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São Paulo, domingo, 15 de junho de 2003

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'WORKAHOLICS'

Jornada é de dez horas no mínimo

Expedientes prolongados e férias pouco frequentes mostram que a compulsão por trabalho ainda resiste entre os executivos

Na maior parte das empresas, tanto no Brasil como no exterior, convencionou-se dizer que o "workaholism" saiu de moda, que trabalhar além da conta não é mais considerado positivo, pelo contrário, faz mal à saúde. O discurso é bonito, mas ainda não virou realidade.
Segundo Gayle Porter, professora da Rutgers University's School of Business, de Nova Jersey (Estados Unidos), e uma das maiores autoridades em "workaholism" do mundo, essa prática vem, na verdade, crescendo.
"Os executivos de hoje até aceitam a idéia de que existe mais que trabalho na vida. No entanto, na maioria dos países desenvolvidos, o padrão ainda é o de mais e mais horas gastas no emprego. E ele tem aumentado em relação às décadas passadas", afirma Porter.
A tendência é confirmada pelos números da pesquisa Datafolha: 62% dos entrevistados afirmam trabalhar dez horas ou mais por dia, e 76%, mais de oito horas diárias. Só metade (55%) do universo pesquisado tira férias todo ano e, quando o faz, a maioria (69%) costuma ficar somente 15 dias ou menos afastada da empresa.
Para Gayle Porter, o "workaholism" é um vício e está mais ligado às características individuais das pessoas do que propriamente às demandas externas de trabalho. Para ela, o comportamento tem raízes nas mesmas características pessoais dos "outros viciados".
"O traço mais marcante do "workaholic", que o identifica como "viciado", é o fato de o seu comportamento causar problemas significativos, como a deterioração da saúde e o afastamento da família e dos amigos."
Estudo da Isma-Brasil (International Stress Management Association) de 2001 com 756 profissionais em sete capitais brasileiras mostrou que 70% dos pesquisados sofrem de estresse no trabalho. O índice pode parecer alto, mas é semelhante ao de outros países. Nos EUA, 72% sofrem do problema. Na Inglaterra, 70%.

Reféns
O custo do estresse profissional nos países da União Européia chega a 260 bilhões ao ano (R$ 874 bilhões). Os norte-americanos gastam (com licenças, rotatividade de profissionais, ausências no trabalho) cerca de US$ 300 bilhões anuais (R$ 862 bilhões). No Brasil, não há levantamento.
"Resolvemos estudar as causas do estresse e descobrimos que o motivo número um era a tecnologia", afirma Ana Maria Rossi, presidente da Isma no Brasil.
Segundo ela, depender da tecnologia e ficar sua refém em caso de falha era o principal motivo do estresse em 2001. Uma nova pesquisa, feita no ano passado, apontou mudança no maior agente causador, que passou a ser o processo de fusões e enxugamentos nos quadros das companhias.
Outro motivo citado foi o aumento da jornada de trabalho (consequência do enxugamento). De acordo com Rossi, nos anos 80, as pessoas trabalhavam uma média de 40 a 44 horas semanais -número que, nos anos 90, cresceu para 44 a 48 horas. Hoje a tendência é as pessoas gastarem de 50 a 55 horas por semana no trabalho. "E isso vai sair diretamente da qualidade de vida."
(RENATA DE GÁSPARI VALDEJÃO)


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