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São Paulo, domingo, 02 de novembro de 2003

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LIÇÕES DE GESTÃO - NOVOS RUMOS

Após década repleta de variados modismos gerenciais, bom senso entra na ordem do dia de executivos

Teorias caminham para a racionalidade

JULIANA GARÇON
FREE LANCE PARA A FOLHA

Há exatos cem anos, o norte-americano Henry Ford (1863-1947) fundou a Ford Motor Company e revolucionou a indústria ao pôr em prática os conceitos de automação e de linhas de montagem, hoje bastante disseminados.
Desde então, a cabeça dos executivos de todo o mundo não parou mais de ser bombardeada por novas teorias e métodos administrativos que prometem comparável avanço. Na última década, em especial, consultorias, escolas e revistas de negócios se multiplicaram sob as ondas de "downsizing", "outsourcing", "mentoring", "empowerment" e outras.
Depois da explosão teórica, a reflexão. Para os estudiosos da administração, os próximos anos serão dominados por tendências singelas. Entre elas, alçar a gestão de pessoas ao nível estratégico (leia à pág. 6) e exercitar o bom senso antes de aderir a novidades.
"Não há "a melhor prática". O que as pessoas fazem deve ser a coisa certa para suas empresas em um momento específico", raciocina o pesquisador Robert Heller, 70. Em seu último livro, "Fusion Manager" (ainda sem tradução para o português), ele defende que, para sobreviver no século 21, o administrador precisará fazer escolhas difíceis constantemente.
Especialistas brasileiros concordam. "É difícil aplicar qualquer coisa sem árdua adaptação", diz Agrícola Bethlem, 75, professor emérito de estratégia na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Efeitos pirotécnicos
Décio Zylbersztajn, 49, da Faculdade de Economia e Administração da USP (Universidade de São Paulo), também expressa preocupação com teorias adotadas entusiasticamente. "A terceirização, por exemplo, envolveu grandes equívocos. Está na literatura há anos. Só ganhou outro nome e foi tratada como novidade."
Nunca se viu tantas modas gerenciais como nos anos 90, assegura Thomaz Wood Jr., 43, professor de pós-graduação da FGV-Eaesp (Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas). A explicação pode estar no fato de a globalização ter aumentado a sensação de instabilidade nas empresas, o que levou executivos a procurarem fórmulas de apoio.
"Daí se desenvolveu a "indústria do management", com baixa consistência e baseada em efeitos pirotécnicos", completa Wood Jr. Para Bethlem, da UFRJ, "o erro [de quem segue modismos] é o "pensamento grupal': tentar se adequar à opinião dos outros".
Carlos Feitosa, 34, engenheiro responsável por mudanças gerenciais nas 31 unidades latino-americanas da Alcoa, diz que a empresa se baseou no toyotismo. "Não descartamos o que havia de bom nas práticas clássicas."


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