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ENTREVISTA
ROBERT HERBOLD
Todos os empregados podem ter boas idéias
Criatividade deve ser premiada, mas não de maneira individual
Foi ao longo de sua carreira -26 anos na Procter
& Gamble, na área de marketing, e oito na Microsoft, como executivo de operações- que Robert
Herbold, 65, aprendeu a importância da inovação. O fundador da consultoria Herbold Group
foi palestrante no Fórum Mundial de Lucratividade, da HSM, que aconteceu na última semana
em São Paulo. Leia trechos da entrevista concedida à Folha.
(DIOGO BERCITO)
FOLHA - A OMPI (Organização
Mundial de Propriedade Intelectual)
divulgou recentemente uma pesquisa que apontou que o Brasil
registrou apenas 384 patentes
internacionais em 2007, enquanto
os Estados Unidos registraram
52.280. Por que há essa diferença?
ROBERT HERBOLD - Para mim, é
um sinal claro de que o Brasil
não está fazendo pesquisas o
suficiente. Ao se olhar para países que têm sido bem-sucedidos em lançar produtos, como o
Japão ou partes da Europa, vê-se que há maior interesse em
invenções. As patentes são uma
forma de medir a produtividade do esforço em pesquisa.
FOLHA - Qual é a importância de
termos disciplina quando estamos
lidando com inovação?
HERBOLD - Quando se considera a produtividade de uma empresa, há duas partes envolvidas. Há o lucro, que é uma função direta da criatividade e do
nível de inovação, e há o custo,
que tem a ver com o quão eficiente a empresa é.
Numa organização muito focada em eficiência, não haverá
inovação suficiente. Se o caso
for o contrário e todos os funcionários forem criativos, mas
ineficientes, também haverá
problemas, porque o custo será
alto demais. É preciso equilibrar os dois.
FOLHA - Qual é o ingrediente principal quando estamos lidando com
idéias inovadoras?
HERBOLD - Há mais de um
ingrediente. É preciso pensar
nos hábitos do consumidor e
nas tecnologias disponíveis. E
perguntar: para onde a tecnologia está levando o setor? Para
onde estão indo os hábitos dos
consumidores? Como produzir
idéias que possam ser transformadas em produtos? Olhar para esses dois lados é a base da
inovação numa empresa.
FOLHA - De quem se espera que venha a inovação em uma empresa?
De todos os funcionários ou só de
alguns deles?
HERBOLD - Todos têm a oportunidade de contribuir. A Whirlpool [empresa americana de
eletrodomésticos que lidera o
ranking de patentes internacionais registradas no Brasil
em 2007], há cinco anos, começou a perguntar a cada empregado da companhia que sugestões eles tinham para que os
produtos vendessem mais.
A empresa ficou surpresa,
porque recebeu idéias muito
criativas de pessoas que não
tinham nenhuma responsabilidade de ter boas idéias. Não se
deve bloquear idéias com o argumento de que dizem respeito
somente a alguns setores específicos. É preciso ampliar os horizontes.
FOLHA - Há carreiras que exigem
mais idéias inovadoras dos seus profissionais?
HERBOLD - No departamento de
marketing de uma empresa,
há bastante pressão para que se
tenham boas idéias para os
produtos.
Na área de finanças, há criatividade também, mas em outra
dimensão -tem a ver com criar
novas formas de organizar a
empresa, por exemplo. Pode-se
considerar que todos os setores
da empresa têm o seu nível de
criatividade, mas o equilíbrio é
bem diferente para cada um.
FOLHA - Há momentos em que não
é positivo ser inovador?
HERBOLD - Sim, há momentos
em que o objetivo deveria ser
apenas conduzir as coisas de
uma forma simples, como um
pequeno negócio. Poucas empresas pensam assim, principalmente depois que começam
a crescer e tornam-se grandes.
FOLHA - Há riscos na inovação?
HERBOLD - Sim, com certeza. Às
vezes, ser criativo não leva a
lugar nenhum. Pode ser uma
perda de tempo.
FOLHA - Qual é o papel do chefe no
encorajamento da inovação de seus
funcionários? É uma boa idéia oferecer prêmios aos projetos mais inovadores, por exemplo?
HERBOLD - Há casos em que a
cultura da organização mostra
que isso funciona muito bem.
Mas cria-se um problema se começam a dar essas recompensas individualmente, quando,
na verdade, esses funcionários
precisam trabalhar em equipe.
Todo mundo passa a agir sozinho, buscando o prêmio.
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