São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 2007

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TRANSTORNOS MENTAIS

Na indústria têxtil e no transporte terrestre, incidência de depressão é duas vezes maior

Doença mental afasta 100 mil por ano

Xu Congjun/AP
Trabalhadores da indústria têxtil estão entre os com maior incidência de distúrbios mentais


DA REPORTAGEM LOCAL

"Para o banco eu não quero voltar nunca mais." A determinação do bancário Rodrigo (nome fictício), afastado há três meses da empresa, em não retornar ao ambiente de trabalho revela parte do sofrimento que ele vivia na atividade.
Sofrendo de depressão -a doença mental que mais incapacita trabalhadores-, ele diz que nunca pensou que um dia teria de se afastar da atividade na empresa devido à doença.
"Eu criticava todo mundo que dizia tê-la; achei que a doença não existia. Mas a gente se estressa muito e acaba não tendo reconhecimento. De repente, eu estava sem vontade de fazer as coisas", conta ele.
Ameaçado durante o período de licença médica pelo gerente administrativo da unidade em que trabalhava, Rodrigo diz que sabe que será demitido assim que retornar. "Estou sendo tratado como alguém que está fazendo algo errado", denuncia.
Rodrigo é um dos cerca de 100 mil trabalhadores que precisam se afastar do trabalho a cada ano devido a problemas relacionados à saúde mental. Dentre os auxílios-doença concedidos em 2004, 9,8% foram por doenças mentais.
Esse contingente, porém, é apenas a ponta de um grande iceberg. Segundo a professora da UnB Anadergh Barbosa-Branco, em geral, "o afastamento só acontece quando não é mais possível trabalhar".

Indústria têxtil
Levantamento inédito feito pela pesquisadora aponta os setores econômicos mais afetados pelos transtornos mentais (leia mais no texto abaixo).
Por exemplo, o grupo que apresenta maior prevalência em relação a distúrbios do humor é o de trabalhadores da indústria têxtil. A incidência sobre eles é de 53,57 benefícios para cada 10 mil trabalhadores. A média brasileira é de 22,29.
Para a professora Rosana Onocko Campos, do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), a fragmentação da produção, a falta de sentido no trabalho, o aumento da concorrência e os novos ritmos de produção são fatores propícios ao aparecimento de enfermidades.
"Antigamente, as pessoas tinham outras atividades fora do trabalho. Hoje, além dessas condições, vivem sós. Isso é um agravante", afirma Campos.
O sofrimento mental, em geral, é silencioso, e o quadro depressivo pode levar meses para se manifestar. "O trabalhador não presume estar doente. Ainda existe um estigma muito grande", diz Barbosa-Branco.
Por isso, ao identificar alguma doença que o incapacite para a atividade exercida, o profissional deve recorrer a um médico, para que ele possa caracterizar a incapacidade.
Com o laudo, o passo seguinte é passar por perícia médica, que determinará ou não a ligação da doença com o trabalho.


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