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São Paulo, domingo, 15 de junho de 2003

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'EMPREGABILIDADE'

Alta cúpula já não é mais tão segura

Risco de demissão é o maior temor para quase 1/3 dos dirigentes das empresas; recolocação no mercado está mais difícil

Quem ocupa posição na linha de frente das companhias não tem mais aquela aura de profissional "intocável". Pesquisa de maio da consultoria de gestão Booz Allen Hamilton mostra que as demissões dos chamados CEOs (Chief Executive Officers, principais executivos) cresceram cerca de 70% em 2002 em comparação com o ano anterior.
O universo pesquisado não deixa dúvidas de que a instabilidade chegou aos tops: as 2.500 maiores empresas abertas do mundo.
No Brasil, os reflexos já podem ser sentidos. O levantamento do Datafolha aponta que o maior medo dos entrevistados é o de perder o emprego (29%), seguido da possibilidade de fracassar ou de não cumprir metas (12%).
Não é à toa. Pesquisa da DBM, especializada em "outplacement" (recolocação promovida pelas empresas), mostra que o tempo para se reempregar aumentou. Há 15 anos a média era de quatro meses. Nos últimos 12 meses, executivos levaram em média meio ano para conseguir uma vaga.
"Há muita gente competente na rua. Estabilidade transformou-se na capacidade de estar no mercado e produzir resultados", observa Vicky Bloch, 51, presidente para a América Latina da DBM.
A explicação econômica e racional é que as organizações hoje têm de produzir o máximo com o menor número de pessoas possível, em nome da competitividade.
A conjuntura não facilita: há poucos investimentos de peso a longo prazo no mercado global, e as companhias reduziram as suas margens de lucro. As consequências são conhecidas: cortes vêm, e postos deixam de ser criados.
Claro que o temor não atinge o executivo da mesma forma que o profissional sem cargo de liderança, até porque saber lidar com -e sobreviver a- desafios e pressão é pressuposto para a função. Mas especialistas deixam nítido que a época da "fartura" acabou.
"Essa é uma questão mundial e real", afirma Simon Franco, presidente da consultoria TMP World Wide na América Latina.
"Você não consegue dar trabalho para todos, e as crescentes fusões exemplificam isso. Duas curvas se cruzam: a do aumento da força de trabalho e a da redução das vagas, o que gera esse déficit de postos", argumenta Franco.
Luiz Carlos Cabrera, consultor e professor da Eaesp-FGV (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas), levanta outra questão: "O emprego saiu da mão do capital para a do cliente, e a empresa não pode mais dar garantias".

O retorno
Telecomunicações, após a fase das privatizações, é uma das áreas mais difíceis para se recolocar. A de exportação está entre as que oferecem mais oportunidades, dizem os consultores. Mas a máxima desses especialistas continua sendo a de que o profissional de talento não fica sem trabalho.
Seja presidente, seja professor, seja empresário, quem conhece suas competências, sabe seu valor e tem bons relacionamentos não fica parado. "O profissional demitido tem de entender que isso faz parte da dinâmica atual e deve traçar a estratégia para o próximo emprego", afirma Robert Wong, "headhunter" da Korn/Ferry.
(PAULA LAGO)


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