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TRANSTORNOS MENTAIS
Na indústria têxtil e no transporte terrestre, incidência de depressão é duas vezes maior
Doença mental afasta 100 mil por ano
Xu Congjun/AP
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Trabalhadores da indústria têxtil estão entre os com maior incidência de distúrbios mentais |
DA REPORTAGEM LOCAL
"Para o banco eu não quero
voltar nunca mais." A determinação do bancário Rodrigo
(nome fictício), afastado há três
meses da empresa, em não
retornar ao ambiente de trabalho revela parte do sofrimento
que ele vivia na atividade.
Sofrendo de depressão -a
doença mental que mais incapacita trabalhadores-, ele diz
que nunca pensou que um dia
teria de se afastar da atividade
na empresa devido à doença.
"Eu criticava todo mundo
que dizia tê-la; achei que a
doença não existia. Mas a gente
se estressa muito e acaba não
tendo reconhecimento. De repente, eu estava sem vontade
de fazer as coisas", conta ele.
Ameaçado durante o período
de licença médica pelo gerente
administrativo da unidade em
que trabalhava, Rodrigo diz que
sabe que será demitido assim
que retornar. "Estou sendo tratado como alguém que está fazendo algo errado", denuncia.
Rodrigo é um dos cerca de
100 mil trabalhadores que precisam se afastar do trabalho a
cada ano devido a problemas
relacionados à saúde mental.
Dentre os auxílios-doença concedidos em 2004, 9,8% foram
por doenças mentais.
Esse contingente, porém, é
apenas a ponta de um grande
iceberg. Segundo a professora
da UnB Anadergh Barbosa-Branco, em geral, "o afastamento só acontece quando não
é mais possível trabalhar".
Indústria têxtil
Levantamento inédito feito
pela pesquisadora aponta os
setores econômicos mais afetados pelos transtornos mentais
(leia mais no texto abaixo).
Por exemplo, o grupo que
apresenta maior prevalência
em relação a distúrbios do humor é o de trabalhadores da indústria têxtil. A incidência sobre eles é de 53,57 benefícios
para cada 10 mil trabalhadores.
A média brasileira é de 22,29.
Para a professora Rosana
Onocko Campos, do Departamento de Medicina Preventiva
e Social da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas),
a fragmentação da produção, a
falta de sentido no trabalho, o
aumento da concorrência e os
novos ritmos de produção são
fatores propícios ao aparecimento de enfermidades.
"Antigamente, as pessoas tinham outras atividades fora do
trabalho. Hoje, além dessas
condições, vivem sós. Isso é um
agravante", afirma Campos.
O sofrimento mental, em geral, é silencioso, e o quadro depressivo pode levar meses para
se manifestar. "O trabalhador
não presume estar doente. Ainda existe um estigma muito
grande", diz Barbosa-Branco.
Por isso, ao identificar alguma doença que o incapacite para a atividade exercida, o profissional deve recorrer a um
médico, para que ele possa caracterizar a incapacidade.
Com o laudo, o passo seguinte é passar por perícia médica,
que determinará ou não a ligação da doença com o trabalho.
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