequenos
valores com juros tabelados entre 2% e 4% ao mês. No final de
dezembro, esse direcionamento colocava R$ 2,098 bilhões
disponíveis para o microcrédito, mas só foi emprestado R$
1,098 bilhão. O R$ 1 bilhão que
não virou microcrédito se somou aos R$ 47,205 bilhões dos
45% de depósito compulsório à
vista -elevando o recolhimento para 46%. Uma das práticas
mais condenadas no mundo financeiro, o compulsório é a
parcela dos depósitos que os
bancos são obrigados a recolher no BC para não estimular a
inflação. Na maior parte do
mundo, o depósito compulsório fica em cerca de 10%.
Os bancos afirmam que o microcrédito é uma operação
complexa, com custos administrativos elevados e que envolve
um alto risco de inadimplência.
A instituição financeira que
não consegue destinar 2% dos
seus depósitos para o microcrédito pode vendê-los a outros
bancos. O maior comprador é o
Banco do Nordeste, que não
consegue absorver todo o dinheiro disponível.
Bem administrado, porém, o
microcrédito tem potencial para se tornar um dos melhores
negócios bancários do mundo:
envolve a captação de dinheiro
com custo de 0% a 4% ao ano
para empréstimo com juros de
26,82% a 60,1% ao ano -2% a
4% ao mês. Ou seja, envolve o
que os bancos chamam de
"spread" (diferença entre taxa
captada e repassada) de até 60
pontos percentuais, enquanto a
média nacional para pessoa física é de 33 pontos -uma das
maiores do mundo. O negócio é
tão bom que atraiu o interesse
de estrangeiros, como os mexicanos do Banco Azteca.
Para Gilson Bittencourt, assessor especial do Ministério
da Fazenda, o microcrédito
avança devagar, mas com sustentabilidade. "Não tenho a ilusão de que amanhã o microcrédito vai dobrar, mas abre-se um
horizonte de crescimento sustentável. O microcrédito vai
crescer com a maturidade do
mercado", afirmou.
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