São Paulo, domingo, 03 de outubro de 2004

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INCLUSÃO

Programa do Hospital das Clínicas recoloca no mercado portadores de esquizofrenia

Ambiente de trabalho auxilia tratamento

Fernando Moraes/Folha Imagem
O empresário Artur Der Haroutiounian, da Fofa Shop, acabou contratando ex-estagiário do ReAção


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Resultados iniciais do programa ReAção, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo), mostram que pacientes portadores de sofrimento mental apresentam melhora em seu quadro clínico quando se sentem úteis e convivem com os colegas em um ambiente de trabalho.
O programa, inédito no país, possibilita a recolocação no mercado de trabalho de pacientes com diagnóstico de esquizofrenia, acompanhando detalhadamente sua evolução.
A reinserção ocupacional é a etapa final do processo de reabilitação. Até o final de 2005, serão 30 os pacientes envolvidos, todos em estado controlado da doença.
A esquizofrenia apresenta dois grupos de sintomas. O primeiro, chamado pelos médicos de sinais "positivos" (ou psicóticos), reúne os indícios mais conhecidos e relacionados às crises, como ter alucinações e se sentir perseguido. São problemas tratados de forma eficiente com medicação.
O segundo grupo, o dos sinais "negativos" (considerados menos evidentes), é formado por sintomas como déficits de atenção, de socialização e de memória.
A conclusão dos psiquiatras envolvidos no programa é a de que a reinclusão profissional acompanhada auxilia no tratamento dos sintomas "negativos", que não são completamente tratados com remédios. Para pacientes que já não apresentam os sintomas psicóticos, é uma chance de se aproximar de uma rotina normal.
Seis pacientes passaram pelos primeiros seis meses do programa. Após uma análise qualitativa, as conclusões iniciais foram animadoras. "Eles apresentam uma melhora muito grande na sua satisfação e na auto-estima", afirma o médico Hildeberto Tavares Júnior, do Instituto de Psiquiatria do HC-USP. O retorno dado pelas famílias dos pacientes também foi estimulante: houve visíveis ganhos de sociabilidade.

Avaliação
As vagas ocupadas pelos pacientes são de estágio de seis meses e são fruto de parcerias do HC-USP com pequenas empresas.
Dos 6 pacientes que já concluíram o programa, 2 receberam propostas de contratação após o período de estágio. Quatro deles nunca haviam trabalhado.
Os pacientes são remunerados com uma bolsa mensal. A verba vem do acordo de financiamento firmado com a indústria farmacêutica Bristol-Myers Squibb.
O HC-USP não permitiu que a reportagem entrevistasse pacientes envolvidos no programa.
(BRUNO LIMA)


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