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São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2003

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CARREIRA NOS PALCOS

Em meio às dificuldades econômicas, cenário muda com retomada dos grupos e da dramaturgia

Teatro de SP passa por fase de transição

Fernando Moraes/Folha Imagem
O ator paranaense Ivam Cabral, 35, que abandonou seu emprego de operador da Bolsa de Valores para se dedicar apenas ao teatro


PEDRO IVO DUBRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Nos últimos anos, o palco paulistano vem experimentando transformações. Voltou a florescer o chamado teatro de grupo, conjunto estável de artistas com afinidades comuns. Ao mesmo tempo, dramaturgos têm conseguido, como de há muito não se via, tirar os seus textos das gavetas e vê-los, enfim, encenados.
Curiosamente, as mudanças surgem em mais um momento de crise, com queda de até 40% na venda de ingressos em relação a 2002. Mas as dificuldades não abarcam só um sentido econômico, têm a ver com a mudança da própria identidade da atividade.
Firmam-se, ao lado de um teatro "alternativo" às grandes produções, nichos como o teatro para estudantes, o teatro-empresa ou o de cunho religioso. Em paralelo, leis de renúncia fiscal e de investimento público direto ajudam a viabilizar novas montagens.
Nesse cenário modificado, visto com otimismo por muitos, como fica o "emprego" no mercado de trabalho teatral? É preciso, primeiro, esclarecer que o termo talvez não seja o mais correto. O expediente, o salário, as horas fixas e as relações usuais de trabalho não são muito costumeiros. O profissional deve se preparar para períodos de inatividade (ou de ensaios e pesquisas) mesmo em grupos de trabalho perene.
Atores, dramaturgos e diretores, cenógrafos, iluminadores e figurinistas precisam muitas vezes desenvolver atividades paralelas para sobreviver.

Nichos
Achar um público, não só no que diz respeito ao número de cadeiras ocupadas, é um dos dilemas do teatro. A quem se dirigir? Pois há uma vertente de espetáculos que sabe responder à indagação de maneira clara e objetiva.
Teatro para estudantes secundaristas, teatro-empresa, montagens religiosas. Eis alguns possíveis segmentos de atuação, ainda que nenhum deles tenha a irrestrita chancela do meio artístico.
O grupo RIA vem há dez anos fazendo teatro para uma platéia cuja composição abarca 80% de alunos do ensino médio, sequiosos por entrar em contato com as adaptações para o palco dos livros exigidos pelos vestibulares. Segundo o diretor da companhia, José Paulo Rosa, 48, 600 mil pessoas assistiram às peças da trupe em uma década de atividade. "No segundo ano do grupo, descobri esse filão", afirma o encenador.
A experiência de fazer teatro-empresa, modalidade destinada a funcionários de corporações, deu tarimba à atriz e diretora Miriam Rinaldi, 38, hoje integrante do prestigiado Teatro da Vertigem.
"Trabalhei com Calixto Inhamuns, Zécarlos Machado, Aiman Hammoud, Romis Ferreira. Aprendi muito; fazíamos sessões às 7h para trabalhadores que nunca tinham visto teatro."

Nas telas
Protagonizar comerciais pode ser uma boa opção para quem pretende ganhar algum dinheiro com o instável ofício de ator.
Alan Medina do Vale, 22, é um dos que lançam mão do expediente. Enquanto cursa a Escola de Arte Dramática (EAD) em São Paulo, ele trabalha como um dos garotos-propaganda da batata Ruffles há três anos.
"É divertido, pois já tenho um personagem fixo", afirma o artista, que, sem revelar valores ou detalhes do contrato, diz ser possível "viver bem" com os ganhos.
A propaganda do salgadinho foi a primeira e única que Vale realizou. Antes, ensaiou tentativas que não se concretizaram. "Fiz muitos testes até pegar o jeito. As linguagens do teatro e do vídeo são muito diferentes", analisa.


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