UOL


São Paulo, domingo, 15 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

REALIZAÇÃO

Maioria diz ser feliz no trabalho

Em certo estágio da carreira, acréscimo na renda e ascensão já não se traduzem em bem-estar, afirmam os especialistas

Desenvolver a habilidade da resiliência (resistência ao choque). Essa é a receita básica do psiquiatra Roberto Shinyashiki para o profissional que busca a felicidade no trabalho. "A felicidade não é a ausência de problemas. Isso é tédio. Felicidade é um grande problema bem administrado", diz Shinyashiki, um dos maiores autores de best-sellers de auto-ajuda, com cerca de 5,6 milhões de livros vendidos.
Segundo ele, algumas pessoas já nascem com essa capacidade, recebem um choque e voltam mais rapidamente ao normal. As outras, porém, precisam de treino.
Shinyashiki, pós-graduado em gestão de negócios (MBA) pela USP, lembra que também é importante o profissional descobrir se realmente tem vocação para o que faz e desenvolver competências (estudar, adquirir conhecimentos). "Não adianta o médico querer abrir um hospital se não sabe administrar", diz.
Se a felicidade não está ligada à falta de problemas, também não tem relação com a remuneração do trabalho. Ao menos é o que dizem as pesquisas dos economistas citados por Eduardo Giannetti em seu livro "Felicidade" (veja texto nesta página). Segundo ele, nos países desenvolvidos, ultrapassada a barreira de um rendimento anual de US$ 10 mil per capita, acréscimos de renda não mais se traduzem em bem-estar.
Ou seja, o nível de felicidade das pessoas aumenta até um determinado nível de renda, após o qual passa-se a valorizar mais outras coisas, como tempo livre e lazer.
De fato, a grande maioria dos entrevistados na pesquisa Datafolha (83%) se disse feliz no trabalho. O motivo para 52% é o fato de fazerem o que gostam, seguido da concretização dos objetivos (9%). O salário e a estabilidade só aparecem em terceiro lugar (8%).
Para Marcelo Mariaca, diretor-presidente da consultoria Mariaca & Associates, o que determina a felicidade do executivo é a falta de clima punitivo. "Tudo o que se sabe sobre liderança indica que um clima agradável motiva as pessoas mais inteligentes", diz.

Voluntariado
Outro fator que costuma ajudar profissionais a se sentir realizados, diz ele, é a atuação em trabalhos voluntários. "O Brasil está se tornando participativo nessa área." No universo pesquisado pelo Datafolha, um terço afirma já participar desse tipo de iniciativa.
Celso Poltronieri Neto, 33, gerente de tecnologia e operações do BankBoston, é um deles. Além de participar do programa interno da empresa (Raly Social), ensina voluntariamente alunos, pais e professores a controlar o orçamento das escolas públicas através do Excel. "Eles aprendem a acompanhar o repasse de dinheiro da prefeitura. Se algo estiver errado, podem até entrar na Justiça", conta. "É um aprendizado de vida, fico muito realizado."
Gustavo Baraldi Ferreira, do Instituto Ethos, diz que, apesar de ter havido um crescimento de oito anos para cá, a iniciativa ainda engatinha. "Algumas empresas têm programas, mas, em alguns casos, é apenas um ou outro executivo que se engaja." (RGV)


Texto Anterior: 88%...
Próximo Texto: Ponto de vista: Felicidade faz sentido econômico
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.