São Paulo, domingo, 16 de março de 2008

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ENTREVISTA

ROBERT HERBOLD


Todos os empregados podem ter boas idéias

Criatividade deve ser premiada, mas não de maneira individual

Foi ao longo de sua carreira -26 anos na Procter & Gamble, na área de marketing, e oito na Microsoft, como executivo de operações- que Robert Herbold, 65, aprendeu a importância da inovação. O fundador da consultoria Herbold Group foi palestrante no Fórum Mundial de Lucratividade, da HSM, que aconteceu na última semana em São Paulo. Leia trechos da entrevista concedida à Folha. (DIOGO BERCITO)

 

FOLHA - A OMPI (Organização Mundial de Propriedade Intelectual) divulgou recentemente uma pesquisa que apontou que o Brasil registrou apenas 384 patentes internacionais em 2007, enquanto os Estados Unidos registraram 52.280. Por que há essa diferença?
ROBERT HERBOLD
- Para mim, é um sinal claro de que o Brasil não está fazendo pesquisas o suficiente. Ao se olhar para países que têm sido bem-sucedidos em lançar produtos, como o Japão ou partes da Europa, vê-se que há maior interesse em invenções. As patentes são uma forma de medir a produtividade do esforço em pesquisa.

FOLHA - Qual é a importância de termos disciplina quando estamos lidando com inovação?
HERBOLD
- Quando se considera a produtividade de uma empresa, há duas partes envolvidas. Há o lucro, que é uma função direta da criatividade e do nível de inovação, e há o custo, que tem a ver com o quão eficiente a empresa é. Numa organização muito focada em eficiência, não haverá inovação suficiente. Se o caso for o contrário e todos os funcionários forem criativos, mas ineficientes, também haverá problemas, porque o custo será alto demais. É preciso equilibrar os dois.

FOLHA - Qual é o ingrediente principal quando estamos lidando com idéias inovadoras?
HERBOLD
- Há mais de um ingrediente. É preciso pensar nos hábitos do consumidor e nas tecnologias disponíveis. E perguntar: para onde a tecnologia está levando o setor? Para onde estão indo os hábitos dos consumidores? Como produzir idéias que possam ser transformadas em produtos? Olhar para esses dois lados é a base da inovação numa empresa.

FOLHA - De quem se espera que venha a inovação em uma empresa? De todos os funcionários ou só de alguns deles?
HERBOLD
- Todos têm a oportunidade de contribuir. A Whirlpool [empresa americana de eletrodomésticos que lidera o ranking de patentes internacionais registradas no Brasil em 2007], há cinco anos, começou a perguntar a cada empregado da companhia que sugestões eles tinham para que os produtos vendessem mais. A empresa ficou surpresa, porque recebeu idéias muito criativas de pessoas que não tinham nenhuma responsabilidade de ter boas idéias. Não se deve bloquear idéias com o argumento de que dizem respeito somente a alguns setores específicos. É preciso ampliar os horizontes.

FOLHA - Há carreiras que exigem mais idéias inovadoras dos seus profissionais?
HERBOLD
- No departamento de marketing de uma empresa, há bastante pressão para que se tenham boas idéias para os produtos. Na área de finanças, há criatividade também, mas em outra dimensão -tem a ver com criar novas formas de organizar a empresa, por exemplo. Pode-se considerar que todos os setores da empresa têm o seu nível de criatividade, mas o equilíbrio é bem diferente para cada um.

FOLHA - Há momentos em que não é positivo ser inovador?
HERBOLD
- Sim, há momentos em que o objetivo deveria ser apenas conduzir as coisas de uma forma simples, como um pequeno negócio. Poucas empresas pensam assim, principalmente depois que começam a crescer e tornam-se grandes.

FOLHA - Há riscos na inovação?
HERBOLD
- Sim, com certeza. Às vezes, ser criativo não leva a lugar nenhum. Pode ser uma perda de tempo.

FOLHA - Qual é o papel do chefe no encorajamento da inovação de seus funcionários? É uma boa idéia oferecer prêmios aos projetos mais inovadores, por exemplo?
HERBOLD
- Há casos em que a cultura da organização mostra que isso funciona muito bem. Mas cria-se um problema se começam a dar essas recompensas individualmente, quando, na verdade, esses funcionários precisam trabalhar em equipe. Todo mundo passa a agir sozinho, buscando o prêmio.


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