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São Paulo, domingo, 15 de junho de 2003

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QUALIDADE DE VIDA

Trabalho ainda é rival do bem-estar

Dividida entre obrigações e vida pessoal, metade dos profissiona is se ressente de não ter tempo para família, lazer e saúde

Conciliar trabalho e vida pessoal ainda é um dos maiores desafios do executivo moderno, apesar de todos os avanços das empresas. No universo pesquisado pelo Datafolha, só metade (52%) diz ter tempo suficiente para o lazer. O esporte não faz parte da vida de 42% deles, e 52% têm pouco tempo disponível para passar com a família.
Mas por que é tão difícil conquistar a tão sonhada qualidade de vida? "Os valores do passado já não respondem às necessidades do presente, e o ser humano se perdeu no processo da conquista e do progresso", analisa a professora Vera Lúcia Cavalcanti, da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (Ebape-FGV).
"Nós temos uma bússola, dividida nas nossas várias dimensões (familiar, cultural, espiritual, pessoal, social). O ideal é equilibrá-las, mas não conseguimos elaborar projetos para todas elas."
De acordo com Cavalcanti, as pessoas precisam sair do campo da intenção e entrar no plano do projeto. "Tudo na vida é projeto."
"O homem moderno não existe. Enquanto ele não arranjar um tempo na agenda para si próprio, não vai conseguir nada na vida", afirma o preparador físico Nuno Cobra, para quem, na avalanche da tecnologia, o homem acabou se esquecendo de si mesmo.
Cobra, que orientou Ayrton Senna e Abílio Diniz, entre outros, ministra um MBA para executivos sobre qualidade de vida na USP e é autor do livro "A Semente da Vitória" (ed. Senac).
Segundo ele, para que os profissionais respondam à altura às exigências do mundo executivo de hoje, é necessário que tenham um nível de saúde elevado. "E uma pessoa triste não é saudável", avisa. O "start", segundo ele, tem de ser dado com a respiração, atividade que os profissionais, estressados, deixaram de lado. "Conheci um executivo que "não respirava" havia uns 30 anos", conta.

Ambulatório vazio
Para Cecília Shibuya, presidente da Associação Brasileira de Qualidade de Vida, as empresas já notaram que funcionários motivados dão mais rentabilidade e agora investem em qualidade de vida.
O número de empresas inscritas para o Prêmio Nacional de Qualidade de Vida, por exemplo, tem aumentado. No ano passado, o vencedor geral foi a Roche, que destina US$ 500 mil ao ano a um programa social que inclui qualidade de vida. "A frequência do ambulatório caiu", diz sua coordenadora, Rosicler Rodriguez.
Mais importante que a soma investida, no entanto, é mapear as necessidades dos funcionários, sob pena de as práticas não surtirem efeito, analisa Shibuya.
"Qualidade de vida é questão pessoal, não da empresa", diz Denys Monteiro, vice-presidente da consultoria Fesa. Para ele, falta de tempo é desculpa. "Conheço presidentes de empresas que acordam às 5h para a ginástica."
A Microsoft, no entanto, acredita que a empresa deve dar um "empurrãozinho". Para isso, Cristina Nogueira, diretora de Pequenas e Médias Empresas, idealizou um programa anti-sedentarismo. "Já participamos de maratonas." E alguns dos "atletas", que perderam em média 3 kg, nem tinham tênis antes do programa. (RGV)


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